22 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CCCXCVI: Bissau: recordações de infância

1. Temos mais um tertuliano, mas desta vez com um estatuto até agora original: é filho de um militar de carreira que esteve na Guiné entre 1966 e 1968. Seu nome: João Brito e Sá. Presumo que viva na região do Porto, a deduzir do número de telefone que enviou. Há dias mandou-te um pequeno texto das suas recordações de Bissau, com um pequena introdutória:

"Peço-lhe que antes de introduzir este texto no site, o leia. A Guiné-Bissau é um tema extremamente delicado e, por tal, deverá ser tratado com delicadeza.

"O meu Pai nunca me falou da guerra... Comentou apenas uma vez que lhe fazía impressão ouvir um helicópetro. Justificou-se recordando os mortos e feridos que eram evacuados... Remeti-me ao silêncio: a guerra deve ser uma coisa horrível, pensei...

2. Perguntei a seguir ao João:

"Queres fazer parte da nossa tertúlia e receber os e-mails ? É isso ? Se sim, terei muito gosto em publicar o teu post... Já agora, não queres dar pistas sobre o teu passado na Guiné ? Em que região esteve o teu pai, em que época ?... Tens fotos desse tempo ?

"Como já vistes, somos plurais no blogue: a única coisa que prezamos é a verdade dos factos, e o respeito uns pelos outros. Ah, também nos tratamos por tu.. Um abraço. Luís"

3. Resposta do novo tertuliano:

"Ok, Luis podes publicar. Não sei se o meu Pai terá fotos da época, vou-lhe perguntar. Ele era, na altura, Capitão de Artilharia (do quadro) da CCAÇ 762, entre 66 e 68. Penso que foi substituir uma outra companhia em Bijene e Barro. Terei que confirmar alguns pormenores.

"Da Guiné só me lembro do que está escrito no post...eu era muito pequeno.

Um abraço, João.

Muito mais há para dizer!

Um abraço, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo



4. Texto do João

Guiné-Bissau

Foi divertido...no pátio de nossa casa eu e o meu irmão mais velho, o Lourenço, competíamos acerca dos sapos....não era uma corrida ou um concurso de saltos. A nossa disputa prendia-se só com a quantidade, com o número de animais que o nosso corpo podería albergar...nos ombros, na cabeça, no pescoço, nos braços... Eram dezenas, se calhar centenas, de sapos gordos e escuros que colocávamos cuidadosamente em cima de nós... Imagino que o objectivo fosse colocar o maior número possível. Ainda hoje me pergunto porque é que eles não fugiam.

Ao lado de nossa casa haviam umas ervas...por hipótese, algum tipo de gramínea de folhas longas e lanceoladas, que escondiam muitos, muitos gafanhotos... Lembro-me particularmente de um, com barriga encarnada e asas verdes que dentro da cozinha saltou para o meu irmão, provocando-lhe uma reacção intempestiva e energicamente oposta à minha brincadeira. Retorqui prontamente:
- És um maricas, um nojentinho...e eu juntei em cima de mim mais sapos do que tu.

Havia ainda a Estrela, uma cadela Boxer, que não me lembro se se babava... Mas admito que essa desagradável secreção canina me incomodasse menos na altura do que hoje, já que deveria ter 4 anos de idade...Nesta idade nada nos incomodava, nem fome, nem sede, nem frio.

Não me lembro de mais nada... Nem mesmo que regressei à Metrópole com a minha Mãe e restantes irmãos, três, e que o Lourenço, o mais velho, lá ficou lá mais um ano com o meu Pai acompanhando-o ao serviço da Pátria, defendendo aquele território, contra vis agressões externas, que outrora fora Portugal, com a mesma convicção com que eu hoje defendo a minha casa, a minha belguita e a minha Família. Era esse o sentimento. O mais natural, o mais lógico...nada de novo, portanto.

(in "O Lzec contado ao mosquitto")


_____

PS - O João Brito e Sá terá sido mordido, aos 4 anos, pelo "bichinho de África". Quase quarenta anos depois, vemo-lo a organizar uma expedição a São Tomé e Princípe, com partida de Gaia, em veículo-todo-o-terreno. Veja-se a sua página Latitude Zero. Em Setembro de 2005, decorreu o LZEC 2005:

"O Latitude Zero – Equatorial Challenge (LZEC), sendo um evento desportivo, inédito – neste formato - em qualquer país, membro da CPLP, tem como objectivos divulgar as enormes potencialidades turísticas de São Tomé e Príncipe (STP)"...

