09 julho 2005

Guiné 69/71 - XCVIII: Um Alfa Bravo para os nossos Op TRMS (2)

1. Há dias (30 de Junho de 2005) tinha feito um desafio aos nossos homens das transmissões (Op TRMS):

"Castro, Afonso Sousa, Luís Carvalhido: Gostava de saber mais sobre o vosso trabalho que eu hoje valorizo mais do que na época… Nós, operacionais, só dávamos valor aos pessoal de transmissões em três situações: (i) quando o rádio não funcionava e entrava tudo em pânico; (ii) quando era preciso pedir apoio aéreo; (iii) quando havia uma evacuação Y… Quanto ao resto, achávamos que o furriel de transmissões , o gajo da ferrugem, o ladrão do vagomestre e o pastilhas não passavam de uns turistas em férias... Nada mais injusto. Todos eram precisos, todos fazíamos parte de uma equipa…

"Vocês devem ter estórias, mais dramáticas ou mais engraçadas, a respeito do vosso trabalho, da sorte e do azar com as transmissões… Se se lembrarem, escrevam. Um abraço, Luís.


2.
Respondeu-me de imediato o Sousa de Castro:

É verdade... Éramos considerados uns gajos que não faziamos nada, não alinhávamos para o mato e que só sabiamos causar interferências na telefonia. Só se lembravam dos TRMS quando iam para operações, aí perguntavam sempre ao Castro:
- Qual é a Bateria que está em melhores condições ? - Neste aspecto confiavam só em mim. Curiosamente a especialidade de radiotelegrafista foi um trabalho que me dava muito gozo.

Quanto a estórias, lembro-me de assistir pela rádio quando Guidage sofreu um violento ataque, creio que foi em Maio 1973. Consegui sintonizar o AN-GRC9 e através do indicativo ficámos a saber onde era o ataque.

Lembro-me de o OP TRMS de Guidage a chorar, pedir apoio aéreo a Bissau e de um momento para outro ficar sem comunicações, supostamente as antenas terão sido destruídas. Mais tarde constou-se que os guerrilheiros do PAIGC levavam as nossas viaturas e nossos homens para o Senegal e por ordens do COM-CHEFE a nossa aviação, para libertar o quartel de Guidage e evitar a deslocalização para o Senegal das nossas viaturas, bombardeou a torto e a direito. Dos vinte e tal mortos que a nossa tropa sofreu não sabemos se muitos deles não teriam sido provocados pelas nossas forças.

Para além disto recordo ter detectado uma mistificação na rede que originou a mudança imediata de todos indicativos na Guiné. Um Abraço. Sousa de Castro.

Guiné 69/71 - XCVIII: Um Alfa Bravo para os nossos Op TRMS (2)

1. Há dias (30 de Junho de 2005) tinha feito um desafio aos nossos homens das transmissões (Op TRMS):

"Castro, Afonso Sousa, Luís Carvalhido: Gostava de saber mais sobre o vosso trabalho que eu hoje valorizo mais do que na época… Nós, operacionais, só dávamos valor aos pessoal de transmissões em três situações: (i) quando o rádio não funcionava e entrava tudo em pânico; (ii) quando era preciso pedir apoio aéreo; (iii) quando havia uma evacuação Y… Quanto ao resto, achávamos que o furriel de transmissões , o gajo da ferrugem, o ladrão do vagomestre e o pastilhas não passavam de uns turistas em férias... Nada mais injusto. Todos eram precisos, todos fazíamos parte de uma equipa…

"Vocês devem ter estórias, mais dramáticas ou mais engraçadas, a respeito do vosso trabalho, da sorte e do azar com as transmissões… Se se lembrarem, escrevam. Um abraço, Luís.


2.
Respondeu-me de imediato o Sousa de Castro:

É verdade... Éramos considerados uns gajos que não faziamos nada, não alinhávamos para o mato e que só sabiamos causar interferências na telefonia. Só se lembravam dos TRMS quando iam para operações, aí perguntavam sempre ao Castro:
- Qual é a Bateria que está em melhores condições ? - Neste aspecto confiavam só em mim. Curiosamente a especialidade de radiotelegrafista foi um trabalho que me dava muito gozo.

Quanto a estórias, lembro-me de assistir pela rádio quando Guidage sofreu um violento ataque, creio que foi em Maio 1973. Consegui sintonizar o AN-GRC9 e através do indicativo ficámos a saber onde era o ataque.

Lembro-me de o OP TRMS de Guidage a chorar, pedir apoio aéreo a Bissau e de um momento para outro ficar sem comunicações, supostamente as antenas terão sido destruídas. Mais tarde constou-se que os guerrilheiros do PAIGC levavam as nossas viaturas e nossos homens para o Senegal e por ordens do COM-CHEFE a nossa aviação, para libertar o quartel de Guidage e evitar a deslocalização para o Senegal das nossas viaturas, bombardeou a torto e a direito. Dos vinte e tal mortos que a nossa tropa sofreu não sabemos se muitos deles não teriam sido provocados pelas nossas forças.

Para além disto recordo ter detectado uma mistificação na rede que originou a mudança imediata de todos indicativos na Guiné. Um Abraço. Sousa de Castro.

08 julho 2005

Guiné 69/71 - XCVII: Op Mar Verde (invasão de Conacri) (1)

1. Pergunta o Afonso Sousa (CART 2412, Bigene, Binta, Guidage, Barro, 1968/70) ao Carlos Fortunato (CCAÇ 13, Bolama, Bissorã, Encheia, Biambi, Binar, 1969/71) (que recentemente nos disse ter participado na Op Mar Verde, mas que não chegou a desembarcar em Conacri porque entretanto a operação fora abortada):

A Op Mar Verde foi abortada ? Então não foi com esta operação que se conseguiu a libertação dos prisioneiros portugueses que estavam em Conacri ? Até comentámos aquela foto [do álbum de fotografias do Amílcar Cabral, que foi oferecido à Fundação Mário Soares] onde são vistos alguns a jogar futebol e alguém terá lembrado que foram posteriormente libertados na Op Mar Verde.

Aliás, sobre isto, o Marque Lopes esclareceu-nos: "Sobre a fotografia de prisioneiros a jogar à bola em Conacri, é natural que algum seja da CART 1690 [Geba, 1967/69], pois eram os que estavam lá em maior número. No entanto, é difícil distingui-los nessa fotografia. Para saberem o que foi a vida deles em cativeiro leiam o livro Memórias de Um Prisioneiro de Guerra, publicado pela editora Campo das Letras em Outubro de 2003 (...). O seu autor é o ex-alferes miliciano António Júlio Rosa (agora professor de Educação Física), que foi aprisionado pelo PAIGC na zona de Tite, no dia 1 de Fevereiro de 1968. Lá esteve até ao dia da libertação da Op Mar Verde. É um relato simples, sem literatura. Vale a pena ler, sobretudo nós que compreendemos tudo aquilo".

Desculpem a ignorância, mas o Carlos Fortunato poderia deixar algum esclarecimento sobre isto. Afonso Sousa

2. Resposta do Carlos Fortunato:

A Operação Mar Verde foi uma invasão de um país [Guiné-Conacri]com o objectivo de tomar o poder, que não foi levada até ao fim. A primeira fase da invasão não foi bem sucedida, apesar de se terem atingido alguns dos objectivos, como a libertação de prisioneiros.

O que eu referi é que a minha companhia [CCAÇ 13 - Os Leões Negros] fazia parte da segunda onda de assalto, que não chegou a avançar, e que esta história ainda tem muito para contar, e eu não a conheço totalmente, mas gostaria de conhecer, pois penso que foi a missão mais espetacular realizada.

O pouco que sei sobre itso está sucintamente descrito no site da companhia, que foi elaborado por mim, e que fala do assunto, quando se refere à nossa permanência em Bissau.

