18 outubro 2003

Portugal sacro-profano - VII: A Lição de Salazar

O meu amigo Jorge Dupret fez-me chegar de Luanda alguns excertos de redacções de um Curso de Educação de Adultos, publicados originalmente no saudoso Diário de Lisboa, na sua edição de 1 de Novembro de 1963. Também encontrei, na Net, alguns desses excertos, divulgados na página de O Castanheirense, na rubrica "Rir dá Saúde"...



Eu sugiro que chamemos a esta peça antológica A Lição de Salazar, o dirigente político (lembram-se ?!) que achava que o portuga, na escola, não devia aprender mais do que ler, escrever e contar... Se o Professor Doutor Salazar ainda hoje fosse vivo e fosse a exame, seria ele certamente quem chumbaria, e não os pobres portugas que tiveram que aprender, tarde na vida, a dominar a língua materna...



SALAZAR



O Salazar fez estradas, fez pontes e até fez a minha professora. É um gajo porreiro!



A MINHA CASA



Gosto muito da minha casa, pois é lá que vivo com a minha patroa e é lá que fiz os meus filhos. Assim que saio do meu trabalho, vou logo para casa. O operário de hoje já não vai para a taberna embebedar-se e dar-se com esses gajos depois quando chigavam a casa davam porrada nas mulheres e se calhavam fazerem filhos nessa altura vinham doentes.



A PÁTRIA



A Pátria é a terra onde criam os nossos pais, os galos e os nossos irmãos. A Pátria é linda querida dos portugueses e dos nossos antepassados, e dos irmãos e dos nossos tios e avós. A Pátria é uma terra enorme e tem lá muitas igrejas e capelinhas e tabernas e lá vivem gente como na serra da estrela. Eu nunca fui à Pátria.



O INFANTE D. HENRIQUE



O Infante D. Henrique foi o primeiro rei de Portugal. O Infante D. Henrique descobriu três terras que são Madeiras e Açores. O Infante D. Henrique mais os Portugueses descobriram muitas terras com os mouros. O Infante D. Henrique foi primeiro casado com D. Filipa de Lencastre deixou cair o regaço de flores que D. Duarte beijou que eram de Stª Maria. O Infante estava a ver que nunca mais chegava ao Brasil por causa das carrancas do mar.



A REVOLUÇÃO DE 1640



A revolução de 1640 foi descoberta no reinado de Filipe III. A revolução de 1640 foram os portugueses que a descobriram. A revolução de 1640 durou muitos anos porque estiveram debaixo dos Filipes. Filipe III descobriu a guerra da

independência. Eu gosto muito da Revolução de 1640. A revolução de 1640 deu-se

para descobrirem o Miguel de Vasconcelos que estava num armário de papéis.



A CAÇA



A casa é um disporto. Para casar é preciso licença. Pode-se casar de duas maneiras à cachaporrada e à paulada mas à cachaporrada é mais perigoso. No tempo defeso não se pode casar. Quem casa sem licença vai preso.



A VACA



A vaca tem 4 partes: a dianteira e a traseira e depois o rabo ainda tem pelos. Debaixo da vaca está a leitaria. Com o rabo enxota as moscas. O marido da vaca

é o boi. Não dá leite por isso não é mamífero. Dos chifres preparam-se botões de madrepérola. A vaca é muito útil. Come-se por dentro e bebe-se por fora.



O LEITE



O leite é para nós bebermos. O leite faz queijo e manteiga. O leite é branco e eu gosto muito de leite. O leite vem dos animais que dão à gente. Os animais que dão leite são: a vaca, a cabra, a ovelha, os burros e o Sr. prior da Lata da Mourisca também dá leite mas é em pó.



Portugal sacro-profano - VII: A Lição de Salazar

O meu amigo Jorge Dupret fez-me chegar de Luanda alguns excertos de redacções de um Curso de Educação de Adultos, publicados originalmente no saudoso Diário de Lisboa, na sua edição de 1 de Novembro de 1963. Também encontrei, na Net, alguns desses excertos, divulgados na página de O Castanheirense, na rubrica "Rir dá Saúde"...

Eu sugiro que chamemos a esta peça antológica A Lição de Salazar, o dirigente político (lembram-se ?!) que achava que o portuga, na escola, não devia aprender mais do que ler, escrever e contar... Se o Professor Doutor Salazar ainda hoje fosse vivo e fosse a exame, seria ele certamente quem chumbaria, e não os pobres portugas que tiveram que aprender, tarde na vida, a dominar a língua materna...

SALAZAR

O Salazar fez estradas, fez pontes e até fez a minha professora. É um gajo porreiro!

A MINHA CASA

Gosto muito da minha casa, pois é lá que vivo com a minha patroa e é lá que fiz os meus filhos. Assim que saio do meu trabalho, vou logo para casa. O operário de hoje já não vai para a taberna embebedar-se e dar-se com esses gajos depois quando chigavam a casa davam porrada nas mulheres e se calhavam fazerem filhos nessa altura vinham doentes.

A PÁTRIA

A Pátria é a terra onde criam os nossos pais, os galos e os nossos irmãos. A Pátria é linda querida dos portugueses e dos nossos antepassados, e dos irmãos e dos nossos tios e avós. A Pátria é uma terra enorme e tem lá muitas igrejas e capelinhas e tabernas e lá vivem gente como na serra da estrela. Eu nunca fui à Pátria.

O INFANTE D. HENRIQUE

O Infante D. Henrique foi o primeiro rei de Portugal. O Infante D. Henrique descobriu três terras que são Madeiras e Açores. O Infante D. Henrique mais os Portugueses descobriram muitas terras com os mouros. O Infante D. Henrique foi primeiro casado com D. Filipa de Lencastre deixou cair o regaço de flores que D. Duarte beijou que eram de Stª Maria. O Infante estava a ver que nunca mais chegava ao Brasil por causa das carrancas do mar.

A REVOLUÇÃO DE 1640

A revolução de 1640 foi descoberta no reinado de Filipe III. A revolução de 1640 foram os portugueses que a descobriram. A revolução de 1640 durou muitos anos porque estiveram debaixo dos Filipes. Filipe III descobriu a guerra da
independência. Eu gosto muito da Revolução de 1640. A revolução de 1640 deu-se
para descobrirem o Miguel de Vasconcelos que estava num armário de papéis.

A CAÇA

A casa é um disporto. Para casar é preciso licença. Pode-se casar de duas maneiras à cachaporrada e à paulada mas à cachaporrada é mais perigoso. No tempo defeso não se pode casar. Quem casa sem licença vai preso.

A VACA

A vaca tem 4 partes: a dianteira e a traseira e depois o rabo ainda tem pelos. Debaixo da vaca está a leitaria. Com o rabo enxota as moscas. O marido da vaca
é o boi. Não dá leite por isso não é mamífero. Dos chifres preparam-se botões de madrepérola. A vaca é muito útil. Come-se por dentro e bebe-se por fora.

O LEITE

O leite é para nós bebermos. O leite faz queijo e manteiga. O leite é branco e eu gosto muito de leite. O leite vem dos animais que dão à gente. Os animais que dão leite são: a vaca, a cabra, a ovelha, os burros e o Sr. prior da Lata da Mourisca também dá leite mas é em pó.

17 outubro 2003

Portugal sacro-profano - VI: A poesia, meu estúpido!

Há tempos fizeram-me, pela enésima vez este ano, mais uma sondagem de opinião, pelo telefone, a perguntar, imaginem!, "se você fosse o Presidente da República, quem é que iria condecorar no 10 de Junho".... Respondi, ingenuamente: "Os poetas! No dez de Junho, deveríamos condecorar os poetas, os nossos poetas, que são o melhor de todos nós"....



