02 julho 2005

Guiné 69/71 - XCIII: Barro, trinta anos depois (1968-1998)

Texto de Afonso M. F. Sousa, ex-furriel miliciano de transmissões da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70), a propósito do post Guiné 69/71 - LIV: Cacuto Seidi, chefe da tabanca de Barro (15 de Junho de 2005)


Caro António Marques Lopes:

Recordo-me muito bem dele [o Cacuto Seidi]. As cinco mulheres !... Falávamos nisso. Alternavam a dormir com o Seidi.

Quanto à pequena e rudimentar pista de meios aéreos pequenos, ficava aí a 100m da fachada Norte do edifício do comando e secretaria. Havia um pequeno carreiro descendente, para Leste, que entroncava no caminho Barro-Bigene, próximo da cozinha do aquartelamento. De certeza que conhece.

Neste mesmo edifício ficava também o aquartelamento dos oficiais e o centro cripto.
Uma vez (era meia-noite), eu e o cabo cripto (que estávamos a descodificar umas mensagens) fomos surpreendidos com forte ataque vindo de zona próxima do arame farpado junto à referida pista. Como estávamos em posição frontal e a uns escassos 150/200 metros, a nossa primeira reacção foi atirar-nos para baixo da nossa mesa de trabalho.

Logo ao lado, do abrigo contíguo ao edifício, sentimos a pronta reacção do nosso morteiro, de imediato acompanhada por toda a companhia. Foi quase meia hora de intenso tiroteio, felizmente sem consequências. Apenas a lamentar a perda de uma perna por parte de um nativo, na manhã seguinte, quando se procedia ao reconhecimento da zona imediatamente a Norte da pista. Deixaram minas anti-pessoais e foi uma delas que o vitimou.

Já agora permita perguntar-lhe: e em frente ao edifício de comando/secretaria onde funcionava o depósito de géneros, a área dos mecânicos-auto e o dormitório dos praças, isso já não existia [em 1998, quando lá voltou, trinta anos depois] ?

E aquelas duas altas mangueiras, logo a seguir (para Sul), entre as quais tínhamos instalada a antena horizontal dípolo (elas funcionavam como mastro) ? Ao lado ficava o posto rádio e a enfermaria.

A sua constatação foi a de que aquela terra, tal como quase todas, não sofreu ainda os ventos da libertação, da democracia e do progresso. É assim ?

Um abraço (mais sentido por termos, longe da pátria, calcorreado os mesmos caminhos, algures na Guiné)

Afonso Sousa

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