Se quiserem dar uma vista de olhos, cliquem:

CCAÇ 13 - Os Leões Negros

Carlos Fortunato

3. Se quiserem saber mais sobre a Op Mar Verde, há aqui uma sugestão do Jorge Santos:

Associação Nacional de Cruzeiros (ANC) > Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa > Conakry, 22 de Novembro de 1970

Guiné 69/71 - XCVII: Op Mar Verde (invasão de Conacri) (1)

1. Pergunta o Afonso Sousa (CART 2412, Bigene, Binta, Guidage, Barro, 1968/70) ao Carlos Fortunato (CCAÇ 13, Bolama, Bissorã, Encheia, Biambi, Binar, 1969/71) (que recentemente nos disse ter participado na Op Mar Verde, mas que não chegou a desembarcar em Conacri porque entretanto a operação fora abortada):

A Op Mar Verde foi abortada ? Então não foi com esta operação que se conseguiu a libertação dos prisioneiros portugueses que estavam em Conacri ? Até comentámos aquela foto [do álbum de fotografias do Amílcar Cabral, que foi oferecido à Fundação Mário Soares] onde são vistos alguns a jogar futebol e alguém terá lembrado que foram posteriormente libertados na Op Mar Verde.

Aliás, sobre isto, o Marque Lopes esclareceu-nos: "Sobre a fotografia de prisioneiros a jogar à bola em Conacri, é natural que algum seja da CART 1690 [Geba, 1967/69], pois eram os que estavam lá em maior número. No entanto, é difícil distingui-los nessa fotografia. Para saberem o que foi a vida deles em cativeiro leiam o livro Memórias de Um Prisioneiro de Guerra, publicado pela editora Campo das Letras em Outubro de 2003 (...). O seu autor é o ex-alferes miliciano António Júlio Rosa (agora professor de Educação Física), que foi aprisionado pelo PAIGC na zona de Tite, no dia 1 de Fevereiro de 1968. Lá esteve até ao dia da libertação da Op Mar Verde. É um relato simples, sem literatura. Vale a pena ler, sobretudo nós que compreendemos tudo aquilo".

Desculpem a ignorância, mas o Carlos Fortunato poderia deixar algum esclarecimento sobre isto. Afonso Sousa

2. Resposta do Carlos Fortunato:

A Operação Mar Verde foi uma invasão de um país [Guiné-Conacri]com o objectivo de tomar o poder, que não foi levada até ao fim. A primeira fase da invasão não foi bem sucedida, apesar de se terem atingido alguns dos objectivos, como a libertação de prisioneiros.

O que eu referi é que a minha companhia [CCAÇ 13 - Os Leões Negros] fazia parte da segunda onda de assalto, que não chegou a avançar, e que esta história ainda tem muito para contar, e eu não a conheço totalmente, mas gostaria de conhecer, pois penso que foi a missão mais espetacular realizada.

O pouco que sei sobre itso está sucintamente descrito no site da companhia, que foi elaborado por mim, e que fala do assunto, quando se refere à nossa permanência em Bissau.

Se quiserem dar uma vista de olhos, cliquem:

CCAÇ 13 - Os Leões Negros

Carlos Fortunato

3. Se quiserem saber mais sobre a Op Mar Verde, há aqui uma sugestão do Jorge Santos:

Associação Nacional de Cruzeiros (ANC) > Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa > Conakry, 22 de Novembro de 1970

07 julho 2005

Portugas que merecem as nossas palmas - XVII: @s geálic@s do Museu dos Dinossauros da Lourinhã


© Museu da Lourinhã (2005)

1. @s amig@s geálic@s deste blogador merecem o maior apreço, simpatia e apoio. Geálic@s é um termo carinhoso que nós usamos, no ciber-espaço, para nos identificarmos como membros do GEAL - Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã, que criou, mantém e gere o Museu da Lourinhã (Dinossauros Jurássicos de Portugal).

As suas iniciativas merecem ser divulgadas. A primeira é já no sábado, dia 9 de Jukho, uma noite de fados, a realizar no lindo pátio do museu, mesmo no coração da histórica vila da Lourinhã. Insere-se aqui o fabuloso cartaz alusivo à iniciativa: é uma bem humorada e criativa montagem, feita a partir da obra-prima do mestre da Lourinhã, São João na Ilha de Patmos (Escola flamenga, Séc. XVI), que pode ser admirada, em visita guiada à Pinoteca da Misericórdia da Lourinhã, pelos visitantes do nosso Museu da Lourinhã (o tal dos dinossauros, que é privado e que já recebe mais visitas anuais do que alguns museus nacionais, cerca de 20 mil).


2. A segunda iniciativa é o 5º Concurso Internacional de Ilustração de Dinossauros . O prazo de entrega dos trabalhos, para esta edição de 2005, termina a 31 de Julho de 2005. Esta iniciativa tem já uma larga projecção internacional.Uma amostra dos trabalhos recebidos em 2001 e 2002 pode ser vista no sítio do Museu da Louirnhã.


3. A terceira iniciativa que eu quero aqui publicitar é a realização de um mini-simpósio sobre Répteis marinhos da era dos dinossauros. Aqui fica o press-release que o Museu da Lourinhã me mandou:

Segunda-feira, dia 11 de Julho de 2005, o Museu da Lourinhã organiza o 4º Mini-Simpósio de Paleontologia, dedicado aos Mosassauros, répteis marinhos do tempo dos dinossauros.

Este é o quarto Mini-Simpósio realizado no Museu da Lourinhã, com cientistas estrangeiros visitantes no Museu da Lourinhã, e desta feita conta com a participação dos paleontólogos Mike Polcyn da Universidade Metodista do Sul (Estados Unidos), Anne Schulp do Museu de Maastricht (Holanda) e Octávio Mateus do Museu da Lourinhã e Universidade Nova de Lisboa.

5º Concurso Internacional de Ilustração de Dionossauros (2005) © Museu da Lourinhã (2005)

Os dois primeiros oradores são paleontólogos reconhecidos e especialistas em mosassauros, répteis marinhos que colonizaram os mares durante o tempo dos dinossauros.

O mote para este simpósio é dado pela presença dos paleontólogos em Portugal e pela descoberta recente de novos vestígios de mosassauros em Angola pelo paleontólogo Octávio Mateus do Museu da Lourinhã.

Não é a primeira vez que estes paleontólogos se encontram em Portugal. Em Janeiro, tiveram a oportunidade de participar no 3º Mini-Simpósio de Paleontologia no Museu da Lourinhã, dessa feita sobre Vertebrados Fósseis Africanos, e que precedeu a viagem de Octávio Mateus e do norte-americano Louis Jacobs a Angola em Maio passado. Juntamente com os paleontólogos da Universidade Nova de Lisboa, os convidados vão agora participar no estudo dos fósseis de mosassauros que foram recolhidos recentemente em Angola.

Mike Polcyn irá abordar a origem, evolução e a distribuição dos mosassauros. Completamente adaptados à vida marinha, os mosassauros foram répteis carnívoros que dominaram os mares há, pelo menos, 65 milhões de anos, enquanto os dinossauros dominavam a terra firme. Embora sejam semelhantes aos lagartos e às cobras, os mosassauros fazem lembrar uma mistura entre um lagarto, um crocodilo e um golfinho, embora não estejam relacionados com estes dois últimos.

Anne Schulp falará sobre os mosassauros de Maastricht, onde foi descoberto o primeiro mosassauro, sendo um fóssil de especial interesse histórico porque é considerado o primeiro fóssil reconhecido como tal, isto é, como sendo um antigo animal extinto em tempos passados. A posse deste exemplar histórico é hoje uma fonte de discórdia entre dois países, pois o fóssil é reclamado pela Holanda depois de ter sido levado para França durante as invasões napoleónicas, onde se encontra desde aí.

O paleontólogo do Museu da Lourinhã, Octávio Mateus, irá contar a sua experiência em Angola, país que visitou recentemente e onde encontrou muitos vestígios de mosassauros e outros animais pré-históricos, tal como um braço de um dinossauros saurópode, o primeiro dinossauro alguma vez descoberto em Angola. Em Portugal não são conhecidos vestígios de mosassauros.

PROGRAMA:

4º Mini-Simpósio de Paleontologia no Museu da Lourinhã: Mosassauros
11 Julho 2005 (segunda-feira); 17h30 na Sala de Paleontologia do Museu da Lourinhã


Mike Polcyn > Early evolution and biogeography of mosasaurs

Anne Schulp > Mosasaurs from Maastricht, Monsters from the Late Cretaceous seas

Octávio Mateus > Mosassauros e outros fósseis de Angola


Entrada é gratuita.


