11 dezembro 2003

Socio(b)logia - II: Cidade e identidade

Perguntaram-me há dias, em entrevista, se a cidade e a sua dimensão influem na identidade de cada um



A minha primeira reacção foi pensar que a pergunta era idiota. Mas depois reflecti um pouco mais. Até por consideração para com o meu jovem entrevistador, por sinal um aprendiz de sociólogo. Talvez a pergunta fizesse algum sentido... Seguramente que faz sentido. Como qualquer outra pergunta, por mais absurda que te pareça.



Eis o que eu, blogador, penso a respeito desta questão: Cada pessoa traz, no seu bilhete de identidade, o nome da localidade ou região onde nasceu. Mas também aquela onde vive. Julgo que não será tanto a dimensão da cidade, como certos traços da cidade (ou da região) onde se nasceu, que são elementos constitutivos da nossa identidade. A par de outros como a classe social dos progenitores e educadores... Em suma, o teu habitat também faz parte da tua matriz sociocultural. Que significado tem para um vienense ter nascido em Viena ? Muita: ele próprio se distingue dos restantes austríacos, segundo percebi quando lá estive… O prestígio, o glamour, a riqueza, a história, a monumentalidade, a posição geográfica, as personalidades marcantes ou a cultura da cidade são outros tantos elementos importantes de identificação… Um nova-iorquino muito provavelmente identifica-se mais com Manhattan onde nasceu do que outras zonas da grande metrópole de Nova Iorque onde provavelmente nunca foi.



Um lisboeta, filho de pais que vieram da província nos anos 60 ou 70, que nasceu na Maternidade Alfredo da Costa e vive hoje no Rio de Mouro, muito provavelmente só tem da vivência de Lisboa uma escassa memória que lhe vem da primeira infância. Em que medida Lisboa está associada à sua identidade como pessoa, cidadão, português ? Provavelmente volta a Lisboa, todos os dias, como trabalhador da periferia, engarrafado na famigerada IC 19 ou pendurado no combóio da linha de Sintra... Podíamos falar de uma identidade suburbana, mas não me perguntes o que é a identidade do habitante de Rio de Mouro. Noutro Rio, mas de Onor, Jorge Dias e, mais tarde, Pais de Brito, ambos antropólogos em épocas diferentes, ainda descobriram uma identidade que estava associada indelevelmente à economia agro-pastoril de montanha e à organização comunitária...



É diferente o caso do alfacinha que nasceu e viveu num dos bairros populares de Lisboa (Alfama, Mouraria, Madragoa, Alcântara, Campo de Ourique e outras “antigas aldeias” de Lisboa…). Hoje as grandes cidades são anómicas e as pessoas acabam por ser expulsas para as periferias onde a identidade se dilui ou se transforma... Estamos a falar de Lisboa, cidade, ou da Grande Lisboa, ou da Área Metropolitana de Lisboa ? Dizes que a cidade hoje é anómica, tal como ontem era um locus infectus… As nossas periferias suburbanas continuam anómicas, feias, agressivas, tristes e depremidas, apesar de algum esforço de humanização e modernização do espaço suburbano levado a cabo pelos poderes autárquico e central...



A seguir perguntas-me, meu caro jovem, em que medida os valores e a cultura de um cidade (Lisboa, Porto, Coimbra…) afectam a identidade do estudante universitário…



Respondo-te com uma outra pergunta: há um típico estudante universitário ? Lisboeta, coimbrão, portuense ? Não estudei o assunto, como sociólogo, mas em sociologuês te respondo: sem dúvida, os valores e a cultura de uma cidade, como por exemplo, Lisboa, Porto ou Coimbra, afectam a identidade de cada um de nós, enquanto estudantes universitários. Na medida em que ter sido estudante universitário (em Lisboa, Porto ou Coimbra) é algo que não se esquece, faz parte da nossa história de vida, do nosso curriculum vitae... Não tanto pela dimensão da cidade, como pela sua história e sobretudo pela organização da academia. Lisboa, por exemplo, não tem uma academia como Coimbra. Julgo que por avisada decisão do poder político: Salazar não brincava em serviço… E em Lisboa dividiu para reinar.