É claro que daquela vez não ganhei o brinde, o invariável trem de cozinha ou o fabuloso fim-de-semana para dois num manhoso resort de Torremolinos... Paciência!... Esqueci-me foi de dizer à menina das sondagens que este país maltrata os seus poetas. Lembrei-me depois de um deles, o Ruy Belo, que morreu novo, e pobre, e maltratado, e esquecido. Dele sei este hino ao futuro e à (e)terna portugalidade, o único hino, de resto, que recito de cor quando o que vejo à minha volta me provoca o suficiente (des)contentamento (des)contente...



O Portugal futuro



O portugal futuro é um país

aonde o puro pássaro é possível

e sobre o leito negro do asfalto da estrada

as profundas crianças desenharão a giz

esse peixe da infância que vem na enxurrada

e me parece que se chama sável

Mas desenhem elas o que desenharem

é essa a forma do meu país

e chamem elas o que lhe chamarem

portugal será e lá serei feliz

Poderá ser pequeno como este

ter a oeste o mar e a espanha a leste

tudo nele será novo desde os ramos à raiz

A sombra dos plátanos as crianças dançarão

e na avenida que houver à beira-mar

pode o tempo mudar será verão

Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz

mas isso era o passado e podia ser duro

edificar sobre ele o portugal futuro



Homem de Palavra[s] (1969)

Portugal sacro-profano - VI: A poesia, meu estúpido!

Há tempos fizeram-me, pela enésima vez este ano, mais uma sondagem de opinião, pelo telefone, a perguntar, imaginem!, "se você fosse o Presidente da República, quem é que iria condecorar no 10 de Junho".... Respondi, ingenuamente: "Os poetas! No dez de Junho, deveríamos condecorar os poetas, os nossos poetas, que são o melhor de todos nós"....

É claro que daquela vez não ganhei o brinde, o invariável trem de cozinha ou o fabuloso fim-de-semana para dois num manhoso resort de Torremolinos... Paciência!... Esqueci-me foi de dizer à menina das sondagens que este país maltrata os seus poetas. Lembrei-me depois de um deles, o Ruy Belo, que morreu novo, e pobre, e maltratado, e esquecido. Dele sei este hino ao futuro e à (e)terna portugalidade, o único hino, de resto, que recito de cor quando o que vejo à minha volta me provoca o suficiente (des)contentamento (des)contente...

O Portugal futuro

O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
A sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro

Homem de Palavra[s] (1969)

Portugal sacro-profano - V: A economia explicada às criancinhas

Não é fácil explicar o funcionamento da economia (ou, mais prosaica e familiarmente, do capitalismo) às criancinhas das nossas escolas... Felizmente, muitos dos nossos jovens e precários professores tem dado importantes contributos para esse grande desafio pedagógico, cívico e até patriótico, sabendo nós que elas, as criancinhas, são os futuros homens e mulheres do trabalho e do capital deste país... A seguir têm, @s car@s ciberamig@as, um exemplo de inovação pedagógica que consta de um dos manuais escolares, aprovados este ano para o 1º ciclo do ensino básico. Parabéns aos autores, editores, tutela, associações de pais e educadores e restante comunidade educativa.



O CAPITALISMO IDEAL:

Tens duas vacas. Vendes uma e compras um touro. Eles têm muitos bebés e a economia cresce. Vendes a quinta mais a manada, ganhas bué de papel e já te podes reformar!



O CAPITALISMO AMERICANO:

Tens duas cows. És um cowboy. Vendes uma e obrigas a outra a produzir o leite de quatro vacas. É claro que ela morre, no final do filme. Mas tu ficas desconfiado e chamas o FBI, não vá haver por aí a mãozinha dos inimigos da América, com o Bin Laden à cabeça (O tal do 11 de Setembro negro, lembram-se ?).



O CAPITALISMO FRANCÊS:

Tens duas vaches. Entras em greve porque querias ter três vaches, o que vai contra as orientações da PAC (Sabes o que é a PAC ? É a Política Agrícola Comum, que ninguém sabe o que é)... O capitalismo francês é vachement bête!



O CAPITALISMO CANADIANO:

Tens duas vacas (nuns sítios diz-se cows, noutros diz-se vaches). Usas o modelo do capitalismo americano. As vacas morrem. Então acusas o proteccionismo dos países do Terceiro Mundo. Depois adoptas medidas proteccionistas para ter as três vacas reivindicadas pelo capitalismo francês (Sabes o que é o Terceiro Mundo ? Se não sabes, pergunta à sotoura ou mete explicador ou vai à Internet)...



O CAPITALISMO JAPONÊS:

Tens duas vacas, importadas da América, e falta de espaço para pastagens. Desmontas as vacas. Voltas a montá-las. Fazes um checklist de todos os defeitos de fabrico. Redesenhas as duas vacas americanas para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam 20 vezes mais leite e de melhor qualidade. Depois fabricas bonecos electrónicos das vaquinhas, chamadas Vaquimons. Vais vendê-los para o mercado global. (‘Tás a haver as vantagens da globalização ? ! Sabes o que é a globalização ? ... Esquece, demora muito tempo a explicar).



O CAPITALISMO BRITÂNICO:

Tens duas vacas (também se diz cows). Logo por azar, as duas são loucas.



O CAPITALISMO HOLANDÊS:

Tens duas vacas (em holandês, vacalhonas). Elas não gostam de touros. Além disso, são contra as touradas de morte. Por isso decidiram viver juntas e estão curtindo numa boa (no sul de Espanha...).



O CAPITALISMO ALEMÃO:

Tens duas vacas. Elas produzem leite regularmente, dentro dos padrões de quantidade e qualidade definidos, em quintas certificadas. Religiosamente, a horas certas. A exploração é altamente lucrativa. Mas o que tu querias mesmo era criar porcos... para fazer salsichas.



O CAPITALISMO RUSSO:

Tens duas vacas. Conta-as e vês que tens 22. Contas de novo e vês que tens 112. Contas de novo e vês que agora só tens 12. Desistes de contar e abres outra garrafa de vodka.



O CAPITALISMO SUÍÇO:

Tens 500 vacas, mas nenhuma é tua. Cobras uma taxa para guardares as vacas dos outros.





O CAPITALISMO ESPANHOL:

És a pessoa mais orgulhosa do mundo porque tens duas vacas.



O CAPITALISMO ITALIANO:

Tens duas vacas... Uma delas é a tua mãe, a outra é tua sogra, maledetto!



O CAPITALISMO PORTUGUÊS:

Tens duas vacas, com o selo DOP (Denominação de Origem Protegida). Certificadíssimas. Mas reclamas contra o Governo porque: (i) a manada não cresce; (ii) as vacas têm uma produtividade inferior às das outras europeias; (iii) a Comissão Europeia diz que só podes ter uma ou então tens que pôr a outra num bordel espanhol.



O CAPITALISMO CHINÊS:

Tens duas vacas e as 300 pessoas da aldeia a mungi-las. Gabas-te de ter pleno emprego e alta produtividade. Prendes e aplicas a pena de morte ao contra-revolucionário que divulgou estes números (Além disso o chinoca andava a espalhar o vírus da pneumonia atípica)...



O CAPITALISMO HINDU:

Tens duas vacas. Sagradas. Ai de quem tocar nelas!



O CAPITALISMO ARGENTINO (1):

Tens duas vacas. Matas-te a ensiná-las a mugirem em inglês dos gringos. As vacas morrem. Entregas as carcaças ao FMI e passas o resto da vida a cantar "el tango de la desgracia" (Sabes o que é o FMI ? É o Robin dos Bosques ao contrário: tira aos pobres para dar aos ricos)...



O CAPITALISMO ARGENTINO (2):

Tens duas vacas e cada uma deve pagar os seguintes impostos e taxas: 21% de IVA, 3% de Imposto sobre Receitas Brutas, 1% para o Fundo de Desemprego, 5% para a Saúde, 8% de Imposto sobre a Antecipação dos Lucros, 5% para o Fundo dos Produtores de Leite, 1% para o Fundo da Promoção da Manteiga, 1% para o Fundo de Promoção dos Queijos Desnatados e o resto para o FMI... Ao fim de dois anos, matas as vacas e suicidas-te.