4. Sumários das palestras e perfil dos oradores


EARLY EVOLUTION OF MOSASAURS, por MIKE POLCYN

Abstract:

Mosasaurs are marine lizards known from numerous specimens recovered from Coniacian through Maastrichtian sediments throughout the world; however, the early evolution of the group remains poorly understood. Most post-Coniacian mosasaurs can be referred to three well established lineages, and these later forms share many adaptations optimized for a marine existence, including fin-like appendages and a tail modified for aquatic locomotion. These adaptations have long been accepted as evidence of the common ancestory of these derived forms.

Conversely, pre-Coniacian forms are rare, and known from only a small number of specimens dating from the Cenomanian and Turonian. Specimens of these primitive mosasauroids are known from North America, Europe, Africa, and the Middle East. Many of these forms have been included in the family Aigialosauridae by their shared possession of primitive limb and girdle elements and only moderately modified tails.


Recent phylogenetic analysis now suggests the three major lineages of Coniacian through Maastrichtian mosasaurs have their origins in the Cenomanian and Turonian, and some basal forms previously thought to form a monophyletic group, are now regarded as basal members of the those later lineages. Furthermore, other primitive marine squamates included in the Dolichosauridae, are now known to possess certain characters previously diagnosing members of Mosasauroidea, and suggests an increasingly complex phylogenetic history for the group.


Members of both the Dolichosauridae and Mosasauroidea are restricted to the Upper Cretaceous. Earlier members of the larger group of lizards, to which they presumably belong, are known only from terrestrial settings. Thus basal mosasaurs and related forms apparently evolved in the early part of the Late Cretaceous against a backdrop of global high temperatures and rising sea-levels. This talk provides an overview of the distribution and early evolution of mosasaurs and closely related forms and explores the possible influences of ecological and environmental factors in their early evolution.


Mike Polcyn:

Mike Polcyn is Sr. Vice-President of Research and Development and Chief Technology Officer for Intervoice Inc., a Dallas based telecommunications company and Director of the Digital Visualization Lab and Research Associate at Southern Methodist University. His current research interests include the early evolution of Mosasauroidea and adaptations in secondarily aquatic tetrapods. Research also includes application of technology to problems in paleontology.



MOSASAURS FORM MAASTRICHT, MONSTERS FROM THE LATE CRETACEOUS SEAS, por ANNE SCHULP

Summary:

New discoveries of mosasaur fossils from the Maastricht area (in the south of the Netherlands) yielded fascinating insights in the behaviour, diet, and diseases of these giant extinct marine reptiles. Why did the giant Prognathodon saturator have such strange jaws? And what's its relationship with North American mosasaurs?Ongoing research provided some preliminary answers to this and other questions. What, for example, did the mysterious mosasaur Carinodens eat? Experiments above the kitchen sink yielded some explanation - and a tasty gumbo.

How about cannibalism in the Maastricht seas? Many mosasaurs seem to have practised a rather rough lifestyle. Broken bones as well as massive abscesses abound in the fossil record, and tell us painful stories about the life of a mosasaur. Research with the Amsterdam Free University may tell us a bit more about the diet of mosasaurs and the climate of the Maastricht seas. But in order to acquire the data, a mosasaur tooth has to be sacrificed first.

This and more will be discussed during Anne Schulp's lecture. If time permits, the joys and benefits of a forked tongue will be discussed, and maybe there is some disappointing news from the Milan fashion district to be revealed, too.


Anne Schulp:

Drs. Anne S. Schulp (1974) is curator of vertebrate palaeontology at the Maastricht Natural History Museum, in Maastricht, The Netherlands. Apart from care for the vertebrate palaeontological collections, he is also involved in exhibition development and educational work at the museum.

Next to the museum duties, he is affiliated with the Faculty of Earth and Life Sciences of the Vrije Universiteit Amsterdam, where he is a guest researcher in the PhD-programme.

He is a regular contributor on the field of paleontology, geology, and natural sciences in general for popular scientific magazines and a nationwide daily newspaper in The Netherlands.

Anne Schulp's main field of interest is in mosasaurs. His research interests in marine Maastrichtian paleontology took him in the past few years to New Zealand, Mozambique, the USA, Croatia, the Sultanate of Oman, Jordan and Israel.


MOSASSAUROS E OUTROS FÓSSEIS DE ANGOLA, por OCTÁVIO MATEUS

Sumário:

A orla costeira de Angola é rica do ponto de vista de fósseis de vertebrados mesozóicos e cenozóicos, embora muito trabalho esteja ainda por fazer. O paleontólogo Miguel Telles Antunes, da Universidade Nova de Lisboa, tem feito investigação sistemática e contínua sobre os vertebrados fósseis de Angola, com base nas recolhas realizadas durante os anos 60. Nos seus trabalhos reportou novos achados e descreveu novas espécies em que se destacam o mosassauro Angolasaurus bocagei, recolhido perto de Iembe, província de Bengo. Tubarões, plesiossauros, tartarugas e outros vertebrados foram identificados por Miguel Telles Antunes.

Desde a presença de Antunes nos anos 60, que não se procederam recolhas sistemáticas de vertebrados fósseis em Angola devido à guerra e instabilidade que assolou o país nas últimas décadas. Uma viagem realizada recentemente (Maio 2005), permitiu revisitar as localidades já apontadas por Miguel Telles Antunes e descobrir uma extraordinária elevada variedade e qualidade de fósseis de vertebrados, especialmente na província do Namibe e de Bengo. Foram recolhidos vestígios de mosassauros, plesiossauros, tubarões, peixes ósseos, tartarugas, amonites, e dinossauros. O vestígio de dinossauro é o primeiro que se encontra em Angola.

Octávio Mateus:

O paleontólogo do Museu da Lourinhã, Octávio Mateus, encontra-se a terminar o doutoramento em paleontologia dos dinossauros do Jurássico Superior de Portugal pela Universidade Nova de Lisboa (provas públicas marcadas para o dia 27 de Jukho de 2005, na Sala de Actos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa). Tem estudado os dinossauros da Lourinhã, e não só, com destaque para os ovos e embriões e para a descrição de novos géneros, tais como o Lourinhanosaurus, Draconyx, Dinheirosaurus, Tangvayosaurus e Lusotitan. Sob a orientação científica de Miguel Telles Antunes, Octávio tem coordenado as escavações de dinossauros na Lourinhã, de onde tem recolhido muitos novos exemplares. O seu interesse por dinossauros fizeram-no viajar pelos Estados Unidos, Brasil, Laos, Tunísia, Moçambique, Marrocos, África do Sul e Angola. Vd. a sua página pessoal > DinoData Lusodinos

Anteriores Mini-Simpósios de Paleontologia no Museu da Lourinhã

1º Mini-Simpósio (2004): Jesper Milan (pegadas de dinossauros), Cristiano dal Sasso (dinossauros de Itália),

2º Mini-Simpósio (2004): Remmert Schouten (Thecodontosaurus), Jesper Milan (pegadas de dinossauros), Ricardo Araújo (preparação de fósseis), Octávio Mateus (terópodes de Portugal).

3º Mini-Simpósio (Janeiro 2005): Vertebrados Fósseis Africanos: Louis Jacobs (Dinosaurs of Africa), Anne Schulp (Fossil Vertebrates in Oman), Mike Polcyn (Fossils of 'Ein Yabrud, Israel), Aart Walen (Expeditions in Tanzania, South Africa and Ziwbabwe)

Próximos Mini-Simpósios de Paleontologia no Museu da Lourinhã: 22 de Agosto e 5 de Setembro, com programa a anunciar brevemente.

Portugas que merecem as nossas palmas - XVII: @s geálic@s do Museu dos Dinossauros da Lourinhã


© Museu da Lourinhã (2005)

1. @s amig@s geálic@s deste blogador merecem o maior apreço, simpatia e apoio. Geálic@s é um termo carinhoso que nós usamos, no ciber-espaço, para nos identificarmos como membros do GEAL - Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã, que criou, mantém e gere o Museu da Lourinhã (Dinossauros Jurássicos de Portugal).

As suas iniciativas merecem ser divulgadas. A primeira é já no sábado, dia 9 de Jukho, uma noite de fados, a realizar no lindo pátio do museu, mesmo no coração da histórica vila da Lourinhã. Insere-se aqui o fabuloso cartaz alusivo à iniciativa: é uma bem humorada e criativa montagem, feita a partir da obra-prima do mestre da Lourinhã, São João na Ilha de Patmos (Escola flamenga, Séc. XVI), que pode ser admirada, em visita guiada à Pinoteca da Misericórdia da Lourinhã, pelos visitantes do nosso Museu da Lourinhã (o tal dos dinossauros, que é privado e que já recebe mais visitas anuais do que alguns museus nacionais, cerca de 20 mil).