Lisboa tem três universidades públicas e não sei quantas privadas. Mas do ponto de vista antropológico e sociológico se calhar a identidade estudantil coimbrã é capaz de ser mais interessante ou mais forte ou mais visível. Mas o que é ser estudante hoje, em Coimbra ? Não passei por lá, não estou lá, não sou qualificado para falar do estudante coimbrão. O Porto, enquanto burgo, ainda tem uma identidade forte que lhe advêm da sua história como cidade burguesa e mercantil, de tradição liberal, resistente ao poder senhorial, primeiro, e central, depois. E mais recentemente das proezas futebolísticas de uma das suas equipas de futebol (sim, porque o Porto também é o Boavista, também é o Salgueiros, embora estes sejam clubes de bairro...). Recorde-se que as universidade do Porto e de Lisboa só existem desde 1911, embora estas duas cidades já tivessem ensino superior há mais tempo (por ex., as Escolas Médico-Cirúrgicas, desde 1836).



E o cosmopolitismo ? Também afecta o modo de pensar, a identidade, as ideias, os modos de interacção social ?



Grandes cidades cosmopolitas como Nova Iorque, Londres ou Paris seguramente que afectam a identidade de quem lá vive (e talvez de quem lá nasceu ou lá tem raízes…), a sua sociabilidade, os seus valores, as suas atitudes ou até os seus comportamentos...A sua maneira de pensar, de viver, de habitar, de trabalhar, de consumir, de amar e até de morrer... Mas acho que temos de rever o conceito de cosmopolitismo à luz da globalização. Há muitos estereótipos sobre o modo de ser citadino. O que é hoje ser romano em Roma ou parisiense em Paris ? O que é ser parisiense para um filho de um magrebino ? Ou lisboeta para um cabo-verdiano ? Ou alentejano na Amadora ? Ou turco em Berlim ?



Em todo o caso reconheço que as nossas cidades continuam a ser provincianas quando as comparamos com as grandes cidades europeias. Lisboa, Porto ou Coimbra são provincianas quando as comparamos com as de igual dimensão no país vizinho. O problema é o país que é provinciano, à escala regional e global… Claro que não o era na época dos Descobrimentos! Ou pelo menos Lisboa.



Diferenças entre Lisboa e Porto no contexto universitário ?



Bom, meu jovem, não sou sociólogo urbano nem etnólogo, fiz o meu curso de sociologia como trabalhador estudante no contexto muito particular do pós-25 de Abril. Embora sendo professor universitário em Lisboa, tenho alguma dificuldade em identificar uma identidade urbana dentro do espaço universitário lisboeta…



Por lado, não conheço muito bem a universidade do Porto, embora eu vá ao Porto com alguma regularidade ao longo do ano. Em rigor, não conheço a universidade do Porto, a não ser os edifícios das faculdades, vistos de fora… Julgo que entrei uma vez na Faculdade de Ciências Biomédicas Abel Salazar…



Em todo o caso, espero bem que existam algumas diferenças. Para melhor ou para pior. E desde que sejam estatisticamente significativas... Quanto mais não seja para contrariar a minha querida professora Maria Filomena Mónica que há dias arrasou de alto a baixo a universidade portuguesa pós-pombalina, do professores catedrático ao cão que morde ao doutor...



Bom, e para acabar: acha que essa coisa da densidade populacional é importante, é sociologicamente densa ?



Em sociologuês te respondo, meu rapaz. Se eu tivesse numa aula, seguramente que te responderia, com ar doutoral e grave, que, sem dúvida, a densidade populacional é um factor importante da sociabilidade, da qualidade de vida e da própria saúde mental das pessoas… O espaço urbano tornou-se patológico, esquizofrénico, concentraccionário, devido não só densidade populacional, à terciarização da economia, à construção em altura, à volumetria dos edifícios, à má arquitectura e ao mau urbanismo, mas sobretudo à segregação sócio-espacial. Ainda não chegámos ao arame farpado dos condomínios fechados e blindados do Rio de Janeiro, mas para lá caminhamos….



