27 maio 2005

Guiné 69/71 - XXVII: "Um ataque ao destacamento de Banjara (1968)" (2)

1. A propósito do relato do ataque do IN ao destacamento de Banjara e da reacção das NT, comenta o Afonso Sousa:

27 de Maio de 2005:

"Por curiosidade estive a ver as coordenadas geográficas dos locais que, por desempenho de missão, [o A. Marques Lopes]tão bem conheceu.

"São estas as distâncias (em linha recta), [entre os seguintes pontos e Geba, sede da CART 1690]:

- Sinchã Jobel: 13 km
- Sinchã Culo: 60,5 km
- Banjara: 27,4 km
- Sare Madina: 6,6 km
- Sinchã Sutu: 5,6 km
- Sare Banda: 11,7 km
- Camamudo: 11,7 km


"A realidade (pelo terreno) é bem diferente. Como diz o ilustre oficial António Marques Lopes, entre Geba e Banjara eram 45 Km quando, em linha recta eram apenas 27,4. Prevejo que há por ali uma acentuada sinuosidade no trajecto e, se calhar, através de mata algo densa (a mata do Óio era tenebrosa, conhecida por muitos e falada por quase todos).

"Isto é apenas uma constação, à distância, mas certamente não estarei longe da realidade".

Afonso M. F. Sousa



2. Resposta do A. Marques Lopes, no mesmo dia:

"Amigo Afonso M.F. Sousa: Como bem diz, o caminho era mesmo muito sinuoso, ultrapassando em muito a distância entre coordenadas geográficas, que são, de facto, medidas em linha recta. Já agora, peço-lhe que me indique qual o sítio que utilizou para conseguir esses dados. Explico: estou a escrever umas coisas e faltam-me alguns elementos que penso poderei conseguir nesse sítio.

"A propósito de Carlos Fabião [que é referido pelo Afonso Sousa numa outra mensagem anterior], tenho uma óptima recordação dele: num dia em que estive em Bissau (na noite de 31 de Dezembro de 1968 para 1 de Janeiro de 1969), fui destacado pelo Comando-Chefe para montar uma emboscada com um grupo nos arredores de Brá, onde estava o aeroporto de Bissau (era o receio de um ataque na passagem do ano...).

"Umas horas antes, fui até à messe de oficiais, em Santa Luzia, para beber (preparação importante!). Tinha vestido, é claro, o meu camuflado de muitos combates e de muito tempo de mato, estava debotado, algo sujo, se calhar, também com alguns buracos. Estava eu assentado num dos maples, bebendo uma cerveja, quando chega o gerente da messe, um tenente-coronel a quem chamavam o lavrador (parece que a ocupação principal dele era gerir uma horta que havia lá), e me diz peremptoriamente: 'Não pode estar aqui porque o seu camuflado está sujo!'.

"Foi o bom e o bonito, como se calcula. Quase que chegámos a vias de facto. Foi, então, que interviu o então major Fabião, que lá se encontrava também. Procurou pôr água na fervura, e lá conseguiu. O lavrador afastou-se e, em conversa comigo, depois, o major Fabião deu-me razão e disse-me que, se eu quisesse, podia apresentar queixa ao general Spínola, que não era nada meigo com situações destas, em que os combatentes eram maltratados pelos burocratas. Não o fiz, porque não era o meu tipo de guerra... mas agradeci o gesto do então major Fabião.

"A propósito de Barro [também referido na citada mensafem de Afonso Sousa]: lembra-se que, em tempos, lhe enviei uma fotografias de Barro? Mais lá para a frente hei-de enviar mais coisas sobre Barro, onde estive com a Companhia de Caçadores nº 3.

"Um abraço. A. Marques Lopes"

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