O CAPITALISMO BRASILEIRO:

Tens duas vacas e és um sem terra. Uma delas é roubada e a outra foi encontrada no mato. O governo criou a CCPV - Contribuição Compulsória pela Posse de Vaca. Um fiscal vem e levanta-te um auto de notícia, por causa de falsas declarações relativas à CCPV. A Receita Federal (a Direcção-Geral dos Impostos lá do nosso país irmão) foi ao computador e, com base nos dados sobre o teu património e os teus sinais exteriores de riqueza (número de filhos, ocupações de terras, etc.), chega à conclusão que tu tens 200 vacas!... Ora toma, cabloco! Para te livrares desta encrenca, dás a vaca que te resta ao fiscal...



O CAPITALISMO OFF SHORE DA MADEIRA :

A Madeira é um jardim!... Tens duas vacas mas estão em nome do teu sobrinho que trabalha no casino e joga na bolsa. Vendes três para a empresa dele, que é de capital aberto e tem sede no off shore da Madeira. Usaste garantias de crédito emitidas pelo cunhado do teu primo que está na Venezuela. Depois fazes uma troca de dívidas por acções por meio de uma oferta geral associada, de forma que consegues todas as cinco vacas de volta, e para mais com isenção fiscal. Os direitos do leite das tuas seis vacas são transferidos para uma companhia das Ilhas Caimão, da qual o sócio maioritário és tu mas só o teu sobrinho é que sabe dessa cláusula secreta. Vendes os direitos das sete vacas novamente para a tua empresa. O relatório e contas do exercício de 2002, com o devido parecer dos revisores oficiais de contas e demais auditores, diz que a tua empresa possui oito vacas, com opção para mais uma. Vendes uma vaca para comprar o novo presidente da SAD do teu clube de futebol. És um homem de sucesso, com honras de telejornal. E agora ainda mais rico: acabas de vender ao Governo regional a m... que as vacas foram c... ao longo destes anos todos.

Portugal sacro-profano - V: A economia explicada às criancinhas

Não é fácil explicar o funcionamento da economia (ou, mais prosaica e familiarmente, do capitalismo) às criancinhas das nossas escolas... Felizmente, muitos dos nossos jovens e precários professores tem dado importantes contributos para esse grande desafio pedagógico, cívico e até patriótico, sabendo nós que elas, as criancinhas, são os futuros homens e mulheres do trabalho e do capital deste país... A seguir têm, @s car@s ciberamig@as, um exemplo de inovação pedagógica que consta de um dos manuais escolares, aprovados este ano para o 1º ciclo do ensino básico. Parabéns aos autores, editores, tutela, associações de pais e educadores e restante comunidade educativa.

O CAPITALISMO IDEAL:
Tens duas vacas. Vendes uma e compras um touro. Eles têm muitos bebés e a economia cresce. Vendes a quinta mais a manada, ganhas bué de papel e já te podes reformar!

O CAPITALISMO AMERICANO:
Tens duas cows. És um cowboy. Vendes uma e obrigas a outra a produzir o leite de quatro vacas. É claro que ela morre, no final do filme. Mas tu ficas desconfiado e chamas o FBI, não vá haver por aí a mãozinha dos inimigos da América, com o Bin Laden à cabeça (O tal do 11 de Setembro negro, lembram-se ?).

O CAPITALISMO FRANCÊS:
Tens duas vaches. Entras em greve porque querias ter três vaches, o que vai contra as orientações da PAC (Sabes o que é a PAC ? É a Política Agrícola Comum, que ninguém sabe o que é)... O capitalismo francês é vachement bête!

O CAPITALISMO CANADIANO:
Tens duas vacas (nuns sítios diz-se cows, noutros diz-se vaches). Usas o modelo do capitalismo americano. As vacas morrem. Então acusas o proteccionismo dos países do Terceiro Mundo. Depois adoptas medidas proteccionistas para ter as três vacas reivindicadas pelo capitalismo francês (Sabes o que é o Terceiro Mundo ? Se não sabes, pergunta à sotoura ou mete explicador ou vai à Internet)...

O CAPITALISMO JAPONÊS:
Tens duas vacas, importadas da América, e falta de espaço para pastagens. Desmontas as vacas. Voltas a montá-las. Fazes um checklist de todos os defeitos de fabrico. Redesenhas as duas vacas americanas para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam 20 vezes mais leite e de melhor qualidade. Depois fabricas bonecos electrónicos das vaquinhas, chamadas Vaquimons. Vais vendê-los para o mercado global. (‘Tás a haver as vantagens da globalização ? ! Sabes o que é a globalização ? ... Esquece, demora muito tempo a explicar).

O CAPITALISMO BRITÂNICO:
Tens duas vacas (também se diz cows). Logo por azar, as duas são loucas.

O CAPITALISMO HOLANDÊS:
Tens duas vacas (em holandês, vacalhonas). Elas não gostam de touros. Além disso, são contra as touradas de morte. Por isso decidiram viver juntas e estão curtindo numa boa (no sul de Espanha...).

O CAPITALISMO ALEMÃO:
Tens duas vacas. Elas produzem leite regularmente, dentro dos padrões de quantidade e qualidade definidos, em quintas certificadas. Religiosamente, a horas certas. A exploração é altamente lucrativa. Mas o que tu querias mesmo era criar porcos... para fazer salsichas.

O CAPITALISMO RUSSO:
Tens duas vacas. Conta-as e vês que tens 22. Contas de novo e vês que tens 112. Contas de novo e vês que agora só tens 12. Desistes de contar e abres outra garrafa de vodka.

O CAPITALISMO SUÍÇO:
Tens 500 vacas, mas nenhuma é tua. Cobras uma taxa para guardares as vacas dos outros.


O CAPITALISMO ESPANHOL:
És a pessoa mais orgulhosa do mundo porque tens duas vacas.

O CAPITALISMO ITALIANO:
Tens duas vacas... Uma delas é a tua mãe, a outra é tua sogra, maledetto!

O CAPITALISMO PORTUGUÊS:
Tens duas vacas, com o selo DOP (Denominação de Origem Protegida). Certificadíssimas. Mas reclamas contra o Governo porque: (i) a manada não cresce; (ii) as vacas têm uma produtividade inferior às das outras europeias; (iii) a Comissão Europeia diz que só podes ter uma ou então tens que pôr a outra num bordel espanhol.

O CAPITALISMO CHINÊS:
Tens duas vacas e as 300 pessoas da aldeia a mungi-las. Gabas-te de ter pleno emprego e alta produtividade. Prendes e aplicas a pena de morte ao contra-revolucionário que divulgou estes números (Além disso o chinoca andava a espalhar o vírus da pneumonia atípica)...

O CAPITALISMO HINDU:
Tens duas vacas. Sagradas. Ai de quem tocar nelas!

O CAPITALISMO ARGENTINO (1):
Tens duas vacas. Matas-te a ensiná-las a mugirem em inglês dos gringos. As vacas morrem. Entregas as carcaças ao FMI e passas o resto da vida a cantar "el tango de la desgracia" (Sabes o que é o FMI ? É o Robin dos Bosques ao contrário: tira aos pobres para dar aos ricos)...

O CAPITALISMO ARGENTINO (2):
Tens duas vacas e cada uma deve pagar os seguintes impostos e taxas: 21% de IVA, 3% de Imposto sobre Receitas Brutas, 1% para o Fundo de Desemprego, 5% para a Saúde, 8% de Imposto sobre a Antecipação dos Lucros, 5% para o Fundo dos Produtores de Leite, 1% para o Fundo da Promoção da Manteiga, 1% para o Fundo de Promoção dos Queijos Desnatados e o resto para o FMI... Ao fim de dois anos, matas as vacas e suicidas-te.