Em contrapartida, as pessoas hoje têm uma maior mobilidade geográfica e acabam por poder fugir, em liberdade condicional (e nem que seja por uns dias), do gueto onde vivem… Esse é, de resto, o papel dos “pacotes de férias” que se vendem hoje nos países ditos ricos e que servem para o anónimo cidadão, com algum crédito ou poder de compra, ir “carregar as baterias” num qualquer pseudo-paraíso terrestre… E no meio de tudo isto, acabei por perder o meu bilhete de identidade... Afinal, quem tu és, ó blogador? Bem podia ser o princípio da letra de um fado cantado pelo grande Camané...

Socio(b)logia - II: Cidade e identidade

Perguntaram-me há dias, em entrevista, se a cidade e a sua dimensão influem na identidade de cada um

A minha primeira reacção foi pensar que a pergunta era idiota. Mas depois reflecti um pouco mais. Até por consideração para com o meu jovem entrevistador, por sinal um aprendiz de sociólogo. Talvez a pergunta fizesse algum sentido... Seguramente que faz sentido. Como qualquer outra pergunta, por mais absurda que te pareça.

Eis o que eu, blogador, penso a respeito desta questão: Cada pessoa traz, no seu bilhete de identidade, o nome da localidade ou região onde nasceu. Mas também aquela onde vive. Julgo que não será tanto a dimensão da cidade, como certos traços da cidade (ou da região) onde se nasceu, que são elementos constitutivos da nossa identidade. A par de outros como a classe social dos progenitores e educadores... Em suma, o teu habitat também faz parte da tua matriz sociocultural. Que significado tem para um vienense ter nascido em Viena ? Muita: ele próprio se distingue dos restantes austríacos, segundo percebi quando lá estive… O prestígio, o glamour, a riqueza, a história, a monumentalidade, a posição geográfica, as personalidades marcantes ou a cultura da cidade são outros tantos elementos importantes de identificação… Um nova-iorquino muito provavelmente identifica-se mais com Manhattan onde nasceu do que outras zonas da grande metrópole de Nova Iorque onde provavelmente nunca foi.

Um lisboeta, filho de pais que vieram da província nos anos 60 ou 70, que nasceu na Maternidade Alfredo da Costa e vive hoje no Rio de Mouro, muito provavelmente só tem da vivência de Lisboa uma escassa memória que lhe vem da primeira infância. Em que medida Lisboa está associada à sua identidade como pessoa, cidadão, português ? Provavelmente volta a Lisboa, todos os dias, como trabalhador da periferia, engarrafado na famigerada IC 19 ou pendurado no combóio da linha de Sintra... Podíamos falar de uma identidade suburbana, mas não me perguntes o que é a identidade do habitante de Rio de Mouro. Noutro Rio, mas de Onor, Jorge Dias e, mais tarde, Pais de Brito, ambos antropólogos em épocas diferentes, ainda descobriram uma identidade que estava associada indelevelmente à economia agro-pastoril de montanha e à organização comunitária...

É diferente o caso do alfacinha que nasceu e viveu num dos bairros populares de Lisboa (Alfama, Mouraria, Madragoa, Alcântara, Campo de Ourique e outras “antigas aldeias” de Lisboa…). Hoje as grandes cidades são anómicas e as pessoas acabam por ser expulsas para as periferias onde a identidade se dilui ou se transforma... Estamos a falar de Lisboa, cidade, ou da Grande Lisboa, ou da Área Metropolitana de Lisboa ? Dizes que a cidade hoje é anómica, tal como ontem era um locus infectus… As nossas periferias suburbanas continuam anómicas, feias, agressivas, tristes e depremidas, apesar de algum esforço de humanização e modernização do espaço suburbano levado a cabo pelos poderes autárquico e central...