2. A segunda iniciativa é o 5º Concurso Internacional de Ilustração de Dinossauros . O prazo de entrega dos trabalhos, para esta edição de 2005, termina a 31 de Julho de 2005. Esta iniciativa tem já uma larga projecção internacional.Uma amostra dos trabalhos recebidos em 2001 e 2002 pode ser vista no sítio do Museu da Louirnhã.


3. A terceira iniciativa que eu quero aqui publicitar é a realização de um mini-simpósio sobre Répteis marinhos da era dos dinossauros. Aqui fica o press-release que o Museu da Lourinhã me mandou:

Segunda-feira, dia 11 de Julho de 2005, o Museu da Lourinhã organiza o 4º Mini-Simpósio de Paleontologia, dedicado aos Mosassauros, répteis marinhos do tempo dos dinossauros.

Este é o quarto Mini-Simpósio realizado no Museu da Lourinhã, com cientistas estrangeiros visitantes no Museu da Lourinhã, e desta feita conta com a participação dos paleontólogos Mike Polcyn da Universidade Metodista do Sul (Estados Unidos), Anne Schulp do Museu de Maastricht (Holanda) e Octávio Mateus do Museu da Lourinhã e Universidade Nova de Lisboa.

5º Concurso Internacional de Ilustração de Dionossauros (2005) © Museu da Lourinhã (2005)

Os dois primeiros oradores são paleontólogos reconhecidos e especialistas em mosassauros, répteis marinhos que colonizaram os mares durante o tempo dos dinossauros.

O mote para este simpósio é dado pela presença dos paleontólogos em Portugal e pela descoberta recente de novos vestígios de mosassauros em Angola pelo paleontólogo Octávio Mateus do Museu da Lourinhã.

Não é a primeira vez que estes paleontólogos se encontram em Portugal. Em Janeiro, tiveram a oportunidade de participar no 3º Mini-Simpósio de Paleontologia no Museu da Lourinhã, dessa feita sobre Vertebrados Fósseis Africanos, e que precedeu a viagem de Octávio Mateus e do norte-americano Louis Jacobs a Angola em Maio passado. Juntamente com os paleontólogos da Universidade Nova de Lisboa, os convidados vão agora participar no estudo dos fósseis de mosassauros que foram recolhidos recentemente em Angola.

Mike Polcyn irá abordar a origem, evolução e a distribuição dos mosassauros. Completamente adaptados à vida marinha, os mosassauros foram répteis carnívoros que dominaram os mares há, pelo menos, 65 milhões de anos, enquanto os dinossauros dominavam a terra firme. Embora sejam semelhantes aos lagartos e às cobras, os mosassauros fazem lembrar uma mistura entre um lagarto, um crocodilo e um golfinho, embora não estejam relacionados com estes dois últimos.

Anne Schulp falará sobre os mosassauros de Maastricht, onde foi descoberto o primeiro mosassauro, sendo um fóssil de especial interesse histórico porque é considerado o primeiro fóssil reconhecido como tal, isto é, como sendo um antigo animal extinto em tempos passados. A posse deste exemplar histórico é hoje uma fonte de discórdia entre dois países, pois o fóssil é reclamado pela Holanda depois de ter sido levado para França durante as invasões napoleónicas, onde se encontra desde aí.

O paleontólogo do Museu da Lourinhã, Octávio Mateus, irá contar a sua experiência em Angola, país que visitou recentemente e onde encontrou muitos vestígios de mosassauros e outros animais pré-históricos, tal como um braço de um dinossauros saurópode, o primeiro dinossauro alguma vez descoberto em Angola. Em Portugal não são conhecidos vestígios de mosassauros.

PROGRAMA:

4º Mini-Simpósio de Paleontologia no Museu da Lourinhã: Mosassauros
11 Julho 2005 (segunda-feira); 17h30 na Sala de Paleontologia do Museu da Lourinhã


Mike Polcyn > Early evolution and biogeography of mosasaurs

Anne Schulp > Mosasaurs from Maastricht, Monsters from the Late Cretaceous seas

Octávio Mateus > Mosassauros e outros fósseis de Angola


Entrada é gratuita.


4. Sumários das palestras e perfil dos oradores


EARLY EVOLUTION OF MOSASAURS, por MIKE POLCYN

Abstract:

Mosasaurs are marine lizards known from numerous specimens recovered from Coniacian through Maastrichtian sediments throughout the world; however, the early evolution of the group remains poorly understood. Most post-Coniacian mosasaurs can be referred to three well established lineages, and these later forms share many adaptations optimized for a marine existence, including fin-like appendages and a tail modified for aquatic locomotion. These adaptations have long been accepted as evidence of the common ancestory of these derived forms.

Conversely, pre-Coniacian forms are rare, and known from only a small number of specimens dating from the Cenomanian and Turonian. Specimens of these primitive mosasauroids are known from North America, Europe, Africa, and the Middle East. Many of these forms have been included in the family Aigialosauridae by their shared possession of primitive limb and girdle elements and only moderately modified tails.


Recent phylogenetic analysis now suggests the three major lineages of Coniacian through Maastrichtian mosasaurs have their origins in the Cenomanian and Turonian, and some basal forms previously thought to form a monophyletic group, are now regarded as basal members of the those later lineages. Furthermore, other primitive marine squamates included in the Dolichosauridae, are now known to possess certain characters previously diagnosing members of Mosasauroidea, and suggests an increasingly complex phylogenetic history for the group.


Members of both the Dolichosauridae and Mosasauroidea are restricted to the Upper Cretaceous. Earlier members of the larger group of lizards, to which they presumably belong, are known only from terrestrial settings. Thus basal mosasaurs and related forms apparently evolved in the early part of the Late Cretaceous against a backdrop of global high temperatures and rising sea-levels. This talk provides an overview of the distribution and early evolution of mosasaurs and closely related forms and explores the possible influences of ecological and environmental factors in their early evolution.


Mike Polcyn:

Mike Polcyn is Sr. Vice-President of Research and Development and Chief Technology Officer for Intervoice Inc., a Dallas based telecommunications company and Director of the Digital Visualization Lab and Research Associate at Southern Methodist University. His current research interests include the early evolution of Mosasauroidea and adaptations in secondarily aquatic tetrapods. Research also includes application of technology to problems in paleontology.



MOSASAURS FORM MAASTRICHT, MONSTERS FROM THE LATE CRETACEOUS SEAS, por ANNE SCHULP

Summary:

New discoveries of mosasaur fossils from the Maastricht area (in the south of the Netherlands) yielded fascinating insights in the behaviour, diet, and diseases of these giant extinct marine reptiles. Why did the giant Prognathodon saturator have such strange jaws? And what's its relationship with North American mosasaurs?Ongoing research provided some preliminary answers to this and other questions. What, for example, did the mysterious mosasaur Carinodens eat? Experiments above the kitchen sink yielded some explanation - and a tasty gumbo.

How about cannibalism in the Maastricht seas? Many mosasaurs seem to have practised a rather rough lifestyle. Broken bones as well as massive abscesses abound in the fossil record, and tell us painful stories about the life of a mosasaur. Research with the Amsterdam Free University may tell us a bit more about the diet of mosasaurs and the climate of the Maastricht seas. But in order to acquire the data, a mosasaur tooth has to be sacrificed first.

This and more will be discussed during Anne Schulp's lecture. If time permits, the joys and benefits of a forked tongue will be discussed, and maybe there is some disappointing news from the Milan fashion district to be revealed, too.


Anne Schulp:

Drs. Anne S. Schulp (1974) is curator of vertebrate palaeontology at the Maastricht Natural History Museum, in Maastricht, The Netherlands. Apart from care for the vertebrate palaeontological collections, he is also involved in exhibition development and educational work at the museum.

Next to the museum duties, he is affiliated with the Faculty of Earth and Life Sciences of the Vrije Universiteit Amsterdam, where he is a guest researcher in the PhD-programme.

He is a regular contributor on the field of paleontology, geology, and natural sciences in general for popular scientific magazines and a nationwide daily newspaper in The Netherlands.