O João é capaz de querer organizar uma coisa parecida na Guíné-Bissau...Aliás, no meu e-mail que me mandou, disse: "Estive toda a tarde a ver o seu site. Entre muitas outras perguntas que lhe farei e para as quais gostaría de obter algumas respostas, a primeira é: como fazer para adquirir as cartas militares da Guiné-Bissau, tanto em papel como em formato digital?".

Na altuta, expliquei-lhe o que devia fazer:

"João: Obrigado por ter visitado a(s) nossa(s) página(s) e o nosso bnlogue. Sobre a pergunta que nos faz, o melhor é ler a legenda que acompanha os nossos mapas. Está lá tudo explicado. Mas pode também contactar o elemento da nossa equipa que adquiriu e digitalizou estas cartas: o Engº Humberto Reis. O seu endereço de e-mail está disponível. Veja a nossa lista de membros da tertúlia.

"O João fica, desde já, convidado a fazer parte da nossa tertúlia, se assim o desejar. Temos contactos com a Guiné-Bissau, incluindo apoio logístico… As regras são simples: (i) como antigos camaradas de guerra (ou amigos da Guiné-Bissau), todos nos tratamos por tu; (ii) os novos aderentes terão de contar uma estória, um pequeno episódio, identificarem-se, mandarem duas fotos (uma antiga e uma mais recente).

"Parabéns pelo seu sítio e pela sua acção na promoção da língua portuguesa e dos países lusófonos, com destaque para São Tomé e Príncipe. Como vê, no seu tempo de djubi, as nossas expedições eram outras… As nossas e as do seu pai".

Guiné 63/74 - CCCXCVI: Bissau: recordações de infância

1. Temos mais um tertuliano, mas desta vez com um estatuto até agora original: é filho de um militar de carreira que esteve na Guiné entre 1966 e 1968. Seu nome: João Brito e Sá. Presumo que viva na região do Porto, a deduzir do número de telefone que enviou. Há dias mandou-te um pequeno texto das suas recordações de Bissau, com um pequena introdutória:

"Peço-lhe que antes de introduzir este texto no site, o leia. A Guiné-Bissau é um tema extremamente delicado e, por tal, deverá ser tratado com delicadeza.

"O meu Pai nunca me falou da guerra... Comentou apenas uma vez que lhe fazía impressão ouvir um helicópetro. Justificou-se recordando os mortos e feridos que eram evacuados... Remeti-me ao silêncio: a guerra deve ser uma coisa horrível, pensei...

2. Perguntei a seguir ao João:

"Queres fazer parte da nossa tertúlia e receber os e-mails ? É isso ? Se sim, terei muito gosto em publicar o teu post... Já agora, não queres dar pistas sobre o teu passado na Guiné ? Em que região esteve o teu pai, em que época ?... Tens fotos desse tempo ?

"Como já vistes, somos plurais no blogue: a única coisa que prezamos é a verdade dos factos, e o respeito uns pelos outros. Ah, também nos tratamos por tu.. Um abraço. Luís"

3. Resposta do novo tertuliano:

"Ok, Luis podes publicar. Não sei se o meu Pai terá fotos da época, vou-lhe perguntar. Ele era, na altura, Capitão de Artilharia (do quadro) da CCAÇ 762, entre 66 e 68. Penso que foi substituir uma outra companhia em Bijene e Barro. Terei que confirmar alguns pormenores.

"Da Guiné só me lembro do que está escrito no post...eu era muito pequeno.

Um abraço, João.

Muito mais há para dizer!

Um abraço, um Santo Natal e um Feliz Ano Novo



4. Texto do João

Guiné-Bissau

Foi divertido...no pátio de nossa casa eu e o meu irmão mais velho, o Lourenço, competíamos acerca dos sapos....não era uma corrida ou um concurso de saltos. A nossa disputa prendia-se só com a quantidade, com o número de animais que o nosso corpo podería albergar...nos ombros, na cabeça, no pescoço, nos braços... Eram dezenas, se calhar centenas, de sapos gordos e escuros que colocávamos cuidadosamente em cima de nós... Imagino que o objectivo fosse colocar o maior número possível. Ainda hoje me pergunto porque é que eles não fugiam.

