28 outubro 2003

Estórias com mural ao fundo - XIV: País de merda que era aquele!

Esta é uma história absolutamente deliciosa que repesquei do Terravista > Fóruns > Saúde > Saúde & Segurança no Trabalho. Foi escrita pelo Jota Lourenço (também conhecido por JL), em 29/5/2000. Na altura salvei-a do ciberlixo ao guardá-la, provisoriamente, na minha página, numa pequena antologia de citações... O JL era outro cibercidadão que eu gostaria de voltar a (re)encontrar. Lembrei-me dele, desse alentejano do Barreiro, reformado das lides sindicais, animador sociocultural nas horas vagas, neto de ganhão e de anarcossindicalista, a propósito desta história de agora quererem empurrar o ambiente para a agricultura, o mesmo é dizer... para a fileira do eucalipto e para a companhia da celulose. Na altura o JL estava indignado com a triste história da incineração... O resto da intervenção ainda pode ser lida em (Ex)citações de cada dia (Letras O-R) > Portugal. Protugeses.



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(...) Um país que não consegue resolver como tratar a merda que todos os dias caga, é um país sem futuro, é um país de merda ! ... Eu estou como aquele gajo que ia pela Av da Liberdade acima, a ler o Diário de Notícias (a primeira página tinha um título de caixa com um destaque do último discurso de Salazar: Para Angola, rapidamente e em força!). O homem comentava em voz alta:



- Que país de merda!...



Estávamos nos anos 60, como imaginam! Um Pide (ainda se lembram o que era a Pide ?, já não se lembram!) que vinha atrás do fulano, ouviu o insulto e deu-lhe ordem de prisão:



- Preso, eu ? , retorquiu o ruidoso cidadão.



- Pois, está a insultar a Pátria e o Governo da Nação!, respondeu o Pide.



- Ó senhor agente, não tire conclusões apressadas. P'ra já, eu sou da situação, não sou do reviralho... E depois estou a ler esta notícia de três linhas sobre Cuba, aqui no canto inferior direito. Imagine quem lá manda agora... um tal barbudo de nome Fidel Castro. Ao que isto chegou!



- Ah!, tá bem, se é assim, tá bém... Siga o seu caminho!



Passados cinco minutos, o Pide que tinha reflexos lentos, voltou a abordar o fulano do jornal e, desta vez, intimou-o, com modos mais violentos:



- Venha comigo!, temos muito que conversar na António Maria Cardoso (lembram-se ?, era a sede da Pide, para os lado do Chiado). Eu 'tive cá a pensar, a pensar, e o tal país de merda só pode ser... o nosso!



Jota Lourenço

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Moral da história: Felizmente que o Pide afinal não tinha razão! Os portugas acabaram por provar, anos mais tarde, que não eram nenhuns merdosos...

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