O CAPITALISMO BRASILEIRO:
Tens duas vacas e és um sem terra. Uma delas é roubada e a outra foi encontrada no mato. O governo criou a CCPV - Contribuição Compulsória pela Posse de Vaca. Um fiscal vem e levanta-te um auto de notícia, por causa de falsas declarações relativas à CCPV. A Receita Federal (a Direcção-Geral dos Impostos lá do nosso país irmão) foi ao computador e, com base nos dados sobre o teu património e os teus sinais exteriores de riqueza (número de filhos, ocupações de terras, etc.), chega à conclusão que tu tens 200 vacas!... Ora toma, cabloco! Para te livrares desta encrenca, dás a vaca que te resta ao fiscal...

O CAPITALISMO OFF SHORE DA MADEIRA :
A Madeira é um jardim!... Tens duas vacas mas estão em nome do teu sobrinho que trabalha no casino e joga na bolsa. Vendes três para a empresa dele, que é de capital aberto e tem sede no off shore da Madeira. Usaste garantias de crédito emitidas pelo cunhado do teu primo que está na Venezuela. Depois fazes uma troca de dívidas por acções por meio de uma oferta geral associada, de forma que consegues todas as cinco vacas de volta, e para mais com isenção fiscal. Os direitos do leite das tuas seis vacas são transferidos para uma companhia das Ilhas Caimão, da qual o sócio maioritário és tu mas só o teu sobrinho é que sabe dessa cláusula secreta. Vendes os direitos das sete vacas novamente para a tua empresa. O relatório e contas do exercício de 2002, com o devido parecer dos revisores oficiais de contas e demais auditores, diz que a tua empresa possui oito vacas, com opção para mais uma. Vendes uma vaca para comprar o novo presidente da SAD do teu clube de futebol. És um homem de sucesso, com honras de telejornal. E agora ainda mais rico: acabas de vender ao Governo regional a m... que as vacas foram c... ao longo destes anos todos.

Estórias com mural ao fundo - XIII: A nova Cinderela contada às criancinhas do Séc. XXI

Há bué da taime havia uma garina cujo cota já tinha esticado o pernil e que vivia com a chunga da madrasta e as melgas das filhas dela. A Cinderela, Cindy p'ras amigas, parecia que vivia na prisa, sem tempo sequer p’ra enviar uns meiles. Com este desatino só lhe apetecia dar de frosques, porque a madrasta fazia-lhe bué de cenas. Foi então que a Cindy fica a saber da alta desbunda que ia acontecer:

- Uma party!



A gaja curtiu logo a ideia, mas as outras chavalas cortaram-lhe as bases. Ela ficou completamente passadunte, mas depois de andar à toa num coche, apareceu-lhe uma fada baril que lhe abichou uma farda baita bacana e ela ficou a parecer uma ganda febra. Só que ela só se podia afiambrar da cena até ao bater da 12 badaladas da midnaite. A tipa mordeu o esquema e foi pra a borga sempre a abrir, tás a ver. Ao entrar na party topou um mano cheio de papel, que era bom comó milho e que logo ali a galou. Aí a Cindy passou-se dos carretos e desbundaram.



Ía a naite muita louca até que ao ouvir as doze badaladas do sino ela teve de se axandrar e bazou. O mitra ficou completamente abardinado quando ela deu de frosques e foi atrás dela, mas só encontrou pelo caminho o chanato da dama. No dia seguinte, com uma alta fezada, meteu-se nos calcantes e foi à procura de um chispe que entrasse no dito chanato. Como era um alta cromo, teve uma vaca descomunal e encontrou a maluca, para ganda desatino das outras fatelas que tiveram um ganda vaipe quando souberam que eles iam juntar os trapinhos.



No final da cena, vemos a garina e o chavalo a curtirem largo. Diz a história que foram bué de felizes e tiveram bué de chavalitos e chavalitas.



Moral da história:

Fogo!, agora é que a gente vê como eram sensaboronas (leia-se: sem sal nem pimenta) as histórias da carochinha que as nossas avozinhas nos contavam quando éramos chavalitos!... Também nesse tempo não havia reality shows... nem electricidade... nem televisão... nem playstations... nem internet! Fogo, não havia mesmo nada!

Estórias com mural ao fundo - XIII: A nova Cinderela contada às criancinhas do Séc. XXI

Há bué da taime havia uma garina cujo cota já tinha esticado o pernil e que vivia com a chunga da madrasta e as melgas das filhas dela. A Cinderela, Cindy p'ras amigas, parecia que vivia na prisa, sem tempo sequer p’ra enviar uns meiles. Com este desatino só lhe apetecia dar de frosques, porque a madrasta fazia-lhe bué de cenas. Foi então que a Cindy fica a saber da alta desbunda que ia acontecer:
- Uma party!

A gaja curtiu logo a ideia, mas as outras chavalas cortaram-lhe as bases. Ela ficou completamente passadunte, mas depois de andar à toa num coche, apareceu-lhe uma fada baril que lhe abichou uma farda baita bacana e ela ficou a parecer uma ganda febra. Só que ela só se podia afiambrar da cena até ao bater da 12 badaladas da midnaite. A tipa mordeu o esquema e foi pra a borga sempre a abrir, tás a ver. Ao entrar na party topou um mano cheio de papel, que era bom comó milho e que logo ali a galou. Aí a Cindy passou-se dos carretos e desbundaram.

Ía a naite muita louca até que ao ouvir as doze badaladas do sino ela teve de se axandrar e bazou. O mitra ficou completamente abardinado quando ela deu de frosques e foi atrás dela, mas só encontrou pelo caminho o chanato da dama. No dia seguinte, com uma alta fezada, meteu-se nos calcantes e foi à procura de um chispe que entrasse no dito chanato. Como era um alta cromo, teve uma vaca descomunal e encontrou a maluca, para ganda desatino das outras fatelas que tiveram um ganda vaipe quando souberam que eles iam juntar os trapinhos.

No final da cena, vemos a garina e o chavalo a curtirem largo. Diz a história que foram bué de felizes e tiveram bué de chavalitos e chavalitas.

Moral da história:
Fogo!, agora é que a gente vê como eram sensaboronas (leia-se: sem sal nem pimenta) as histórias da carochinha que as nossas avozinhas nos contavam quando éramos chavalitos!... Também nesse tempo não havia reality shows... nem electricidade... nem televisão... nem playstations... nem internet! Fogo, não havia mesmo nada!

Estórias com mural ao fundo - XII: Engenheiros e gestores

Um turista caminha, sozinho, por uma rua numa típica vila do Baixo Alentejo, de casas térreas, obsessivamente caiadas de branco. Ao desembocar na praça central, deserta, dá conta da inesperada presença de um balão de ar quente, alguns metros acima da sua cabeça. No cesto desse balão há alguém que lhe acena, alvoraçadamente.



Perante o insólito da cena, e movido pela curiosidade e pelo pedido de ajuda, ele aproxima-se do balão, procurando ouvir o piloto que lhe grita:



- Desculpe, senhor, acha que poderia ajudar-me? Prometi a um amigo que me encontraria com ele às duas da tarde, porém já são duas e meia e o problema é que nem sei onde me encontro!



O homem, com ar de turista, respondeu ao do balão, com cortesia:

- Claro que posso ajudá-lo! Você encontra-se num balão de ar quente, flutuando a uns vinte metros acima duma praça, com jardim e calçada portuguesa. Está a trinta e oito graus de latitude norte e a oito graus de longitude oeste...



O homem do balão responde-lhe com um sorriso:

- Amigo, você por acaso não é Engenheiro ?!

- Sou, sim senhor, ao seu dispor! Mas já agora... como conseguiu adivinhar logo à primeira?

- Porque tudo o que você me disse está matemática e tecnicamente correcto; e, no entanto, essa informação é-me totalmente inútil, pois continuo perdido e atrasado para o meu encontro!...



O engenheiro ficou calado, por alguns breves segundos, para logo a seguir retorquir:

- E você, por acaso, não é Gestor ?

- Como descobriu ? E eu a pensar que passava incólume e anónimo...