Anne Schulp's main field of interest is in mosasaurs. His research interests in marine Maastrichtian paleontology took him in the past few years to New Zealand, Mozambique, the USA, Croatia, the Sultanate of Oman, Jordan and Israel.


MOSASSAUROS E OUTROS FÓSSEIS DE ANGOLA, por OCTÁVIO MATEUS

Sumário:

A orla costeira de Angola é rica do ponto de vista de fósseis de vertebrados mesozóicos e cenozóicos, embora muito trabalho esteja ainda por fazer. O paleontólogo Miguel Telles Antunes, da Universidade Nova de Lisboa, tem feito investigação sistemática e contínua sobre os vertebrados fósseis de Angola, com base nas recolhas realizadas durante os anos 60. Nos seus trabalhos reportou novos achados e descreveu novas espécies em que se destacam o mosassauro Angolasaurus bocagei, recolhido perto de Iembe, província de Bengo. Tubarões, plesiossauros, tartarugas e outros vertebrados foram identificados por Miguel Telles Antunes.

Desde a presença de Antunes nos anos 60, que não se procederam recolhas sistemáticas de vertebrados fósseis em Angola devido à guerra e instabilidade que assolou o país nas últimas décadas. Uma viagem realizada recentemente (Maio 2005), permitiu revisitar as localidades já apontadas por Miguel Telles Antunes e descobrir uma extraordinária elevada variedade e qualidade de fósseis de vertebrados, especialmente na província do Namibe e de Bengo. Foram recolhidos vestígios de mosassauros, plesiossauros, tubarões, peixes ósseos, tartarugas, amonites, e dinossauros. O vestígio de dinossauro é o primeiro que se encontra em Angola.

Octávio Mateus:

O paleontólogo do Museu da Lourinhã, Octávio Mateus, encontra-se a terminar o doutoramento em paleontologia dos dinossauros do Jurássico Superior de Portugal pela Universidade Nova de Lisboa (provas públicas marcadas para o dia 27 de Jukho de 2005, na Sala de Actos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa). Tem estudado os dinossauros da Lourinhã, e não só, com destaque para os ovos e embriões e para a descrição de novos géneros, tais como o Lourinhanosaurus, Draconyx, Dinheirosaurus, Tangvayosaurus e Lusotitan. Sob a orientação científica de Miguel Telles Antunes, Octávio tem coordenado as escavações de dinossauros na Lourinhã, de onde tem recolhido muitos novos exemplares. O seu interesse por dinossauros fizeram-no viajar pelos Estados Unidos, Brasil, Laos, Tunísia, Moçambique, Marrocos, África do Sul e Angola. Vd. a sua página pessoal > DinoData Lusodinos

Anteriores Mini-Simpósios de Paleontologia no Museu da Lourinhã

1º Mini-Simpósio (2004): Jesper Milan (pegadas de dinossauros), Cristiano dal Sasso (dinossauros de Itália),

2º Mini-Simpósio (2004): Remmert Schouten (Thecodontosaurus), Jesper Milan (pegadas de dinossauros), Ricardo Araújo (preparação de fósseis), Octávio Mateus (terópodes de Portugal).

3º Mini-Simpósio (Janeiro 2005): Vertebrados Fósseis Africanos: Louis Jacobs (Dinosaurs of Africa), Anne Schulp (Fossil Vertebrates in Oman), Mike Polcyn (Fossils of 'Ein Yabrud, Israel), Aart Walen (Expeditions in Tanzania, South Africa and Ziwbabwe)

Próximos Mini-Simpósios de Paleontologia no Museu da Lourinhã: 22 de Agosto e 5 de Setembro, com programa a anunciar brevemente.

Guiné 69/71 - XCVI: Salgueiro Maia, director de jornal de caserna

1. Texto do Jorge Santos(ex-Fuzileiro Naval em Moçambique, em 1969/71, estudioso da guerra colonial e autor da excelente página Guerra Colonial Portuguesa):

Esta relação [de jornais militares da Guiné] já tinha enviado para o Sousa de Castro.

Para mim, tem bastante interesse, pois já na altura havia pessoal que arriscava na escrita, e mesmo [no teatro de operações da GUiné] sempre liguei aos Jornais de Caserna.

Alguns podem ser consultados no Arquivo Geral do Exército. E pode ser que apareça alguém com alguma informação de um jornal que não conste na lista.

Ao fim e ao cabo é algo que também faz parte das nossas vidas e das nossas memórias. Depois envio capa de jornais com indicação das unidades.

2. Comentário de L.G.: Participei, durante a minha instrução de especialidade de Apontador de Armas Pesadas, em Tavira, na elaboração de um jornal de caserna, em 1968. Havia uma pequena equipa redactorial. O comandante da unidade zelava pela orientação editorial do jornal. Recordo-me de um belo dia ele obrigar-nos a mandar para o lixo uma edição dedicada à II Guerra Mundial e ao nazifascismo. O argumento do censor-mor era de peso:
- Para guerra, já basta a nossa, a do Ultramar!

Das três capas (ou folhas de rosto) de jornais de caserna enviadas pelo Jorge Santos (Manga de Ronco, Os Progressistas, Zoé) seleccionei Os Progressistas, por uma razão particular, histórica e até afectiva: (i) era um quinzenário de "divulgação, cultura e recreio" da Companhia de Cavalaria 3420, que esteve em Bula, no ano de 1971; (ii) o director era o respectivo comandante, o capitão de cavalaria Fernando J. Salgueiro Maia, o Salgueiro Maia (1944-1992) de quem Carlos Loures escreveu, no sítio Vidas Lusófonas, o seguinte:

"Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se. Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder. É o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril".

© Jorge Santos (2005)

Salgueiro Maia foi, além disso, meu colega, no ano lectivo de 1975/76, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCPS), embora eu pouco ou quase nada privasse com ele, porque eramos de cursos diferentes (eu, de ciências sociais; ele, de antroplogia), com o estatuto de trabalhadores-estudantes. Íamos às aulas à noite e a algumas Reuniões Gerais de Alunos (RGA), numa altura em que o ISCSP passava por um período de vida muito conturbado (saneamento de praticamente todos os docentes com assento no Conselho Científico...), o que levou no final do ano lectivo de 1975/76 (ou nas férias...) ao seu encerramento, por ordem do então Ministro da Educação Sottomayor Cardia e ao consequente início de um duro processo de luta estudantil contra a tutela e o regresso das múmias (como, depreciativamente, eram então chamados os professores, alvo de saneamentos selvagens, de natureza claramente político-ideológica).

3. Não me lembro na Guiné, no meu tempo de comissão (1969/71), de ter visto (e muito menos participado na elaboração de) jornais de caserna. A CCAÇ 12 não tinha caserna, éramos uma unidade de intervenção, composta por soldados africanos e quadros metropolitanos, vivendo em casa emprestada (os nossos soldados africanos, desarranchados, dormiam na tabanca de Bambadinca e não dentro do perímetro do aquartelamento)... Diferente era a situação das unidades de quadrícula (por exemplo, no Xime, Mansambo, Xitole). O jornal de caserna podia ser uma forma interessante de manter alto o moral das tropas e fazer a ligação com a Metrópole.

De qualquer modo, esta faceta do Salgueiro Maia, como director de um jornal de caserna chamado Os Progressistas( CCAV 3420, Bula, 1971), é capaz de ser um aspecto menos conhecido do seu currículo. Fico com curiosidade em saber, um dia, o que se dizia e não dizia nesse quinzenário, muito provavelmente em formato A4 e feito a stencil...

4. Já em tempos eu tinha comunicado com o Jorge Santos, felicitando-o pelo cancioneiro do Niassa, inserido na página dele (só por isso, pelo trabalho de recolha e de divulgação das canções proibidas da guerra colonial em Moçambique, ele merecia uma estátua!) e pedir-lhe autorização para reproduzir alguns dos versos dessas cantigas de caserna no meu blogue... (Vd. meu post, de 11 de Maio de 2004: Blogantologia(s) - XI: Guerra Colonial: Cancioneiro do Niassa)

Voltei, entretanto, a dar-lhe os parabéns pela sua página (que é uma referência e um sítio obrigatório, para todos nós) e já pus o seu nome na nossa tertúlia... Mesmo sendo moçambicano, ele será bem acolhido por todos nós, guinéus.

