22 abril 2005

Guiné 69/71 - VI: Memórias do Xime, do Rio Geba e do Mato Cão

1. Diz-me o Sousa de Castro que foi o BART. 3873 (a que ele pertenceu) que rendeu o BART. 2917 em Janeiro de 1972. E acrescenta:

"O BART. [Batalão de Artilharia]3873 embarcou no N/M Niassa em meados do mês de Dezembro de 1971, passando o Natal desse ano no mar. Eu embarquei em Janeiro de 1972 nos TAM. Fui 1º cabo radiotelegrafista. Vivo em Vila Fria, concelho de Viana do Castelo e trabalho nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). Vou anexar um documento que me deixou algum tempo transtornado e algumas fotos do Xime, tiradas em 2001 por um camarada que pertenceu ao BART. 2917. É apenas uma pequena história que protagonizei. Curiosamente também temos o nosso convívio em 11 de Junho mas em Pataias, é o vigésimo".

2. Aqui fica, para divulgação, o texto que o Sousa de Castro me enviou e me autorizou a divulgar neste blogue:

"Fico até agradecido pela publicação dos meus escritos, não á problema nenhum. Tenho reencaminhado o seu Blog para colegas que estiveram na Guiné e com quem tenho contacto (...). Penso ser uma forma de incentivar as pessoas a fazerem buscas e interessarem-se sobre a nossa história. História que ninguém ousa contar. É extraordinário, quando encontramos algum ex-combatente e começamos a recordar, não só os momentos maus mas também os momentos bons. Aproveito para dizer que possuo um filme feito por um grupo de 10 ex-combatentes que visitaram a Guiné em Novembro de 2000, filme para mim espectacular, e caso curioso, no Xime, passados 28 ou 29 anos uma das lavadeiras da época reconheceu um ex-combatente, dizendo: 'Lúcio! Eu é que te lavava a roupa, não estás lembrado, não?'. Junto em anexo fotos de Bafatá, tiradas em 2001 e cedidas pelo David Guimarães, da CART. [Companhia de Artilharia] 2715, do Xitole".

Um grande abraço ao Sousa de Castro que já teve a gentileza de me contactar telefonicamente e me mandou fotos do Xime, de Bafatá e de Bissau (estas últimas também da autoria do David Guimarães). Ainda sobre a CART. 3494, do Xime, ficou a saber mais o seguinte:

"Não referi no e-mail anterior os mortos em combate da minha companhia. Aproveito agora para o fazer. Considerado mortos em combate, tivemos um: chamava-se Manuel da Rocha Bento, era Furriel Miliciano, natural de Ponte de Sôr. Feridos, tivemos vários, alguns deles com bastante gravidade, tendo sido evacuados para Bissau e posteriormente para o continente (terminando a comissão nesse momento).

"Já estive junto ao memorial [junto à Torre de Belém, em Lisboa] mas não tirei fotos no dia 20 de Outubro 2004, integrando a manifestação levada a efeito pela APVG (Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra, sedeada em Braga. Anexo fotos de Bissau cedidas pelo David Guimarães CART 2715 Xitole".

3.

Memórias da Guiné. Xime (1972-1974), por Sousa de Castro

"Xime. CART. 3494. 10 de Agosto de 1972.

"A companhia nesse dia recebeu instruções para fazer um patrulhamento através do rio Geba em lanchas e depois entrar no mato e seguir para Mato Cão. Tínhamos lembrado ao Major de Operações que a hora que ele, major, determinara para sair, não seria ideal, já que dentro de pouco tempo passaria o Macaréu(1).

"Mesmo assim ele entendeu que haveria tempo de sair antes de passar o Macaréu. Os pelotões envolvidos nesse patrulhamento não tiveram outra alternativa senão obedecer. Os soldados, pela experiência adquirida, sabiam que uma desgraça iria acontecer. Dá-se então aquilo que todos esperavam, e que não se podia evitar: são apanhados pelo Macaréu.

"A embarcação virou e então cada qual tentou desenrascar-se como pôde do perigo de morrer afogado. Muitos não sabiam nadar. Depois com todo peso de armamento que transportavam, para além da farda que envergavam, viram-se e desejaram-se para se safarem, mas nem todos o conseguiram. Assim morreram afogados três camaradas, sendo um da Póvoa de Varzim, casado, com uma filha, outro de Famalicão, este solteiro, e um terceiro que já não me recordo de onde era.