A seguir perguntas-me, meu caro jovem, em que medida os valores e a cultura de um cidade (Lisboa, Porto, Coimbra…) afectam a identidade do estudante universitário…

Respondo-te com uma outra pergunta: há um típico estudante universitário ? Lisboeta, coimbrão, portuense ? Não estudei o assunto, como sociólogo, mas em sociologuês te respondo: sem dúvida, os valores e a cultura de uma cidade, como por exemplo, Lisboa, Porto ou Coimbra, afectam a identidade de cada um de nós, enquanto estudantes universitários. Na medida em que ter sido estudante universitário (em Lisboa, Porto ou Coimbra) é algo que não se esquece, faz parte da nossa história de vida, do nosso curriculum vitae... Não tanto pela dimensão da cidade, como pela sua história e sobretudo pela organização da academia. Lisboa, por exemplo, não tem uma academia como Coimbra. Julgo que por avisada decisão do poder político: Salazar não brincava em serviço… E em Lisboa dividiu para reinar.

Lisboa tem três universidades públicas e não sei quantas privadas. Mas do ponto de vista antropológico e sociológico se calhar a identidade estudantil coimbrã é capaz de ser mais interessante ou mais forte ou mais visível. Mas o que é ser estudante hoje, em Coimbra ? Não passei por lá, não estou lá, não sou qualificado para falar do estudante coimbrão. O Porto, enquanto burgo, ainda tem uma identidade forte que lhe advêm da sua história como cidade burguesa e mercantil, de tradição liberal, resistente ao poder senhorial, primeiro, e central, depois. E mais recentemente das proezas futebolísticas de uma das suas equipas de futebol (sim, porque o Porto também é o Boavista, também é o Salgueiros, embora estes sejam clubes de bairro...). Recorde-se que as universidade do Porto e de Lisboa só existem desde 1911, embora estas duas cidades já tivessem ensino superior há mais tempo (por ex., as Escolas Médico-Cirúrgicas, desde 1836).

E o cosmopolitismo ? Também afecta o modo de pensar, a identidade, as ideias, os modos de interacção social ?

Grandes cidades cosmopolitas como Nova Iorque, Londres ou Paris seguramente que afectam a identidade de quem lá vive (e talvez de quem lá nasceu ou lá tem raízes…), a sua sociabilidade, os seus valores, as suas atitudes ou até os seus comportamentos...A sua maneira de pensar, de viver, de habitar, de trabalhar, de consumir, de amar e até de morrer... Mas acho que temos de rever o conceito de cosmopolitismo à luz da globalização. Há muitos estereótipos sobre o modo de ser citadino. O que é hoje ser romano em Roma ou parisiense em Paris ? O que é ser parisiense para um filho de um magrebino ? Ou lisboeta para um cabo-verdiano ? Ou alentejano na Amadora ? Ou turco em Berlim ?

Em todo o caso reconheço que as nossas cidades continuam a ser provincianas quando as comparamos com as grandes cidades europeias. Lisboa, Porto ou Coimbra são provincianas quando as comparamos com as de igual dimensão no país vizinho. O problema é o país que é provinciano, à escala regional e global… Claro que não o era na época dos Descobrimentos! Ou pelo menos Lisboa.

Diferenças entre Lisboa e Porto no contexto universitário ?

Bom, meu jovem, não sou sociólogo urbano nem etnólogo, fiz o meu curso de sociologia como trabalhador estudante no contexto muito particular do pós-25 de Abril. Embora sendo professor universitário em Lisboa, tenho alguma dificuldade em identificar uma identidade urbana dentro do espaço universitário lisboeta…

Por lado, não conheço muito bem a universidade do Porto, embora eu vá ao Porto com alguma regularidade ao longo do ano. Em rigor, não conheço a universidade do Porto, a não ser os edifícios das faculdades, vistos de fora… Julgo que entrei uma vez na Faculdade de Ciências Biomédicas Abel Salazar…

Em todo o caso, espero bem que existam algumas diferenças. Para melhor ou para pior. E desde que sejam estatisticamente significativas... Quanto mais não seja para contrariar a minha querida professora Maria Filomena Mónica que há dias arrasou de alto a baixo a universidade portuguesa pós-pombalina, do professores catedrático ao cão que morde ao doutor...

Bom, e para acabar: acha que essa coisa da densidade populacional é importante, é sociologicamente densa ?