- Ah!, foi muito fácil! Em primeiro lugar, o sr. Gestor não sabe onde está nem para onde vai; em segundo lugar, fez uma promessa da qual não tem a mínima ideia de como a irá cumprir; em terceiro lugar, está à espera que outra pessoa resolva o seu problema. E, last but not the least, fez do Engenheiro o bode expiatório. De facto, continua exactamente tão perdido quanto estava antes de me encontrar; porém agora, por um estranho capricho, a culpa passou a ser toda minha!...



Moral da história:



A falta de produtividade e competividade das empresas portuguesas não é, seguramente, um problema nem de engenharia nem de gestão, o mesmo é dizer, de hardware e software... Por exclusão de partes, só pode ser um problema de humanware.

Estórias com mural ao fundo - XII: Engenheiros e gestores

Um turista caminha, sozinho, por uma rua numa típica vila do Baixo Alentejo, de casas térreas, obsessivamente caiadas de branco. Ao desembocar na praça central, deserta, dá conta da inesperada presença de um balão de ar quente, alguns metros acima da sua cabeça. No cesto desse balão há alguém que lhe acena, alvoraçadamente.

Perante o insólito da cena, e movido pela curiosidade e pelo pedido de ajuda, ele aproxima-se do balão, procurando ouvir o piloto que lhe grita:

- Desculpe, senhor, acha que poderia ajudar-me? Prometi a um amigo que me encontraria com ele às duas da tarde, porém já são duas e meia e o problema é que nem sei onde me encontro!

O homem, com ar de turista, respondeu ao do balão, com cortesia:
- Claro que posso ajudá-lo! Você encontra-se num balão de ar quente, flutuando a uns vinte metros acima duma praça, com jardim e calçada portuguesa. Está a trinta e oito graus de latitude norte e a oito graus de longitude oeste...

O homem do balão responde-lhe com um sorriso:
- Amigo, você por acaso não é Engenheiro ?!
- Sou, sim senhor, ao seu dispor! Mas já agora... como conseguiu adivinhar logo à primeira?
- Porque tudo o que você me disse está matemática e tecnicamente correcto; e, no entanto, essa informação é-me totalmente inútil, pois continuo perdido e atrasado para o meu encontro!...

O engenheiro ficou calado, por alguns breves segundos, para logo a seguir retorquir:
- E você, por acaso, não é Gestor ?
- Como descobriu ? E eu a pensar que passava incólume e anónimo...
- Ah!, foi muito fácil! Em primeiro lugar, o sr. Gestor não sabe onde está nem para onde vai; em segundo lugar, fez uma promessa da qual não tem a mínima ideia de como a irá cumprir; em terceiro lugar, está à espera que outra pessoa resolva o seu problema. E, last but not the least, fez do Engenheiro o bode expiatório. De facto, continua exactamente tão perdido quanto estava antes de me encontrar; porém agora, por um estranho capricho, a culpa passou a ser toda minha!...

Moral da história:

A falta de produtividade e competividade das empresas portuguesas não é, seguramente, um problema nem de engenharia nem de gestão, o mesmo é dizer, de hardware e software... Por exclusão de partes, só pode ser um problema de humanware.

15 outubro 2003

Portugal sacro-profano - IV: Quando eu for grande quero ser médico

1. A anedota do regime:



Conversa entre o filho de um ministro e a filha de outro ministro:

- Tens um minuto?

- Sim, claro.

- Decidi ir para Medicina.

- Decidiste ir para Medicina... Assim?!

- ... Sim!

- Mas, ouve lá, falaste com o teu Pai ?

- Não! Falei com o teu.



2. A nova doutrina do "a-uma-situação-excepcional-um-tratamento-excepcional"



Ser ou não filh@ de algo, eis a questão (?)... Circulam pela Net, descaradamente, em formato.pdf, os documentos relativos à famosa decisão do governante que, do alto do seu cadeirão, decidiu legiferar, criando uma nova doutrina: "A uma situação excepcional, um tratamento excepcional".



Como foram parar à Net, não sei. São quatro: o requerimento de D. ao Sr. Ministro; o certificado de habilitações literárias de D.; o despacho do Sr. Ministro; a resposta do Sr. Director-Geral à requerente... De segredos de Estado passaram a segredos de Polichinelo. De qualquer modo, reconheço que a sua divulgação viola a privacidade de pelo menos uma cidadã. Outros nomes são públicos & notórios, o ministro (aliás, ex) e o seu director-geral. A própria cidadã é hoje, malgré elle, uma figura pública.

O que lhe dizer, em jeito de consolo ? Ora, minha querida D., não são apenas os media clássicos (a televisão, a rádio, os jornais...) que são predadores, a ciberdemocracia também é cruel, não respeitando nomeadamente os teus direitos de personalidade. Mas quem se expõe, cara cidadã, fica a descoberto... E quem mais perdeu nesta história foste tu, que querias estudar no teu país e ser médica!



Este caso não deixa de ser edificante para a reflexão da relação do cidadão com o Estado e para a própria prática da cidadania. Não sei se para os juristas isto é um belíssimo caso, não sei se vai tornar-se um case-study, não sei se se vão escrever grandes tratados sobre o famigerado despacho...



Felizmente somos um país feliz, e "um país feliz não tem história" (lá diz o provérbio popular). De facto, há quem pense que tudo isto não passou de um faits divers e, como tal, faz apenas parte da petite histoire ou do anedotário nacional. No fim tudo acabou em bem, como nos contos de fadas: desta vez os xico-espertos ficaram mal no filme... O Zé Povinho, que não é menos cruel que os ciberabutres, assobiou e pateou...



3. Uma profissão sem prestígio até à alvorada do Séc. XX



Cinco anos depois da grande reforma pombalina da Universidade de Coimbra, em 1772, justamente quando a estrela política de Pombal se apagava, escrevia o reitor (citado por Pina, 1938) que a faculdade de medicina era "pouco frequentada por quem tem meios de preparar-se para outros destinos mais bem reputados no conceito dos Povos" (sic) e "pela maior parte abandonada a estudantes mizeraveis e pobres" (sic). Na época, o estatuto socioeconómico do estudante universitário media-se pelo número de criados e de cavalos (ou mulas) ao seu serviço (Daí talvez o sentido irónico do provérrbio "Doutor da mula ruça").



Desde a sua criação, nos finais do Séc. XIII até à reforma pombalina de 1772, o curso de medicina sempre fôra pouco procurado:



(i) Três anos depois da instalação definitiva da universidade na cidade de Coimbra (1537), os estudantes de medicina eram apenas 10 num total de 642, ou seja, menos de 2% (Mira, 1947: 83);



(ii) Cento e setenta anos mais tarde, a proporção de alunos inscritos em medicina continuava a ser a mais baixa de todos os cursos: ao tempo em que o grande Ribeiro Sanches andou por Coimbra (1716/19), o total de matrículas em medicina, no correspondente quinquénio (1714/19), era de 466 (93, em média, por ano), o que representava apenas 5.7% do total dos alunos matriculados nas quatro faculdades (8136), nesse período;



(iii) As restantes matrículas distribuíam-se do seguinte modo: 77.6% em cânones (6315); 9.7% em leis (790); e 6.9% em teologia (565).



... Na alvorada do Séc., na Assembleia Constuinte de 1911, os médicos eram, curiosamente, o grupo profissional que estava mais representado, à frente dos militares e dos juristas... Sinais dos tempos!



Fonte: Graça, L. (1999) - A reforma pombalina dos estudos de 1772





4. Sacrificar os "verdes anos" para se ser médico



O que me preocupa na actual geração de estudantes de medicina não é tanto a quantidade como a qualidade dos médicos que vamos no futuro... Temos hoje um sistema reconhecidamente iníquo de selecção, baseado na "meritocracia" (o acesso atrvés das notas mais altas!), que pode ter consequências desvastadoras para todos: o estudante, o futuro médico, o sistema de saúde, os utentes/doentes, o país... Embora correndo o risco das generalizações abusivas, receio bem que os jovens médicos que estão a sair das nossas faculdades de medicina sejam pessoas que não tiveram adolescência ou não chegaram a completar a adolescência: sobretudo não tiveram tempo de ir à discoteca, de ler um livro de poesia ou um romance, de ir a um concerto de música ou a uma exposição de pintura, de visitar um museu, de viajar pela Europa for a (à boleia ou no interrail, como os seus pais), de namorar, de fazer asneiras (“desbundar”), de fugir de casa, em suma, de viver os "verdes anos".