"Nesse mesmo dia todo pessoal da companhia desdobrou-se em esforços tentando encontrar os que desapareceram. Só apareceu o de Famalicão, no dia seguinte, já em estado de começo de decomposição.

"Normalmente a companhia fazia diariamente segurança à estrada que ligava o Xime a Bambadinca. Era necessário ir buscar o pelotão que fazia essa mesma segurança. Eu era radiotelegrafista, não podia sair do quartel, mas vendo o estado muito abatido devido ao cansaço em que os transmissões de infantaria se encontravam, peguei no transmissor AVP-1 e na G-3 (2), ofereci-me como voluntário e fui juntamente com o pelotão buscar o pessoal que fazia a segurança à dita estrada.

"Era de noite, então dá-se aquilo que eu não previa. Uma vez no local para agrupar o pessoal que fazia segurança da estrada, vi-me envolvido numa situação para mim única. Começa um forte tiroteio. Supondo ter sentido algo a mexer, eu, ao saltar da viatura, sem querer fiz um disparo, com pessoal na linha da frente. Fiquei preocupadíssimo, poderia ter atingido algum camarada meu, o que não aconteceu felizmente.

"Ao vir para o quartel, antes de entrar, o Furriel Carda, que era de Ponte de Sor (era quem comandava o pelotão que foi buscar a segurança no qual eu estava integrado) mandou parar as viaturas e disse: 'Alguém que está na minha viatura disparou um tiro. Quero saber quem foi. Ninguém quer dizer? É fácil. Cheira-se a arma de cada um e descobre-se já'.

"Como havia um alferes periquito (3, e a maior parte da malta pensando ter sido ele quem deu o tiro, acharam por bem que o melhor seria esquecer e ir embora para o quartel. Será que esse alferes também fez algum disparo? Ainda hoje estou na dúvida.

"Domingo 27 de Setembro 1998. Sousa de Castro".

Notas (S.C.):

(1) Sublevação brusca das águas, que se produz em certos estuários no momento da cheia e que progride rapidamente para as nascentes sob forma violenta, capaz de fazer estragos em pequenas embarcações.

(2) Espingarda automática usada pelas nossas tropas.

(3) Militar acabado de chegar à Guiné.

Guiné 69/71 - VI: Memórias do Xime, do Rio Geba e do Mato Cão

1. Diz-me o Sousa de Castro que foi o BART. 3873 (a que ele pertenceu) que rendeu o BART. 2917 em Janeiro de 1972. E acrescenta:

"O BART. [Batalão de Artilharia]3873 embarcou no N/M Niassa em meados do mês de Dezembro de 1971, passando o Natal desse ano no mar. Eu embarquei em Janeiro de 1972 nos TAM. Fui 1º cabo radiotelegrafista. Vivo em Vila Fria, concelho de Viana do Castelo e trabalho nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC). Vou anexar um documento que me deixou algum tempo transtornado e algumas fotos do Xime, tiradas em 2001 por um camarada que pertenceu ao BART. 2917. É apenas uma pequena história que protagonizei. Curiosamente também temos o nosso convívio em 11 de Junho mas em Pataias, é o vigésimo".

2. Aqui fica, para divulgação, o texto que o Sousa de Castro me enviou e me autorizou a divulgar neste blogue:

"Fico até agradecido pela publicação dos meus escritos, não á problema nenhum. Tenho reencaminhado o seu Blog para colegas que estiveram na Guiné e com quem tenho contacto (...). Penso ser uma forma de incentivar as pessoas a fazerem buscas e interessarem-se sobre a nossa história. História que ninguém ousa contar. É extraordinário, quando encontramos algum ex-combatente e começamos a recordar, não só os momentos maus mas também os momentos bons. Aproveito para dizer que possuo um filme feito por um grupo de 10 ex-combatentes que visitaram a Guiné em Novembro de 2000, filme para mim espectacular, e caso curioso, no Xime, passados 28 ou 29 anos uma das lavadeiras da época reconheceu um ex-combatente, dizendo: 'Lúcio! Eu é que te lavava a roupa, não estás lembrado, não?'. Junto em anexo fotos de Bafatá, tiradas em 2001 e cedidas pelo David Guimarães, da CART. [Companhia de Artilharia] 2715, do Xitole".