Guiné 69/71 - XCVI: Salgueiro Maia, director de jornal de caserna

1. Texto do Jorge Santos(ex-Fuzileiro Naval em Moçambique, em 1969/71, estudioso da guerra colonial e autor da excelente página Guerra Colonial Portuguesa):

Esta relação [de jornais militares da Guiné] já tinha enviado para o Sousa de Castro.

Para mim, tem bastante interesse, pois já na altura havia pessoal que arriscava na escrita, e mesmo [no teatro de operações da GUiné] sempre liguei aos Jornais de Caserna.

Alguns podem ser consultados no Arquivo Geral do Exército. E pode ser que apareça alguém com alguma informação de um jornal que não conste na lista.

Ao fim e ao cabo é algo que também faz parte das nossas vidas e das nossas memórias. Depois envio capa de jornais com indicação das unidades.

2. Comentário de L.G.: Participei, durante a minha instrução de especialidade de Apontador de Armas Pesadas, em Tavira, na elaboração de um jornal de caserna, em 1968. Havia uma pequena equipa redactorial. O comandante da unidade zelava pela orientação editorial do jornal. Recordo-me de um belo dia ele obrigar-nos a mandar para o lixo uma edição dedicada à II Guerra Mundial e ao nazifascismo. O argumento do censor-mor era de peso:
- Para guerra, já basta a nossa, a do Ultramar!

Das três capas (ou folhas de rosto) de jornais de caserna enviadas pelo Jorge Santos (Manga de Ronco, Os Progressistas, Zoé) seleccionei Os Progressistas, por uma razão particular, histórica e até afectiva: (i) era um quinzenário de "divulgação, cultura e recreio" da Companhia de Cavalaria 3420, que esteve em Bula, no ano de 1971; (ii) o director era o respectivo comandante, o capitão de cavalaria Fernando J. Salgueiro Maia, o Salgueiro Maia (1944-1992) de quem Carlos Loures escreveu, no sítio Vidas Lusófonas, o seguinte:

"Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se. Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder. É o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril".

© Jorge Santos (2005)

Salgueiro Maia foi, além disso, meu colega, no ano lectivo de 1975/76, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCPS), embora eu pouco ou quase nada privasse com ele, porque eramos de cursos diferentes (eu, de ciências sociais; ele, de antroplogia), com o estatuto de trabalhadores-estudantes. Íamos às aulas à noite e a algumas Reuniões Gerais de Alunos (RGA), numa altura em que o ISCSP passava por um período de vida muito conturbado (saneamento de praticamente todos os docentes com assento no Conselho Científico...), o que levou no final do ano lectivo de 1975/76 (ou nas férias...) ao seu encerramento, por ordem do então Ministro da Educação Sottomayor Cardia e ao consequente início de um duro processo de luta estudantil contra a tutela e o regresso das múmias (como, depreciativamente, eram então chamados os professores, alvo de saneamentos selvagens, de natureza claramente político-ideológica).

3. Não me lembro na Guiné, no meu tempo de comissão (1969/71), de ter visto (e muito menos participado na elaboração de) jornais de caserna. A CCAÇ 12 não tinha caserna, éramos uma unidade de intervenção, composta por soldados africanos e quadros metropolitanos, vivendo em casa emprestada (os nossos soldados africanos, desarranchados, dormiam na tabanca de Bambadinca e não dentro do perímetro do aquartelamento)... Diferente era a situação das unidades de quadrícula (por exemplo, no Xime, Mansambo, Xitole). O jornal de caserna podia ser uma forma interessante de manter alto o moral das tropas e fazer a ligação com a Metrópole.

De qualquer modo, esta faceta do Salgueiro Maia, como director de um jornal de caserna chamado Os Progressistas( CCAV 3420, Bula, 1971), é capaz de ser um aspecto menos conhecido do seu currículo. Fico com curiosidade em saber, um dia, o que se dizia e não dizia nesse quinzenário, muito provavelmente em formato A4 e feito a stencil...

4. Já em tempos eu tinha comunicado com o Jorge Santos, felicitando-o pelo cancioneiro do Niassa, inserido na página dele (só por isso, pelo trabalho de recolha e de divulgação das canções proibidas da guerra colonial em Moçambique, ele merecia uma estátua!) e pedir-lhe autorização para reproduzir alguns dos versos dessas cantigas de caserna no meu blogue... (Vd. meu post, de 11 de Maio de 2004: Blogantologia(s) - XI: Guerra Colonial: Cancioneiro do Niassa)

Voltei, entretanto, a dar-lhe os parabéns pela sua página (que é uma referência e um sítio obrigatório, para todos nós) e já pus o seu nome na nossa tertúlia... Mesmo sendo moçambicano, ele será bem acolhido por todos nós, guinéus.

03 julho 2005

Blogantologia(s) - XXVII: O Parque dos Poetas

Poeta é quem tem
Uma estátua do Simões
No Parque dos Poetas
Mas também
As contas em dia
Nos Serviços Municipalizados
De Águas e Saneamento
De Oeiras.

Poeta não é
O Bocage, émulo de Camões
Que não tinha maneiras,
E, pior que tudo,
Dizia asneiras:
- Porra, atchiiim!
Como o Ary, o ordinário,
O Zé Carlos Ary dos Santos,
O planfletário,
O bardo
Do botequim.

Ser poeta não é
Ter os colhões...
In su situ
Como o Mário,
O Cesariny,
Que não quis, o parvo,
Ganhar o euromilhões
E entrar para a história
Da literatura do imobiliário.

Em questões de género,
Aplique-se, entretanto,
O camartelo
Camarário,
Perdão, o regulamento municipal
Em forma de soneto,
Que manda atribuir quotas
Às senhoras:
- São cotas, senhoras, são cotas!
Para o caso são três, não mais,
Que foi a conta que Deus fez:
Natália, Sophia, Florbela.
Ficam sempre bem
Nas quermesses da cidade,
Nos jogos florais,
Nos bazares da caridade,
Nas feiras e mercados,
Na vida e na tela,
Nos funerais
E procissões.

Um século atrás
As nossas queridas poetisas
Teriam ficado à porta do parque,
Com cliché tirado pelo Joshua Benoliel,
Capa na Ilustração Portuguesa,
E legenda a condizer:
"Não ficam bem as senhoras
Que se metem a doutoras".

Dantes os poetas, os machos,
Íam para o Olimpo,
Laureados,
Ou para o Aljube,
Agrilhoados,
Ou para o Manicómio
Do Rilhafolhes,
Ferrados e dopados,
Ou para o Tarrafal,
Exilados,
Ou para a Morgue,
Congelados,
Ou até para o Panteão Nacional,
Nacionalizados.
Conforme as vagas que houvesse
E o equilíbrio dos quatro humores
Do Senhor Intendente Geral.
Só a Sophia pediu para voltar:
Para passar os dias que não viveu
...Junto do mar.

Hoje o poeta,
Meus senhores,
Não sonha nem dorme
Nos bancos de jardim,
Ocupados pelos sem abrigo.
Vai directamente
Para o Parque,
De preferência já morto e cremado.
O Parque dos Poetas.
Das merendas.
Dos velhinhos
Que dão milho aos pombinhos.
Das criancinhas
Da escola,
De bibe aos quadradinhos.
Dos desempregados
À espera do subsídio de
Desemprego
E a fazer contas
À puta da vida
Que está pela hora da morte.

O Parque dos Poetas
E dos namorados,
Do arco e do balão
E das quadras
Ao Santo António,
Milagreiro,
Casamenteiro,
Brigão,
Brejeiro.

Porque a Poesia
Quando nasce não é
Para todos,
Terá dito um estrangeirado,
O Conde de Oeiras
E futuro Marquês de Pombal
Aos eleitos e aos camareiros,
Atentos e venerandos,
Em soirée,
No seu paço,
Ali mesmo, junto à Marginal.