Desde os 15 anos (ou desde o 10º ano do ensino secundário), pelo menos, os pobres rapazes e raparigas candidatos a especialidstas médicos passam pelo menos uma década e meia (até aos 28, 29, 30) a "marrar" (leia-se: a empinar milhares de fotocópias de compêndios!). Claro que há as honrosas excepções que salvam sempre a honra do convento...



O que é que tradicionalmente se valoriza no nosso sistema de ensino ? O gosto pela investigação científica ou o desenvolvimento tecnológico? A cidadania ? A cultura ? O saber ? O desenvolvimento pessoal ? A aventura intelectual ? A ética do trabalho, a deontologia profissional ? Nada disso: Receio que se premeie, antes de mais, a memória de elefante e a cultura de papagaio, além da capacidade de resistência dos grandes corredores de fundo!



É claro que o problema não é exclusivo da formação médica... Mas já dizia Abel Salazar, um grande médico e humanista português do Séc. XX: "Quem só sabe de medicina, não sabe de medicina nem sabe de nada"... Pode dizer-se o mesmo do direito, da engenharia, de sociologia ou de gestão. Honra se faça às nossas faculdades de medicina (e, nomeadamente, as mais recentes) que, apesar de tudo, se têm aberto ao ensino das ciências não-médicas, incluindo as ciências sociais e humanas...



Há uma revolução cultural, científica e pedagógica que está por fazer na nossa universidade. Seiscentos anos depois da sua criação (em finais do Séc. XIII), ainda não é fácil às nossas faculdades de medicina libertarem-se da “ganga” do ensino escolástico e sebenteiro.



Entretanto, a reforma da educação médica de que tanto se fala há anos é mais um parto doloroso e difícil. E não basta, meus senhores, acrescentar aos cadeirões biomédicos, uns pozinhos de sociologia, de psicologia, de economia e de saúde pública!



O que me preocupa é o perfil (humano...) do médico que estamos a preparar para o futuro. Não sei quantos jovens estudantes ficam pelo caminho, têm esgotamentos, passam por crises de depressão ou pensam em suicidar-se. Dir-me-ão que o problema não é especificamente português.



De qualquer modo, o que me preocupa é o risco de termos um jovem velho médico, aos trinta anos (e "aos trinta anos quem não é louco, é médico", diz o provérbio). Um jovem velho médico que não sabe ser nem sabe estar... não apenas como pessoa, como cidadão, como homem ou como mulher mas também como trabalhador da saúde.



Porque o nosso ensino é ainda, em parte, baseado no modelo do "mero acumulador de conhecimentos". Daí também a grande frustação de muitos médicos da geração do pós-25 de Abril que descobrem, algo tardiamente, que há coisas muitíssimo mais interessantes e fascinantes na vida do que estudar e praticar medicina. Quanto à actual geração, uma elite muito restrista, ligada à medicina mais tecnicista e economicamente rentável, terá porventura alguma chance de conhecer a fama e a glória (e ter o respectivo porveito). Para os outros, a grande maioria dos médicos, as expectativas de plena realização pessoal e profissional serão bem mais difíceis de satisfazer. Mas eu, que se calhar estava em dia não quando escrevi esta prosa, espero bem enganar-me a respeito deste cenário pessimista...

Portugal sacro-profano - IV: Quando eu for grande quero ser médico

1. A anedota do regime:

Conversa entre o filho de um ministro e a filha de outro ministro:
- Tens um minuto?
- Sim, claro.
- Decidi ir para Medicina.
- Decidiste ir para Medicina... Assim?!
- ... Sim!
- Mas, ouve lá, falaste com o teu Pai ?
- Não! Falei com o teu.

2. A nova doutrina do "a-uma-situação-excepcional-um-tratamento-excepcional"

Ser ou não filh@ de algo, eis a questão (?)... Circulam pela Net, descaradamente, em formato.pdf, os documentos relativos à famosa decisão do governante que, do alto do seu cadeirão, decidiu legiferar, criando uma nova doutrina: "A uma situação excepcional, um tratamento excepcional".

Como foram parar à Net, não sei. São quatro: o requerimento de D. ao Sr. Ministro; o certificado de habilitações literárias de D.; o despacho do Sr. Ministro; a resposta do Sr. Director-Geral à requerente... De segredos de Estado passaram a segredos de Polichinelo. De qualquer modo, reconheço que a sua divulgação viola a privacidade de pelo menos uma cidadã. Outros nomes são públicos & notórios, o ministro (aliás, ex) e o seu director-geral. A própria cidadã é hoje, malgré elle, uma figura pública.
O que lhe dizer, em jeito de consolo ? Ora, minha querida D., não são apenas os media clássicos (a televisão, a rádio, os jornais...) que são predadores, a ciberdemocracia também é cruel, não respeitando nomeadamente os teus direitos de personalidade. Mas quem se expõe, cara cidadã, fica a descoberto... E quem mais perdeu nesta história foste tu, que querias estudar no teu país e ser médica!

Este caso não deixa de ser edificante para a reflexão da relação do cidadão com o Estado e para a própria prática da cidadania. Não sei se para os juristas isto é um belíssimo caso, não sei se vai tornar-se um case-study, não sei se se vão escrever grandes tratados sobre o famigerado despacho...

Felizmente somos um país feliz, e "um país feliz não tem história" (lá diz o provérbio popular). De facto, há quem pense que tudo isto não passou de um faits divers e, como tal, faz apenas parte da petite histoire ou do anedotário nacional. No fim tudo acabou em bem, como nos contos de fadas: desta vez os xico-espertos ficaram mal no filme... O Zé Povinho, que não é menos cruel que os ciberabutres, assobiou e pateou...

3. Uma profissão sem prestígio até à alvorada do Séc. XX

Cinco anos depois da grande reforma pombalina da Universidade de Coimbra, em 1772, justamente quando a estrela política de Pombal se apagava, escrevia o reitor (citado por Pina, 1938) que a faculdade de medicina era "pouco frequentada por quem tem meios de preparar-se para outros destinos mais bem reputados no conceito dos Povos" (sic) e "pela maior parte abandonada a estudantes mizeraveis e pobres" (sic). Na época, o estatuto socioeconómico do estudante universitário media-se pelo número de criados e de cavalos (ou mulas) ao seu serviço (Daí talvez o sentido irónico do provérrbio "Doutor da mula ruça").

Desde a sua criação, nos finais do Séc. XIII até à reforma pombalina de 1772, o curso de medicina sempre fôra pouco procurado:

(i) Três anos depois da instalação definitiva da universidade na cidade de Coimbra (1537), os estudantes de medicina eram apenas 10 num total de 642, ou seja, menos de 2% (Mira, 1947: 83);

(ii) Cento e setenta anos mais tarde, a proporção de alunos inscritos em medicina continuava a ser a mais baixa de todos os cursos: ao tempo em que o grande Ribeiro Sanches andou por Coimbra (1716/19), o total de matrículas em medicina, no correspondente quinquénio (1714/19), era de 466 (93, em média, por ano), o que representava apenas 5.7% do total dos alunos matriculados nas quatro faculdades (8136), nesse período;

(iii) As restantes matrículas distribuíam-se do seguinte modo: 77.6% em cânones (6315); 9.7% em leis (790); e 6.9% em teologia (565).

... Na alvorada do Séc., na Assembleia Constuinte de 1911, os médicos eram, curiosamente, o grupo profissional que estava mais representado, à frente dos militares e dos juristas... Sinais dos tempos!