Em sociologuês te respondo, meu rapaz. Se eu tivesse numa aula, seguramente que te responderia, com ar doutoral e grave, que, sem dúvida, a densidade populacional é um factor importante da sociabilidade, da qualidade de vida e da própria saúde mental das pessoas… O espaço urbano tornou-se patológico, esquizofrénico, concentraccionário, devido não só densidade populacional, à terciarização da economia, à construção em altura, à volumetria dos edifícios, à má arquitectura e ao mau urbanismo, mas sobretudo à segregação sócio-espacial. Ainda não chegámos ao arame farpado dos condomínios fechados e blindados do Rio de Janeiro, mas para lá caminhamos….

Em contrapartida, as pessoas hoje têm uma maior mobilidade geográfica e acabam por poder fugir, em liberdade condicional (e nem que seja por uns dias), do gueto onde vivem… Esse é, de resto, o papel dos “pacotes de férias” que se vendem hoje nos países ditos ricos e que servem para o anónimo cidadão, com algum crédito ou poder de compra, ir “carregar as baterias” num qualquer pseudo-paraíso terrestre… E no meio de tudo isto, acabei por perder o meu bilhete de identidade... Afinal, quem tu és, ó blogador? Bem podia ser o princípio da letra de um fado cantado pelo grande Camané...

09 dezembro 2003

Portugal sacro-profano - XI: Monsanto ou a floresta do lobo mau

Fui ontem, feriado, fazer o meu jogging no Parque Florestal de Monsanto. Já o faço há mais de 15 anos, com maior ou menor regularidade. Sozinho ou às vezes com a família.



Monsanto é um espaço fabuloso de cerca de mil hectares (1/8 da área da cidade de Lisboa), que muitos lisboetas desconhecem ou não usufruem devidamente. E que outros maltratam, cercando-o de cimento armado e alcatrão. Ou cobiçam, na mira da especulação imobiliária. Destaco, muito em especial, os seus 300 km de caminhos pedestres, para além da riqueza da sua flora e fauna.



É certo que a manhã estava chuvosa, pouco convidativa para as actividades ao ar livre. Em mais de hora e meia, encontrei apenas um pequeno grupo de seis pessoas fazendo jogging, além de alguns cicloturistas solitários e um coelho espavorido.



Há uma estranha relação dos portugas, rurais ou citadinos, com a floresta: ela sempre nos inspirou um misto contraditadório de encantamento, respeito e medo. O medo é ancestral e, no caso das pessoas da minha geração, poderá estar associada à experiência da guerra colonial ou às vivências de África. Haverá mais de um milhão de portugueses que, ao olharem para uma árvore de uma floresta, são capazes de imaginar, por detrás dela, um RPG-7 (o mais famoso lança-granadas do mundo) ou uma kalashnikov (a mais famosa espingarda automática de todos os tempos). Ao caminhares, solitário, por Monsanto, são outros nomes, exóticos, que te vêm à cabeça, por uns instantes, em rápido flashback: as matas do Morés, do Xime ou do Corubal, o Mato Cão, a Ponta do Inglês...



No caso de Monsanto, isso é agravado por estereótipos profundamente arreigados no imaginário do lisboeta. Estereótipos associados ao crime, à prostituição e à marginalidade. Ontem e hoje. Antes de ser reflorestada a serra de Monsanto era habitada por um estranho povo, parte do lumpen-proletariado de Lisboa, com famílias inteiras vivendo como animais em furnas que o Duarte Pacheco teve que mandar obstruir!!! Essas marcas ainda são visíveis na paisagem...



Leio algures nos sítios que selecionei para os leitores deste blogue, que cerca de dois milhões de pessoas visitam anualmente este espaço, incluindo os diversos parques recreativos. Eu acho que é pouco, que é ainda pouco. E sobretudo são em número irrisório os que fazem jogging em Monsanto. Eu acho que os lisboetas e os saloios da periferia de Lisboa ainda continuam de costas voltadas para Monsanto. Sobretudo continuam muito sedentários. E, mais ainda, muito dependentes do automóvel.