Homens de letras
Ou de cânones,
Os poetas lusitanos.
Míopes, nos seus fatos
Poídos e castanhos.
Só o Jorge Sena
Era engenheiro.
Naval.
O Torga, clínico.
E o Pessoa, coitado,
Escriturário comercial.
Marçanos,
Cabouqueiros,
Coveiros,
Limpa-chaminés,
Cantoneiros de limpeza,
Calafates,
Estivadores,
Calceteiros,
Picheleiros,
Almocreves,
Pescadores,
Barbeiros-sangradores,
Construtores civis
Ou outra gente
Dos ofícios mecânicos.
Mão há nenhum,
Que se saiba,
Que conste da lista imortal.
Dos poetas imortais.
Minto: há o Álvaro de Campos,
Guardador de rebanhos.
Mas esse não vi lá,
Porque é proibido pisar a relva
E pastar. E sonhar.
E sobretudo apascentar.
Guardador de rebanhos,
À porta da capital,
Parece mal,
Destoa.
Não dá.
Não rima com coisa boa,
Não rima com Lisboa.

Nem o Alegre, o Manel,
Escapou, em vida,
Ao destino cruel
De ser transformado
Em réplica
Do homem de mármore.
Podiam ter-lhe posto,
Ao menos, numa mão, a pena,
E na outra a cana de pesca.
Há quem jure que é castigo
Para o ex-revolucionário
Da Praça da Canção,
Hoje homem de Estado,
Senador da República,
Bonacheirão,
Canastrão,
Arengando para a arraia-miúda do TagusPark:
"Em Nambuangongo, tu não viste nada!...

Quem riria,
Até às lágrimas,
Se fosse vivo,
Seria
O caixa d'óculos do O'Neil,
Agora príncipe
Do Reino da Dinamarca.
Imagino-o,
De Ombro na Ombreira,
Polidor de esquinas,
Desnalgando as gajas,
Mesmo não sendo trolha
Nem nunca tendo ido
Para o trabalho,
De lancheira na mão.
Ou de lancheira na mão
Para o trabalho,
Trocando a mão direita
E a esquerda,
A lancheira e a mão,
Subindo e descendo a Avenida
Da Liberdade
À espera talvez de uma outra vida,
Mais segura,
Ou da dita,
Que só era de nome,
Reza a história,
Por causa da Ditadura,
De má memória.

Mas que pode a palavra, etérea,
De um poeta,
Surrealista, anarca,
Genial,
Mas mais que morto,
Contra a palavra, de pedra e cal,
De um autarca,
No seu feudo, no seu horto?

Alguém roubou
Uma pérola do colar
Da Florbela,
Tão excessiva em vida
Como na morte.
Algum admirador secreto,
Coleccionador,
Adolescente,
Voyeurista,
Turista,
Visionário,
Cleptómano,
Antiquário,
Violador,
Sexista,
Misógeno,
Detective,
Homem aranha.
Ou quiçá
Algum promotor
(I)mobiliário,
O próprio dono da obra,
O empreiteiro,
O engenheiro,
O arquitecto paisagista,
O ajudante do escultor,
O fiscal,
A mulher da limpeza,
Ou até o homem do lixo.

Outro tonto, senil,
Septuagenário,
É o Herberto, o Helder,
Que recusa viver
Com qualidade de vida
No Lupanário
Da poesia.
Porque ser poeta, sortudo,
É ser maior, ser mais alto,
Viver no enésimo andar
Com vista para o Tejo e tudo.

Por mim, confesso,
Gostaria de ter sido
Conservador
Do Registo Predial
Como Pessanha.
E de ter escrito,
Não a fria Clépsidra,
Mas o Caleidoscópio
Lusotropical
Em mangas de alpaca.

Gostaria de ser poeta-funcionário,
Com cama, mesa e roupa lavada,
Uma tença, mesada ou salário,
E ajudas de custo para poder sonhar.
Gostaria de ter feito (e dito)
Um soneto
A letra gótica,
À mão,
À moda antiga,
Com punhos de renda,
E de ter tido tempo
Para fumar ópio
Em Macau
E imaginar
O eclipse do Império Colonial,
Como um baralho de cartas,
A desmoronar-se,
Do Minho a Timor.

Gostaria sobretudo
De ter escrito
E de pôr no meu currículo
O Sentimento de um Ocidental:

"Nas nossas ruas, ao anoitecer
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer".

Em Lisboa nem poesia má nem prosa boa,
Mas prefiro aquele verso,
Mais rasca,
Mais proleta,
Mais canalha,
Que evoca os construtores da cidade,
Tão bravos quanto boçais,
Vistosos nos seus fatos-macacos,
E que engrossavam as estatísticas
Dos acidentes de trabalho
Mortais:
"Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros".

Poeta maior da nossa modernidade menor,
Cesário, o Verde,
Não alcançou o Século
Da energia nuclear.
Da viagem à lua.
Dos amanhãs que o outro galo cantaria.
Da Festa do Avante.
Do cimento armado.
Do motor de explosão.
Das alegrias dos futebóis.
Do triunfo da ecologia
E da googlização.
Da bomba que brilhou
Mais do que mil sóis
Em Hiroshima, meu amor.
O Século dos chips
E do chip de porco liofilizado.
Da caixinha que mudou o mundo.
Da aspirina e da farinha Amparo.
Do terror de Tianannmen.
Dos comícios da Fonte Luminosa
Ou do povão do garrafão
No Pontal do Portugal sacro-profano.
Não conheceu o Sá,
Talvez só o Mário,
Não o Soares, mas o Carneiro
A fazer o pino.
Não figura por isso
No Parque do Isaltino.

Blogantologia(s) - XXVII: O Parque dos Poetas

Poeta é quem tem
Uma estátua do Simões
No Parque dos Poetas
Mas também
As contas em dia
Nos Serviços Municipalizados
De Águas e Saneamento
De Oeiras.

Poeta não é
O Bocage, émulo de Camões
Que não tinha maneiras,
E, pior que tudo,
Dizia asneiras:
- Porra, atchiiim!
Como o Ary, o ordinário,
O Zé Carlos Ary dos Santos,
O planfletário,
O bardo
Do botequim.

Ser poeta não é
Ter os colhões...
In su situ
Como o Mário,
O Cesariny,
Que não quis, o parvo,
Ganhar o euromilhões
E entrar para a história
Da literatura do imobiliário.

Em questões de género,
Aplique-se, entretanto,
O camartelo
Camarário,
Perdão, o regulamento municipal
Em forma de soneto,
Que manda atribuir quotas
Às senhoras:
- São cotas, senhoras, são cotas!
Para o caso são três, não mais,
Que foi a conta que Deus fez:
Natália, Sophia, Florbela.
Ficam sempre bem
Nas quermesses da cidade,
Nos jogos florais,
Nos bazares da caridade,
Nas feiras e mercados,
Na vida e na tela,
Nos funerais
E procissões.

Um século atrás
As nossas queridas poetisas
Teriam ficado à porta do parque,
Com cliché tirado pelo Joshua Benoliel,
Capa na Ilustração Portuguesa,
E legenda a condizer:
"Não ficam bem as senhoras
Que se metem a doutoras".

Dantes os poetas, os machos,
Íam para o Olimpo,
Laureados,
Ou para o Aljube,
Agrilhoados,
Ou para o Manicómio
Do Rilhafolhes,
Ferrados e dopados,
Ou para o Tarrafal,
Exilados,
Ou para a Morgue,
Congelados,
Ou até para o Panteão Nacional,
Nacionalizados.
Conforme as vagas que houvesse
E o equilíbrio dos quatro humores
Do Senhor Intendente Geral.
Só a Sophia pediu para voltar:
Para passar os dias que não viveu
...Junto do mar.

Hoje o poeta,
Meus senhores,
Não sonha nem dorme
Nos bancos de jardim,
Ocupados pelos sem abrigo.
Vai directamente
Para o Parque,
De preferência já morto e cremado.
O Parque dos Poetas.
Das merendas.
Dos velhinhos
Que dão milho aos pombinhos.
Das criancinhas
Da escola,
De bibe aos quadradinhos.
Dos desempregados
À espera do subsídio de
Desemprego
E a fazer contas
À puta da vida
Que está pela hora da morte.

O Parque dos Poetas
E dos namorados,
Do arco e do balão
E das quadras
Ao Santo António,
Milagreiro,
Casamenteiro,
Brigão,
Brejeiro.

Porque a Poesia
Quando nasce não é
Para todos,
Terá dito um estrangeirado,
O Conde de Oeiras
E futuro Marquês de Pombal
Aos eleitos e aos camareiros,
Atentos e venerandos,
Em soirée,
No seu paço,
Ali mesmo, junto à Marginal.