Fonte: Graça, L. (1999) - A reforma pombalina dos estudos de 1772


4. Sacrificar os "verdes anos" para se ser médico

O que me preocupa na actual geração de estudantes de medicina não é tanto a quantidade como a qualidade dos médicos que vamos no futuro... Temos hoje um sistema reconhecidamente iníquo de selecção, baseado na "meritocracia" (o acesso atrvés das notas mais altas!), que pode ter consequências desvastadoras para todos: o estudante, o futuro médico, o sistema de saúde, os utentes/doentes, o país... Embora correndo o risco das generalizações abusivas, receio bem que os jovens médicos que estão a sair das nossas faculdades de medicina sejam pessoas que não tiveram adolescência ou não chegaram a completar a adolescência: sobretudo não tiveram tempo de ir à discoteca, de ler um livro de poesia ou um romance, de ir a um concerto de música ou a uma exposição de pintura, de visitar um museu, de viajar pela Europa for a (à boleia ou no interrail, como os seus pais), de namorar, de fazer asneiras (“desbundar”), de fugir de casa, em suma, de viver os "verdes anos".

Desde os 15 anos (ou desde o 10º ano do ensino secundário), pelo menos, os pobres rapazes e raparigas candidatos a especialidstas médicos passam pelo menos uma década e meia (até aos 28, 29, 30) a "marrar" (leia-se: a empinar milhares de fotocópias de compêndios!). Claro que há as honrosas excepções que salvam sempre a honra do convento...

O que é que tradicionalmente se valoriza no nosso sistema de ensino ? O gosto pela investigação científica ou o desenvolvimento tecnológico? A cidadania ? A cultura ? O saber ? O desenvolvimento pessoal ? A aventura intelectual ? A ética do trabalho, a deontologia profissional ? Nada disso: Receio que se premeie, antes de mais, a memória de elefante e a cultura de papagaio, além da capacidade de resistência dos grandes corredores de fundo!

É claro que o problema não é exclusivo da formação médica... Mas já dizia Abel Salazar, um grande médico e humanista português do Séc. XX: "Quem só sabe de medicina, não sabe de medicina nem sabe de nada"... Pode dizer-se o mesmo do direito, da engenharia, de sociologia ou de gestão. Honra se faça às nossas faculdades de medicina (e, nomeadamente, as mais recentes) que, apesar de tudo, se têm aberto ao ensino das ciências não-médicas, incluindo as ciências sociais e humanas...

Há uma revolução cultural, científica e pedagógica que está por fazer na nossa universidade. Seiscentos anos depois da sua criação (em finais do Séc. XIII), ainda não é fácil às nossas faculdades de medicina libertarem-se da “ganga” do ensino escolástico e sebenteiro.

Entretanto, a reforma da educação médica de que tanto se fala há anos é mais um parto doloroso e difícil. E não basta, meus senhores, acrescentar aos cadeirões biomédicos, uns pozinhos de sociologia, de psicologia, de economia e de saúde pública!

O que me preocupa é o perfil (humano...) do médico que estamos a preparar para o futuro. Não sei quantos jovens estudantes ficam pelo caminho, têm esgotamentos, passam por crises de depressão ou pensam em suicidar-se. Dir-me-ão que o problema não é especificamente português.

De qualquer modo, o que me preocupa é o risco de termos um jovem velho médico, aos trinta anos (e "aos trinta anos quem não é louco, é médico", diz o provérbio). Um jovem velho médico que não sabe ser nem sabe estar... não apenas como pessoa, como cidadão, como homem ou como mulher mas também como trabalhador da saúde.

Porque o nosso ensino é ainda, em parte, baseado no modelo do "mero acumulador de conhecimentos". Daí também a grande frustação de muitos médicos da geração do pós-25 de Abril que descobrem, algo tardiamente, que há coisas muitíssimo mais interessantes e fascinantes na vida do que estudar e praticar medicina. Quanto à actual geração, uma elite muito restrista, ligada à medicina mais tecnicista e economicamente rentável, terá porventura alguma chance de conhecer a fama e a glória (e ter o respectivo porveito). Para os outros, a grande maioria dos médicos, as expectativas de plena realização pessoal e profissional serão bem mais difíceis de satisfazer. Mas eu, que se calhar estava em dia não quando escrevi esta prosa, espero bem enganar-me a respeito deste cenário pessimista...

Estórias com mural ao fundo - XI: Conversas com Deus ou o direito de tabaquear o caso

Churchil, Truman, De Gaulle e Estaline, os quatro grandes vencedores da II Guerra Mundial, encontram-se à porta do Céu, depois da sua histórica passagem pela Terra. Por sugestão do São Pedro e por deferência para com tão ilustres representantes do Planeta Azul, Deus dignou-s descer do seu trono e condescendeu em ir recebê-los pessoalmente.



Quis O Todo Poderoso logo ali fazer-lhes um teste de selecção, pedindo-lhes que formulassem um desejo. Estaline, em jogada de antecipação, e de punho erguido, gritou:

- Que os americanos se danem e vão parar ao inferno, Camarada!



Truman aceitou o repto e respondeu-lhe num ápice:

- Oh My God, fazei com que a Rússia soviética seja posta a ferro e fogo!



De Gaulle, em posição de sentido, formulou expressamente o desejo de entrar no céu e gritar “Vive la France!”:

- Mon bon Dieu de France, dai-me esse privilégio ! Só pelo prazer de ouvir o eco da minha própria voz a atravessar o Atlântico e fazer tremer os vidros da Casa Branca.



- E Vossa Excelência, Sir Winston Churchil, perguntou o Criador ?

- Oh My Lord, eu só quero um charuto… Mas pode servir primeiro esses senhores, que eu não tenho pressa.



Moral da história:



(1) A vingança serve-se fria, o último a rir é o que ri melhor.



(2) Deus protege os fumadores: Se Ele quisesse que a gente não fumasse,

não nos tinha dado pulmões, nariz e boca…



(3) Deus não desce do Olimpo para tabaquear o caso connosco (dizem os alentejanos).



(4) “Smoke, don’t make war”.



(5) Não peçam muito, peçam bem.



(6) Usem, mas não abusem… Muita saúde, pouca vida, que Deus não dá tudo!



(7) Cuida-te em terra, avia-te no céu.



(8) Deus faz-nos sempre a última vontade, a do condenado à morte.



(9) Fumar mata mas não é pecado: Pelo menos, não está escrito nos dez mandamentos.



(10) Letreiro à porta do cemitério: Campo da Igualdade, rico ou pobres, médico ou doente, tanto morres do mal como morres da cura.

Estórias com mural ao fundo - XI: Conversas com Deus ou o direito de tabaquear o caso

Churchil, Truman, De Gaulle e Estaline, os quatro grandes vencedores da II Guerra Mundial, encontram-se à porta do Céu, depois da sua histórica passagem pela Terra. Por sugestão do São Pedro e por deferência para com tão ilustres representantes do Planeta Azul, Deus dignou-s descer do seu trono e condescendeu em ir recebê-los pessoalmente.

Quis O Todo Poderoso logo ali fazer-lhes um teste de selecção, pedindo-lhes que formulassem um desejo. Estaline, em jogada de antecipação, e de punho erguido, gritou:
- Que os americanos se danem e vão parar ao inferno, Camarada!

Truman aceitou o repto e respondeu-lhe num ápice:
- Oh My God, fazei com que a Rússia soviética seja posta a ferro e fogo!

De Gaulle, em posição de sentido, formulou expressamente o desejo de entrar no céu e gritar “Vive la France!”:
- Mon bon Dieu de France, dai-me esse privilégio ! Só pelo prazer de ouvir o eco da minha própria voz a atravessar o Atlântico e fazer tremer os vidros da Casa Branca.

- E Vossa Excelência, Sir Winston Churchil, perguntou o Criador ?
- Oh My Lord, eu só quero um charuto… Mas pode servir primeiro esses senhores, que eu não tenho pressa.