Um grande abraço ao Sousa de Castro que já teve a gentileza de me contactar telefonicamente e me mandou fotos do Xime, de Bafatá e de Bissau (estas últimas também da autoria do David Guimarães). Ainda sobre a CART. 3494, do Xime, ficou a saber mais o seguinte:

"Não referi no e-mail anterior os mortos em combate da minha companhia. Aproveito agora para o fazer. Considerado mortos em combate, tivemos um: chamava-se Manuel da Rocha Bento, era Furriel Miliciano, natural de Ponte de Sôr. Feridos, tivemos vários, alguns deles com bastante gravidade, tendo sido evacuados para Bissau e posteriormente para o continente (terminando a comissão nesse momento).

"Já estive junto ao memorial [junto à Torre de Belém, em Lisboa] mas não tirei fotos no dia 20 de Outubro 2004, integrando a manifestação levada a efeito pela APVG (Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra, sedeada em Braga. Anexo fotos de Bissau cedidas pelo David Guimarães CART 2715 Xitole".

3.

Memórias da Guiné. Xime (1972-1974), por Sousa de Castro

"Xime. CART. 3494. 10 de Agosto de 1972.

"A companhia nesse dia recebeu instruções para fazer um patrulhamento através do rio Geba em lanchas e depois entrar no mato e seguir para Mato Cão. Tínhamos lembrado ao Major de Operações que a hora que ele, major, determinara para sair, não seria ideal, já que dentro de pouco tempo passaria o Macaréu(1).

"Mesmo assim ele entendeu que haveria tempo de sair antes de passar o Macaréu. Os pelotões envolvidos nesse patrulhamento não tiveram outra alternativa senão obedecer. Os soldados, pela experiência adquirida, sabiam que uma desgraça iria acontecer. Dá-se então aquilo que todos esperavam, e que não se podia evitar: são apanhados pelo Macaréu.

"A embarcação virou e então cada qual tentou desenrascar-se como pôde do perigo de morrer afogado. Muitos não sabiam nadar. Depois com todo peso de armamento que transportavam, para além da farda que envergavam, viram-se e desejaram-se para se safarem, mas nem todos o conseguiram. Assim morreram afogados três camaradas, sendo um da Póvoa de Varzim, casado, com uma filha, outro de Famalicão, este solteiro, e um terceiro que já não me recordo de onde era.

"Nesse mesmo dia todo pessoal da companhia desdobrou-se em esforços tentando encontrar os que desapareceram. Só apareceu o de Famalicão, no dia seguinte, já em estado de começo de decomposição.

"Normalmente a companhia fazia diariamente segurança à estrada que ligava o Xime a Bambadinca. Era necessário ir buscar o pelotão que fazia essa mesma segurança. Eu era radiotelegrafista, não podia sair do quartel, mas vendo o estado muito abatido devido ao cansaço em que os transmissões de infantaria se encontravam, peguei no transmissor AVP-1 e na G-3 (2), ofereci-me como voluntário e fui juntamente com o pelotão buscar o pessoal que fazia a segurança à dita estrada.

"Era de noite, então dá-se aquilo que eu não previa. Uma vez no local para agrupar o pessoal que fazia segurança da estrada, vi-me envolvido numa situação para mim única. Começa um forte tiroteio. Supondo ter sentido algo a mexer, eu, ao saltar da viatura, sem querer fiz um disparo, com pessoal na linha da frente. Fiquei preocupadíssimo, poderia ter atingido algum camarada meu, o que não aconteceu felizmente.

"Ao vir para o quartel, antes de entrar, o Furriel Carda, que era de Ponte de Sor (era quem comandava o pelotão que foi buscar a segurança no qual eu estava integrado) mandou parar as viaturas e disse: 'Alguém que está na minha viatura disparou um tiro. Quero saber quem foi. Ninguém quer dizer? É fácil. Cheira-se a arma de cada um e descobre-se já'.

"Como havia um alferes periquito (3, e a maior parte da malta pensando ter sido ele quem deu o tiro, acharam por bem que o melhor seria esquecer e ir embora para o quartel. Será que esse alferes também fez algum disparo? Ainda hoje estou na dúvida.

"Domingo 27 de Setembro 1998. Sousa de Castro".

Notas (S.C.):

(1) Sublevação brusca das águas, que se produz em certos estuários no momento da cheia e que progride rapidamente para as nascentes sob forma violenta, capaz de fazer estragos em pequenas embarcações.

(2) Espingarda automática usada pelas nossas tropas.

(3) Militar acabado de chegar à Guiné.

20 abril 2005

Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca

1. O pessoal que esteve em Bambadinca, no leste da Guiné, entre 1968 e 1971, vai encontrar-se mais uma vez, para o seu convívio anual. Este ano será em Faro, no próximo dia 11 de Junho e a festa está a ser organizada pelo José Manuel Amaral Soares (Largo Vieira Caldas, 6A, 3º Dtº, 1685-585 Caneças).