Sem dúvida que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) terá que se esforçar mais para mudar esta atitude negativa dos lisboetas e demais portugas que residem nos concelhos limítrofes, como o meu, relativamente à fruição do seu "pulmão verde". De qualquer modo, deixem-me dar os meus parabéns à CML que está a executar um programa de limpeza e reflorestação para pôr Monsanto "novinho em folha"... É de aplaudir também o corte do trânsito automóvel aos fins-de-semana, no verão, a par da melhoria da segurança, da acessibilidade e da sinalização.



Aqui ficam, entretanto, alguns sítios com informações interessantes sobre o Monsanto, o mal amado, ou a floresta do lobo mau.



Câmara Municipal de Lisboa – Espaços Verdes



A segurança no Parque Florestal de Monsanto



Parque Ecológico de Monsanto



Portugal sacro-profano - XI: Monsanto ou a floresta do lobo mau

Fui ontem, feriado, fazer o meu jogging no Parque Florestal de Monsanto. Já o faço há mais de 15 anos, com maior ou menor regularidade. Sozinho ou às vezes com a família.

Monsanto é um espaço fabuloso de cerca de mil hectares (1/8 da área da cidade de Lisboa), que muitos lisboetas desconhecem ou não usufruem devidamente. E que outros maltratam, cercando-o de cimento armado e alcatrão. Ou cobiçam, na mira da especulação imobiliária. Destaco, muito em especial, os seus 300 km de caminhos pedestres, para além da riqueza da sua flora e fauna.

É certo que a manhã estava chuvosa, pouco convidativa para as actividades ao ar livre. Em mais de hora e meia, encontrei apenas um pequeno grupo de seis pessoas fazendo jogging, além de alguns cicloturistas solitários e um coelho espavorido.

Há uma estranha relação dos portugas, rurais ou citadinos, com a floresta: ela sempre nos inspirou um misto contraditadório de encantamento, respeito e medo. O medo é ancestral e, no caso das pessoas da minha geração, poderá estar associada à experiência da guerra colonial ou às vivências de África. Haverá mais de um milhão de portugueses que, ao olharem para uma árvore de uma floresta, são capazes de imaginar, por detrás dela, um RPG-7 (o mais famoso lança-granadas do mundo) ou uma kalashnikov (a mais famosa espingarda automática de todos os tempos). Ao caminhares, solitário, por Monsanto, são outros nomes, exóticos, que te vêm à cabeça, por uns instantes, em rápido flashback: as matas do Morés, do Xime ou do Corubal, o Mato Cão, a Ponta do Inglês...

No caso de Monsanto, isso é agravado por estereótipos profundamente arreigados no imaginário do lisboeta. Estereótipos associados ao crime, à prostituição e à marginalidade. Ontem e hoje. Antes de ser reflorestada a serra de Monsanto era habitada por um estranho povo, parte do lumpen-proletariado de Lisboa, com famílias inteiras vivendo como animais em furnas que o Duarte Pacheco teve que mandar obstruir!!! Essas marcas ainda são visíveis na paisagem...

Leio algures nos sítios que selecionei para os leitores deste blogue, que cerca de dois milhões de pessoas visitam anualmente este espaço, incluindo os diversos parques recreativos. Eu acho que é pouco, que é ainda pouco. E sobretudo são em número irrisório os que fazem jogging em Monsanto. Eu acho que os lisboetas e os saloios da periferia de Lisboa ainda continuam de costas voltadas para Monsanto. Sobretudo continuam muito sedentários. E, mais ainda, muito dependentes do automóvel.

Sem dúvida que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) terá que se esforçar mais para mudar esta atitude negativa dos lisboetas e demais portugas que residem nos concelhos limítrofes, como o meu, relativamente à fruição do seu "pulmão verde". De qualquer modo, deixem-me dar os meus parabéns à CML que está a executar um programa de limpeza e reflorestação para pôr Monsanto "novinho em folha"... É de aplaudir também o corte do trânsito automóvel aos fins-de-semana, no verão, a par da melhoria da segurança, da acessibilidade e da sinalização.

Aqui ficam, entretanto, alguns sítios com informações interessantes sobre o Monsanto, o mal amado, ou a floresta do lobo mau.

Câmara Municipal de Lisboa – Espaços Verdes

A segurança no Parque Florestal de Monsanto

Parque Ecológico de Monsanto