Moral da história:

(1) A vingança serve-se fria, o último a rir é o que ri melhor.

(2) Deus protege os fumadores: Se Ele quisesse que a gente não fumasse,
não nos tinha dado pulmões, nariz e boca…

(3) Deus não desce do Olimpo para tabaquear o caso connosco (dizem os alentejanos).

(4) “Smoke, don’t make war”.

(5) Não peçam muito, peçam bem.

(6) Usem, mas não abusem… Muita saúde, pouca vida, que Deus não dá tudo!

(7) Cuida-te em terra, avia-te no céu.

(8) Deus faz-nos sempre a última vontade, a do condenado à morte.

(9) Fumar mata mas não é pecado: Pelo menos, não está escrito nos dez mandamentos.

(10) Letreiro à porta do cemitério: Campo da Igualdade, rico ou pobres, médico ou doente, tanto morres do mal como morres da cura.

13 outubro 2003

Estórias com mural ao fundo - X: Jesus Cristo e o malandro do portuga

Estavam um inglês, um francês e um portuga num bar irlandês, junto á zona ribeirinha do Tejo, quando o inglês diz aos outros:



- Ei, man, esse gajo que acabou de entrar é mesmo igualzinho ao Jesus Cristo!

- O quê, meu ? – perguntou o portuga, incrédulo.

- Impossible, ele morreu há dois mil anos ! - arrematou o francês.

- Estou-vos a dizer. A barba, a túnica....



O inglês levanta-se, dirige-se ao recém chegado e pergunta:

- Man, tu és o Jesus Cristo, não é verdade?

-Eu? Que ideia!

-Não tenho dúvidas. Tu és mesmo o Jesus Cristo.

-Já te disse que não... Mas fala mais baixinho, if you please!

- I'm sure, tu és o filho de Deus Pai, Todo Poderoso!



Depois de tanta insistência, o homem acabou por confessar a verdade:

-Sou efectivamente o Jesus Cristo, estou de férias, de passagem por Lisboa... mas não digas a ninguém, senão isto fica aqui um pandemónio.

-Fiz uma lesão no joelho em pequeno. Cura-me, My Lord!

-Milagres, não, meu filho. Tu vais contar aos teus amigos e eu passo a tarde a trabalhar.



O inglês tanto insiste que Jesus Cristo põe-lhe a mão sobre o joelho e cura-o.

-Obrigado, Senhor! Many thanks, many thanks!-, disse emocionado o inglês

-Sim, sim. Mas não grites e vai-te embora. Não contes nada a ninguém.



Claro que o ingês, mal chegou à mesa, desbundou, contou tudo aos amigos. O francês levantou-se logo e dirigiu-se a ele.

- Mon ami anglais m' a dit que tu es le fils du Seigneur... E que operaste um grande milagre. Sou um pobre marinheiro, tenho um olho de vidro... Un accident de travail, à la mer. Cura-me, por favor.

-Não sou nada Jesus Cristo. Fala baixinho.



O francês tanto lhe rogou que Jesus Cristo acabou também por passar-lhe a mão pelos olhos e curou-o.

-Vai-te agora embora, garçon, e não contes nada a ninguém.



Mas Jesus Cristo bem o viu a contar a grande maravilha aos amigos. Curioso, ficou à espera de ver o português levantar-se e ir ter com ele. O tempo foi passando e nada. Tomou então a iniciativa de dirigir-se à mesa dos três amigos e, pondo a mão sobre o ombro do portuga, começou a reinar com ele:

-Então, ó meu, tu não queres.....



O português levantou-se de um salto e afastou-se do alegado filho de Deus, com maus modos:

-Eh, pá, tira as manápulas de cima, que eu estou de baixa!





Moral da história:



Este era o milagre que o São Bagão Félix certamente gostaria que Jesus Cristo fizesse, na suas curtas férias de Lisboa, já que todos os anos há 800 mil portugueses com baixa, a cargo do Regime Geral da Segurança Social, custando cerca de 100 milhões de contos de subsídio por doença (incluindo a tuberculose)... Depois da promulgação do Código do trabalho, isto seria ouro sobre azul, o verdadeiro grande milagre: o regresso da malandragem toda ao trabalho!...



No caso desta história, bem poderia aplicar-se ao malandro do portuga o provérbio: "Faz bem ao vilão, morder-te-á a mão; castiga o vilão, beijar-te-á a mão".



Fonte: (Ex)citações de cada dia: Fóruns sobre Segurança e Saúde no Trabalho

Estórias com mural ao fundo - X: Jesus Cristo e o malandro do portuga

Estavam um inglês, um francês e um portuga num bar irlandês, junto á zona ribeirinha do Tejo, quando o inglês diz aos outros:

- Ei, man, esse gajo que acabou de entrar é mesmo igualzinho ao Jesus Cristo!
- O quê, meu ? – perguntou o portuga, incrédulo.
- Impossible, ele morreu há dois mil anos ! - arrematou o francês.
- Estou-vos a dizer. A barba, a túnica....

O inglês levanta-se, dirige-se ao recém chegado e pergunta:
- Man, tu és o Jesus Cristo, não é verdade?
-Eu? Que ideia!
-Não tenho dúvidas. Tu és mesmo o Jesus Cristo.
-Já te disse que não... Mas fala mais baixinho, if you please!
- I'm sure, tu és o filho de Deus Pai, Todo Poderoso!

Depois de tanta insistência, o homem acabou por confessar a verdade:
-Sou efectivamente o Jesus Cristo, estou de férias, de passagem por Lisboa... mas não digas a ninguém, senão isto fica aqui um pandemónio.
-Fiz uma lesão no joelho em pequeno. Cura-me, My Lord!
-Milagres, não, meu filho. Tu vais contar aos teus amigos e eu passo a tarde a trabalhar.

O inglês tanto insiste que Jesus Cristo põe-lhe a mão sobre o joelho e cura-o.
-Obrigado, Senhor! Many thanks, many thanks!-, disse emocionado o inglês
-Sim, sim. Mas não grites e vai-te embora. Não contes nada a ninguém.

Claro que o ingês, mal chegou à mesa, desbundou, contou tudo aos amigos. O francês levantou-se logo e dirigiu-se a ele.
- Mon ami anglais m' a dit que tu es le fils du Seigneur... E que operaste um grande milagre. Sou um pobre marinheiro, tenho um olho de vidro... Un accident de travail, à la mer. Cura-me, por favor.
-Não sou nada Jesus Cristo. Fala baixinho.

O francês tanto lhe rogou que Jesus Cristo acabou também por passar-lhe a mão pelos olhos e curou-o.
-Vai-te agora embora, garçon, e não contes nada a ninguém.

Mas Jesus Cristo bem o viu a contar a grande maravilha aos amigos. Curioso, ficou à espera de ver o português levantar-se e ir ter com ele. O tempo foi passando e nada. Tomou então a iniciativa de dirigir-se à mesa dos três amigos e, pondo a mão sobre o ombro do portuga, começou a reinar com ele:
-Então, ó meu, tu não queres.....

O português levantou-se de um salto e afastou-se do alegado filho de Deus, com maus modos:
-Eh, pá, tira as manápulas de cima, que eu estou de baixa!


Moral da história:

Este era o milagre que o São Bagão Félix certamente gostaria que Jesus Cristo fizesse, na suas curtas férias de Lisboa, já que todos os anos há 800 mil portugueses com baixa, a cargo do Regime Geral da Segurança Social, custando cerca de 100 milhões de contos de subsídio por doença (incluindo a tuberculose)... Depois da promulgação do Código do trabalho, isto seria ouro sobre azul, o verdadeiro grande milagre: o regresso da malandragem toda ao trabalho!...

No caso desta história, bem poderia aplicar-se ao malandro do portuga o provérbio: "Faz bem ao vilão, morder-te-á a mão; castiga o vilão, beijar-te-á a mão".

Fonte: (Ex)citações de cada dia: Fóruns sobre Segurança e Saúde no Trabalho