Há uma lista de endereços que vai sendo actualizada todos os anos. Eu próprio (Luís Graça ou, como era conhecido, Henriques) e o Humberto Reis (ambos furriéis milicianos da CCAÇ. 12) podemos tomar nota de novos contactos. Aqui fica o meu endereço de e-mail: luis.graca@ensp.unl.pt

É partir desta lista que têm sido convocados os antigos camaradas de armas que estiveram, connosco, naquela região da Guiné, na época da guerra colonial, a saber todo o pessoal (oficiais e sargentos do quadro, oficiais e furriéis milicianos, cabos e soldados) das seguintes unidades, estacionadas no Sector L1 da Zona Leste (que correspondia grosso modo ao estratégico triângulo Bambadinca-Xime-Xitole):

(i) Comando e Companhia de Comando e Serviços do BCAÇ. 2852 (que esteve sedeado em Bamdabinca desde finais de 1968 até Julho de 1970, altura em que foi substituído pelo BART. 2917);

(ii) Forças de intervenção: CCAÇ. 12 / CCAÇ. 2590 (Bambadicna); Pelotão de Caçadores Nativos 52 (Missirá) (a partir de Junho de 1970, Pel.Caç. Nat. 53, aquartelado em Fá-Mandinga);

(iii) Subunidades em quadrícula: CCAÇ 2520 (Xime), 2339 (Mansambo) e 2413 (Xitole), substituídas em Junho de 1970 pelas CART 2715, 2714 e 2716, respectivamente (estas três companhias pertenciam ao BART. 2917).

Se considerarmos ainda o Pelotão de Reconhecimento e as suas obsoletas Daimler (esse mesmo, o P?EL REC do alferes miliciano Vacas de Carvalho, estão lembrados ?), além das forças militarizadas (pelotões de milícias aquarteladas em Taibatá, Dembataco e Finete, excluindo a população fula armada nas tabancas em autodefesa), a nossa força naquela época poderia ser estimada em cerca de 1250 homens em armas, o que nos dava uma vantagem , em relação à guerrilha do PAIGC, de talvez cinco para um (vd. GRAÇA, L. - Documento: Guiné 69/711: subsídios para a história da africanização da guerrra (conclusão). O Jornal. 18 de Junho de 1981). Alguns excertos destas estórias tenho vindo a publicá-los neste blogue.

2. Sei que o BART 2917 e as respectivas companhias de quadrícula foram rendidas em Janeiro de 1972. Ainda ontem recebi um e-mail de um camarada dessa época (que obviamente não conheci, já que regressei a casa em Março de 1971). Trata-se do Sousa de Castro (e-mail: cart3494@portugalmail.pt ), que me diz o seguinte:

"Foi gratificante para mim encontrar algumas estórias sobre a guerra colonial, mais concretamente sobre a Guiné. Curiosamente eu também estive na Guiné em Jameiro de 1972 a Abril de 1974, no Xime [e depois em Mansambo]. O meu Batalhão estava em Bambadinca, BART 3873 (CCS), com a CART 3494 no Xime, a CART 3493 em Mansambo e a CART 3492 no Xitole.

"No meu tempo o Xime continuava muito complicado. Como descreve no seu blogue, nas estórias de um tuga, continuamos com esta terra na cabeça, nunca mais nos sai e eu continuo buscando algo sobre aquele tempo passado relacionado com a guerra. Tenho reenviado a sua estória para colegas que estiveram na Guiné e é uma forma de dizermos que estamos vivos. Bem haja. Cumprimentos, Sousa de Castro".

O Sousa de Castro e todos os periquitos que estiveram em Bambadinca, Xime, Mansambo ou Xitole entre Janeiro de 1972 e Abril de 1974, serão bem vindos à nossa festa, no dia 11 de Junho, em Faro, na Ria Formosa. Eles terão muito para nos contar: afinal, andámos todos pelos sítios, picadas, rios e bolanhas do Sector L1 da Zona Leste, desde 1968 a 1974... E quer queiramos quer não, aquela terra marcou-nos a todos, a ferro e fogo, no corpo e na alma...

3. Transcrevo, a seguir, a carta que me chegou pelo correio, há dias, enviada pelo José Manuel Amaral Soares, o organizador do convívio deste ano (e também de anos anteriores):

"Guiné, Bambadinca 68/71. Companheiros: Desejo que estejam de saúde assim com os vossos familiares. Vamos mais uma vez realizar o nosso almoço anual a fim de convivermos, matarmos saudades e ainda relembrarmos aqueles bons e menos bons momentos que cimentavam a nossa amizade; de tal forma que passados 37 anos sentimos ainda um grande prazer de estar juntos, ainda que por breves horas.

