17 novembro 2005

Guiné 63/74 - CCXCVII: Mário Dias, o nosso homem da Ilha do Como

Aqui estou eu em 1965 (pose à cinéfilo, como se dizia na altura). © Mário Dias (2005)


Texto do Mário Dias, o nosso novo tertuliano:

Caro Luis:

Obrigado pela tua receptividade e simpatia. Na verdade, o Briote já várias vezes me tinha incentivado a juntar à tertúlia mas eu, pobre de mim, por ser um autêntico nabo nas manobras dos computadores - limito-me a martelar no Word e pouco mais - não me quis aventurar a tanto.

Espero por isso que, ao fazê-lo, me sejam relevadas as nabices de ordem técnica que possa eventualmente cometer e conto com a ajuda de todos.

Então, lá vai:

1 - Em anexo seguem as fotos do ontem e do hoje.

2 - Eu resido em Alhos Vedros e tenho uma página na internet sobre Música Coral > Partituras que, embora não relacionada com os temas do foranada poderá ser visitada por quem desejar. Trata-se de uma página onde disponibilizo partituras de música coral, actividade há muito da minha especial predileção, e que agora preenche grande parte dos meus ócios de reformado.

3 - Quanto ao termo guinéus [respondendo a uma pergunta posta poelo Luís Graça], ele foi introduzido pelo General Spínola. Até essa altura, eram referidos como guineenses nos meios mais evoluídos (portugueses e africanos assimilados). Na generalidade da população que falava crioulo, o adjectivo que qualifica o natural da Guiné, não existia. Diziam francês, português, inglês, etc., mas quanto a eles diziam simplesmente fidjo de Guiné (filho da Guiné).

4 - A minha vivência na guerra também é longa e conto, a seu tempo, ir narrando alguns episódio de interesse. De momento, estou a colaborar com alguns esclarecimentos na elaboração do História dos Comandos no âmbito da Direcção de Documentação e História Militar que sobre o assunto vai publicar um livro.

5 - Sem qualquer intento de crítica destrutiva, irei colaborar no que se refere à interpretação de alguns termos do crioulo e que os nossos militares deturparam completamente ao longo dos tempos. Nada de grave uma vez que as palavras significam aquilo que quem as profere entenda ser o seu sentido.

Por exemplo: é comum os militares utilizarem tabanca como casa, mas não é. Tabanca significa um aglomerado de casas - povoação; aldeia. As casas típicas da Guiné chamam-se em crioulo palhota ou até mesmo casa. Tomam a designação de morança quando duas ou mais palhotas do mesmo agregado familiar estão agrupadas e delimitadas por uma cerca que vulgarmente é uma sebe de cajueiros,de purgueira ou paliçadas de entrançado de verga a que chamam quirintim.

Um grande abraço para todos

Mário Dias

© Mário Dias (2005) Cá estou hoje. Instantâneo obtido em 24 de Setembro de 2005 durante a 1ª reunião de convívio (ao fim de 40 anos) dos Grupos de Comandos da Guiné (64/66). Ao ver as diferenças, veio-me à memória Guerra Junqueiro no seu poema Regresso ao lar: "...olha o teu menino, como está mudado"...

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