Homens de letras
Ou de cânones,
Os poetas lusitanos.
Míopes, nos seus fatos
Poídos e castanhos.
Só o Jorge Sena
Era engenheiro.
Naval.
O Torga, clínico.
E o Pessoa, coitado,
Escriturário comercial.
Marçanos,
Cabouqueiros,
Coveiros,
Limpa-chaminés,
Cantoneiros de limpeza,
Calafates,
Estivadores,
Calceteiros,
Picheleiros,
Almocreves,
Pescadores,
Barbeiros-sangradores,
Construtores civis
Ou outra gente
Dos ofícios mecânicos.
Mão há nenhum,
Que se saiba,
Que conste da lista imortal.
Dos poetas imortais.
Minto: há o Álvaro de Campos,
Guardador de rebanhos.
Mas esse não vi lá,
Porque é proibido pisar a relva
E pastar. E sonhar.
E sobretudo apascentar.
Guardador de rebanhos,
À porta da capital,
Parece mal,
Destoa.
Não dá.
Não rima com coisa boa,
Não rima com Lisboa.

Nem o Alegre, o Manel,
Escapou, em vida,
Ao destino cruel
De ser transformado
Em réplica
Do homem de mármore.
Podiam ter-lhe posto,
Ao menos, numa mão, a pena,
E na outra a cana de pesca.
Há quem jure que é castigo
Para o ex-revolucionário
Da Praça da Canção,
Hoje homem de Estado,
Senador da República,
Bonacheirão,
Canastrão,
Arengando para a arraia-miúda do TagusPark:
"Em Nambuangongo, tu não viste nada!...

Quem riria,
Até às lágrimas,
Se fosse vivo,
Seria
O caixa d'óculos do O'Neil,
Agora príncipe
Do Reino da Dinamarca.
Imagino-o,
De Ombro na Ombreira,
Polidor de esquinas,
Desnalgando as gajas,
Mesmo não sendo trolha
Nem nunca tendo ido
Para o trabalho,
De lancheira na mão.
Ou de lancheira na mão
Para o trabalho,
Trocando a mão direita
E a esquerda,
A lancheira e a mão,
Subindo e descendo a Avenida
Da Liberdade
À espera talvez de uma outra vida,
Mais segura,
Ou da dita,
Que só era de nome,
Reza a história,
Por causa da Ditadura,
De má memória.

Mas que pode a palavra, etérea,
De um poeta,
Surrealista, anarca,
Genial,
Mas mais que morto,
Contra a palavra, de pedra e cal,
De um autarca,
No seu feudo, no seu horto?

Alguém roubou
Uma pérola do colar
Da Florbela,
Tão excessiva em vida
Como na morte.
Algum admirador secreto,
Coleccionador,
Adolescente,
Voyeurista,
Turista,
Visionário,
Cleptómano,
Antiquário,
Violador,
Sexista,
Misógeno,
Detective,
Homem aranha.
Ou quiçá
Algum promotor
(I)mobiliário,
O próprio dono da obra,
O empreiteiro,
O engenheiro,
O arquitecto paisagista,
O ajudante do escultor,
O fiscal,
A mulher da limpeza,
Ou até o homem do lixo.

Outro tonto, senil,
Septuagenário,
É o Herberto, o Helder,
Que recusa viver
Com qualidade de vida
No Lupanário
Da poesia.
Porque ser poeta, sortudo,
É ser maior, ser mais alto,
Viver no enésimo andar
Com vista para o Tejo e tudo.

Por mim, confesso,
Gostaria de ter sido
Conservador
Do Registo Predial
Como Pessanha.
E de ter escrito,
Não a fria Clépsidra,
Mas o Caleidoscópio
Lusotropical
Em mangas de alpaca.

Gostaria de ser poeta-funcionário,
Com cama, mesa e roupa lavada,
Uma tença, mesada ou salário,
E ajudas de custo para poder sonhar.
Gostaria de ter feito (e dito)
Um soneto
A letra gótica,
À mão,
À moda antiga,
Com punhos de renda,
E de ter tido tempo
Para fumar ópio
Em Macau
E imaginar
O eclipse do Império Colonial,
Como um baralho de cartas,
A desmoronar-se,
Do Minho a Timor.

Gostaria sobretudo
De ter escrito
E de pôr no meu currículo
O Sentimento de um Ocidental:

"Nas nossas ruas, ao anoitecer
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer".

Em Lisboa nem poesia má nem prosa boa,
Mas prefiro aquele verso,
Mais rasca,
Mais proleta,
Mais canalha,
Que evoca os construtores da cidade,
Tão bravos quanto boçais,
Vistosos nos seus fatos-macacos,
E que engrossavam as estatísticas
Dos acidentes de trabalho
Mortais:
"Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga, os mestres carpinteiros".

Poeta maior da nossa modernidade menor,
Cesário, o Verde,
Não alcançou o Século
Da energia nuclear.
Da viagem à lua.
Dos amanhãs que o outro galo cantaria.
Da Festa do Avante.
Do cimento armado.
Do motor de explosão.
Das alegrias dos futebóis.
Do triunfo da ecologia
E da googlização.
Da bomba que brilhou
Mais do que mil sóis
Em Hiroshima, meu amor.
O Século dos chips
E do chip de porco liofilizado.
Da caixinha que mudou o mundo.
Da aspirina e da farinha Amparo.
Do terror de Tianannmen.
Dos comícios da Fonte Luminosa
Ou do povão do garrafão
No Pontal do Portugal sacro-profano.
Não conheceu o Sá,
Talvez só o Mário,
Não o Soares, mas o Carneiro
A fazer o pino.
Não figura por isso
No Parque do Isaltino.

Guiné 69/71 - XCV: No muito somos irmãos, no pouco... outra bandeira!

Eis a mensagem que recebi, há dias, de um dos camaradas da nossa tertúlia de ex-combatentes da Guiné. Pediu-me para não ser identificado, no caso de decidir publicá-la no blogue. Usa o pseudónimo literário de Marame. Assim seja:


"Salve para Todos, Cruzados do Leste! Cá o passeador do RACAL envia este improviso poético ou palavras em castelo. O texto simboliza uma conversa na companhia de uma bazuca que eu gostaria de ter bebido com todos vós, à sombra de uma laranjeira. Igual àquela que existia no meu Condomínio Fechado. Um Alfa Bravo para Todos e Boas Férias".


Sentido


Largados na latitude do inferno,
Levando a Alma no bornal
Cujo corpo pede o Materno
Porque ainda não era Portugal.


Os pés cheiram o Chão
Mas a Mina é mostrengo,
Vive no solo, sente a Exaustão
Do guerreiro que ainda é Tenro.


Que leu Camões, dançou a chula
E só em Cristo tinha a luz,
Aconchega o Mandinga ou o Fula
Porque o respeito o Bem produz.


Seja no Mamadu, na bajuda ou no Zé
E assim no regresso o navio deixou Esteira
Para não se perder o elo para a Terra vermelha da Guiné
Porque no muito somos Irmãos – no pouco outra bandeira!

Marame (2005)

Guiné 69/71 - XCV: No muito somos irmãos, no pouco... outra bandeira!

Eis a mensagem que recebi, há dias, de um dos camaradas da nossa tertúlia de ex-combatentes da Guiné. Pediu-me para não ser identificado, no caso de decidir publicá-la no blogue. Usa o pseudónimo literário de Marame. Assim seja:


"Salve para Todos, Cruzados do Leste! Cá o passeador do RACAL envia este improviso poético ou palavras em castelo. O texto simboliza uma conversa na companhia de uma bazuca que eu gostaria de ter bebido com todos vós, à sombra de uma laranjeira. Igual àquela que existia no meu Condomínio Fechado. Um Alfa Bravo para Todos e Boas Férias".


Sentido


Largados na latitude do inferno,
Levando a Alma no bornal
Cujo corpo pede o Materno
Porque ainda não era Portugal.


Os pés cheiram o Chão
Mas a Mina é mostrengo,
Vive no solo, sente a Exaustão
Do guerreiro que ainda é Tenro.


Que leu Camões, dançou a chula
E só em Cristo tinha a luz,
Aconchega o Mandinga ou o Fula
Porque o respeito o Bem produz.


Seja no Mamadu, na bajuda ou no Zé
E assim no regresso o navio deixou Esteira
Para não se perder o elo para a Terra vermelha da Guiné
Porque no muito somos Irmãos – no pouco outra bandeira!

Marame (2005)