"Por tudo isto, camaradas, no próximo dia 11 de Junho espero por todos na Baixa de Faro, junto ao Jardim Manuel Bivar, pelas 10.30 horas. Vamos aí fazer a nossa concentração para que, depois das habituais formalidades, possamos seguir para o Cais da Porta Nova e às 11.00 horas embarcar até à Ilha Deserta. Durante o percurso vamos apreciar a bela paisagem da magnífica Ria Formosa. Quando forem 13.00 horas iniciaremos o nosso alomoço, composto apenas por produtos do mar. O preço por pessoa é de 48 euros com viagem de barco incluída. As crianças dos 5 aos 11 anos pagam 50%, portanto 24 euros.

"Camaradas, a vossa confirmação tem que ser feita até ao dia 1 de Junho, impreterivelmente, com cheque cruzado para José Manuel Amaral Soares (...). Para toda ajuda, telemóvel 96 242 80 53".


O obus de Bambadinca...




Foto de © Frederico Amorim (1997)

Mais sitíos na Net:

O mundo do Fred (Vejam uma reportagem fotográfica sobre os sítios por onde andámos há trinta e tal anos e que o Frederico Amorim (Fred) visitou em Abril de 1997: Rio Geba, Bambadinca, Bafatá, Cussilinta, Saltinho...).

PAIGC -Partido Africano para Independência da Guiné e Cabo Verde (A página oficial do IN de há trinta e tal anos...).

Os "rangers" (Operações Especiais) > (Sítio dos Operações Especiais: na galeria de fotos há imagens da Zona Leste da Guiné)

Guiné-Bissau > Brochura sobre desenvolvimento rural e segurança alimentar (2001) (documento de um grupo de trabalho, em formato.pdf e com fotos).

Página de Pedro Gordinho > Cronologia da guerra colonial (1961-1974)

Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca

1. O pessoal que esteve em Bambadinca, no leste da Guiné, entre 1968 e 1971, vai encontrar-se mais uma vez, para o seu convívio anual. Este ano será em Faro, no próximo dia 11 de Junho e a festa está a ser organizada pelo José Manuel Amaral Soares (Largo Vieira Caldas, 6A, 3º Dtº, 1685-585 Caneças).

Há uma lista de endereços que vai sendo actualizada todos os anos. Eu próprio (Luís Graça ou, como era conhecido, Henriques) e o Humberto Reis (ambos furriéis milicianos da CCAÇ. 12) podemos tomar nota de novos contactos. Aqui fica o meu endereço de e-mail: luis.graca@ensp.unl.pt

É partir desta lista que têm sido convocados os antigos camaradas de armas que estiveram, connosco, naquela região da Guiné, na época da guerra colonial, a saber todo o pessoal (oficiais e sargentos do quadro, oficiais e furriéis milicianos, cabos e soldados) das seguintes unidades, estacionadas no Sector L1 da Zona Leste (que correspondia grosso modo ao estratégico triângulo Bambadinca-Xime-Xitole):

(i) Comando e Companhia de Comando e Serviços do BCAÇ. 2852 (que esteve sedeado em Bamdabinca desde finais de 1968 até Julho de 1970, altura em que foi substituído pelo BART. 2917);

(ii) Forças de intervenção: CCAÇ. 12 / CCAÇ. 2590 (Bambadicna); Pelotão de Caçadores Nativos 52 (Missirá) (a partir de Junho de 1970, Pel.Caç. Nat. 53, aquartelado em Fá-Mandinga);

(iii) Subunidades em quadrícula: CCAÇ 2520 (Xime), 2339 (Mansambo) e 2413 (Xitole), substituídas em Junho de 1970 pelas CART 2715, 2714 e 2716, respectivamente (estas três companhias pertenciam ao BART. 2917).

Se considerarmos ainda o Pelotão de Reconhecimento e as suas obsoletas Daimler (esse mesmo, o P?EL REC do alferes miliciano Vacas de Carvalho, estão lembrados ?), além das forças militarizadas (pelotões de milícias aquarteladas em Taibatá, Dembataco e Finete, excluindo a população fula armada nas tabancas em autodefesa), a nossa força naquela época poderia ser estimada em cerca de 1250 homens em armas, o que nos dava uma vantagem , em relação à guerrilha do PAIGC, de talvez cinco para um (vd. GRAÇA, L. - Documento: Guiné 69/711: subsídios para a história da africanização da guerrra (conclusão). O Jornal. 18 de Junho de 1981). Alguns excertos destas estórias tenho vindo a publicá-los neste blogue.

