25 novembro 2005

Guiné 63/74 - CCCXI: Pelundo: Nº do batalhão ? Não sei, não me lembro (João Tunes)

Pelundo > Dezembro de 1969 > O nosso artista ao volante do jipe MG-70-86. © João Tunes (2005).


1. Há tempos o João Tunes mandou-me umas fotos do tempo dele, no Pelundo e depois, da porrada que levou, no Catió e arredores...

Por outro laddo, apareceu-nos aí o João Varanda que esteve em Có e prometeu arranjar mais umas fotos... Daí estar a pensar em criar uma página sobre esta região Có - Pelundo - Teixeira Pinto...

Disse isso ao João, ao mesmo tempo que lhe perguntava, sem malícia, se já lhe tinha passado a branca na memória: ele que que esteve na CCS do Batalhão, sediado no Pelundo, não sabe ou quer lembrar-se do númerro do raio do batalhão... Ele lá tem as suas razões que a tertúlia respeita...

Perguntei-lhe também se o João Varanda, de Coimbra, já lhe tinha respondido. Eis aqui a mensagem do nosso querido, frontal e sempre bem-vindo João Tunes, autor do blogue Água Lisa (4). (cuja visita regular eu recomendo aos nossos amigos e camaradas de tertúlia).

2. Caro Luís:

É como dizes, não me lembro mesmo [não, a bold, como faz questão de frisar o autor, em 2ª via]. BCAÇ 2864? BCAÇ 2854? Por aí...

Pois, o João Varanda nada disse, mas pensando nos dados que ele deu, a sua Companhia açoreana não pertenceu ao meu Batalhão, foi sim em reforço à Companhia do meu Batalhão e que ele chama de velhinhos. O que não invalida, pelas datas, que não tenha estado em Có ao mesmo tempo que ele (eu, de tempos a tempos, pela minha missão, ia até lá).

Mas de Có, além de me lembrar bem do quartel, memorizei a estrada em construção (Có-Pelundo-Teixeira Pinto), com segurança especial, os copos (muitos copos bebi em Có, o que não admira, eu até bebi copos onde não havia copos, bebendo pelo gargalo) e o tal capitão miliciano, economista e antifascista, lá de Có (também não lembro o nome, mas estou a ver-lhe a cara) que era um compincha do caraças para cortar na casaca do Marcelo, do Caco e das putas que os pariram.

Já tenho pensado (pouco...) nesta coisa de não me lembrar no nº do meu Batalhão do Pelundo e nem sequer do outro, o de Catió. Acho que foi um filtro qualquer de rejeição que se me meteu na memória depois de lá voltar. Prefiro que assim seja, que esquecer-me dos gajos porreiros com que me cruzei naquela guerra de merda, obrigando-nos a sermos camaradas mais que irmãos.

Lembras-te? Um qualquer cabrão, daqueles gajos de merda, os mal paridos, os egoístas e das peneiras de merda, também os havia de quando em vez e um pouco por toda a parte, na Guiné tinham a vida toda fodida, um gajo na guerra se não consegue ser camarada está mesmo fodido de todo, não enturma e tem de aguentar solitariamente com os cornos solitários e, na guerra, um gajo tem de ser camarada senão não aguenta as solidões dos guerreiros a pensar na terra e nos seus.

E acho que a Guiné nos deu isso a todos, sermos fodidos com os pretos que lá nos queriam, amigos dos pretos amigos e camaradas para o maralhal. Um gajo no mato que trocasse os circuitos, querendo foder camarada, estava ele lixado porque entrava em curto-circuito. Hoje, julgo que nos resta essa humanização, camarada entre camaradas (e que a cada um nos tornou melhores como homens), aspecto positivo, e limparmos a alma do pior que fizemos ao estarmos ali - andarmos a foder pretos por defenderem terra sua. Se conservarmos o melhor e nos reconciliarmos no pior, interiorizando respeito por quem nos combateu e dando-lhes a razão que tinham, então somos mesmo, todos, uns gajos porreiros.

Pois o blogue está a ficar catita, mais malta, mais contributos, a coisa apura-se. E verdade seja dita, o blogue ganhou com a chegada de um talento literário e de uma enorme inteireza de alma recuperada - que grande Briote! Que limpeza de memória, que verticalidade e, sobretudo, que poder de escrita! Um espectáculo, como diria o meu filho mais novo. E o puzzle vai-se completando. Ou muito me engano, ou a procissão ainda vai no adro.

Só te posso agradecer e elogiar a tua obra que nos levou a tantos, levando a mais no futuro (estou certo), a sermos honestos com o nosso passado como forma única de não nos escondermos, sacudindo dos olhos a lama da bolanha para entendermos que estivemos ali, não devendo estar ali, mas estando ali, agora aqui sem esquecer termos estado ali.

Grande abraço para ti. Outros tantos para os restantes e estimados camaradas tertulianos.
João Tunes

1 comentário:

Alfredo Veiga disse...

Gostava se possivel de ver fotos do Bart 6521/72 Sou Alfredo Veiga Cumprimentos a todos os ex-conbatentes