2. Sei que o BART 2917 e as respectivas companhias de quadrícula foram rendidas em Janeiro de 1972. Ainda ontem recebi um e-mail de um camarada dessa época (que obviamente não conheci, já que regressei a casa em Março de 1971). Trata-se do Sousa de Castro (e-mail: cart3494@portugalmail.pt ), que me diz o seguinte:

"Foi gratificante para mim encontrar algumas estórias sobre a guerra colonial, mais concretamente sobre a Guiné. Curiosamente eu também estive na Guiné em Jameiro de 1972 a Abril de 1974, no Xime [e depois em Mansambo]. O meu Batalhão estava em Bambadinca, BART 3873 (CCS), com a CART 3494 no Xime, a CART 3493 em Mansambo e a CART 3492 no Xitole.

"No meu tempo o Xime continuava muito complicado. Como descreve no seu blogue, nas estórias de um tuga, continuamos com esta terra na cabeça, nunca mais nos sai e eu continuo buscando algo sobre aquele tempo passado relacionado com a guerra. Tenho reenviado a sua estória para colegas que estiveram na Guiné e é uma forma de dizermos que estamos vivos. Bem haja. Cumprimentos, Sousa de Castro".

O Sousa de Castro e todos os periquitos que estiveram em Bambadinca, Xime, Mansambo ou Xitole entre Janeiro de 1972 e Abril de 1974, serão bem vindos à nossa festa, no dia 11 de Junho, em Faro, na Ria Formosa. Eles terão muito para nos contar: afinal, andámos todos pelos sítios, picadas, rios e bolanhas do Sector L1 da Zona Leste, desde 1968 a 1974... E quer queiramos quer não, aquela terra marcou-nos a todos, a ferro e fogo, no corpo e na alma...

3. Transcrevo, a seguir, a carta que me chegou pelo correio, há dias, enviada pelo José Manuel Amaral Soares, o organizador do convívio deste ano (e também de anos anteriores):

"Guiné, Bambadinca 68/71. Companheiros: Desejo que estejam de saúde assim com os vossos familiares. Vamos mais uma vez realizar o nosso almoço anual a fim de convivermos, matarmos saudades e ainda relembrarmos aqueles bons e menos bons momentos que cimentavam a nossa amizade; de tal forma que passados 37 anos sentimos ainda um grande prazer de estar juntos, ainda que por breves horas.

"Por tudo isto, camaradas, no próximo dia 11 de Junho espero por todos na Baixa de Faro, junto ao Jardim Manuel Bivar, pelas 10.30 horas. Vamos aí fazer a nossa concentração para que, depois das habituais formalidades, possamos seguir para o Cais da Porta Nova e às 11.00 horas embarcar até à Ilha Deserta. Durante o percurso vamos apreciar a bela paisagem da magnífica Ria Formosa. Quando forem 13.00 horas iniciaremos o nosso alomoço, composto apenas por produtos do mar. O preço por pessoa é de 48 euros com viagem de barco incluída. As crianças dos 5 aos 11 anos pagam 50%, portanto 24 euros.

"Camaradas, a vossa confirmação tem que ser feita até ao dia 1 de Junho, impreterivelmente, com cheque cruzado para José Manuel Amaral Soares (...). Para toda ajuda, telemóvel 96 242 80 53".


O obus de Bambadinca...




Foto de © Frederico Amorim (1997)

Mais sitíos na Net:

O mundo do Fred (Vejam uma reportagem fotográfica sobre os sítios por onde andámos há trinta e tal anos e que o Frederico Amorim (Fred) visitou em Abril de 1997: Rio Geba, Bambadinca, Bafatá, Cussilinta, Saltinho...).

PAIGC -Partido Africano para Independência da Guiné e Cabo Verde (A página oficial do IN de há trinta e tal anos...).

Os "rangers" (Operações Especiais) > (Sítio dos Operações Especiais: na galeria de fotos há imagens da Zona Leste da Guiné)

Guiné-Bissau > Brochura sobre desenvolvimento rural e segurança alimentar (2001) (documento de um grupo de trabalho, em formato.pdf e com fotos).

Página de Pedro Gordinho > Cronologia da guerra colonial (1961-1974)