Ao lado de nossa casa haviam umas ervas...por hipótese, algum tipo de gramínea de folhas longas e lanceoladas, que escondiam muitos, muitos gafanhotos... Lembro-me particularmente de um, com barriga encarnada e asas verdes que dentro da cozinha saltou para o meu irmão, provocando-lhe uma reacção intempestiva e energicamente oposta à minha brincadeira. Retorqui prontamente:
- És um maricas, um nojentinho...e eu juntei em cima de mim mais sapos do que tu.

Havia ainda a Estrela, uma cadela Boxer, que não me lembro se se babava... Mas admito que essa desagradável secreção canina me incomodasse menos na altura do que hoje, já que deveria ter 4 anos de idade...Nesta idade nada nos incomodava, nem fome, nem sede, nem frio.

Não me lembro de mais nada... Nem mesmo que regressei à Metrópole com a minha Mãe e restantes irmãos, três, e que o Lourenço, o mais velho, lá ficou lá mais um ano com o meu Pai acompanhando-o ao serviço da Pátria, defendendo aquele território, contra vis agressões externas, que outrora fora Portugal, com a mesma convicção com que eu hoje defendo a minha casa, a minha belguita e a minha Família. Era esse o sentimento. O mais natural, o mais lógico...nada de novo, portanto.

(in "O Lzec contado ao mosquitto")


_____

PS - O João Brito e Sá terá sido mordido, aos 4 anos, pelo "bichinho de África". Quase quarenta anos depois, vemo-lo a organizar uma expedição a São Tomé e Princípe, com partida de Gaia, em veículo-todo-o-terreno. Veja-se a sua página Latitude Zero. Em Setembro de 2005, decorreu o LZEC 2005:

"O Latitude Zero – Equatorial Challenge (LZEC), sendo um evento desportivo, inédito – neste formato - em qualquer país, membro da CPLP, tem como objectivos divulgar as enormes potencialidades turísticas de São Tomé e Príncipe (STP)"...

O João é capaz de querer organizar uma coisa parecida na Guíné-Bissau...Aliás, no meu e-mail que me mandou, disse: "Estive toda a tarde a ver o seu site. Entre muitas outras perguntas que lhe farei e para as quais gostaría de obter algumas respostas, a primeira é: como fazer para adquirir as cartas militares da Guiné-Bissau, tanto em papel como em formato digital?".

Na altuta, expliquei-lhe o que devia fazer:

"João: Obrigado por ter visitado a(s) nossa(s) página(s) e o nosso bnlogue. Sobre a pergunta que nos faz, o melhor é ler a legenda que acompanha os nossos mapas. Está lá tudo explicado. Mas pode também contactar o elemento da nossa equipa que adquiriu e digitalizou estas cartas: o Engº Humberto Reis. O seu endereço de e-mail está disponível. Veja a nossa lista de membros da tertúlia.

"O João fica, desde já, convidado a fazer parte da nossa tertúlia, se assim o desejar. Temos contactos com a Guiné-Bissau, incluindo apoio logístico… As regras são simples: (i) como antigos camaradas de guerra (ou amigos da Guiné-Bissau), todos nos tratamos por tu; (ii) os novos aderentes terão de contar uma estória, um pequeno episódio, identificarem-se, mandarem duas fotos (uma antiga e uma mais recente).

"Parabéns pelo seu sítio e pela sua acção na promoção da língua portuguesa e dos países lusófonos, com destaque para São Tomé e Príncipe. Como vê, no seu tempo de djubi, as nossas expedições eram outras… As nossas e as do seu pai".

Guiné 63/74 - CCCXCV: CCAÇ 16121 (Cufar); CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68)

Hugo Moura Ferreira


1. Começo por me apresentar informando-o que também estive na Guiné (Cufar - CCAÇ 1621 e Bedanda - CCAÇ 6) como Alf Mil de Infantaria, entre Novembro de 1966 e Novembro de 1968.

Naturalmente que, como todos aqueles que por ali passaram (pelo menos grande parte deles), fiquei "apanhado" e tenho uma certa "paranóia" por aquelas terras e aquelas gentes. Digo mesmo que se é que existe vida para além da morte, certamente em outra encarnação terei sido africano e guineense, pois que, tendo vivido também alguns anos em Angola, as saudades daquele pequeno país são muito maiores.

Ainda não tive a oportunidade de voltar lá, mas acalento a esperança de nos anos mais próximos vir a concretizar essa ambição. Até porque alguns antigos soldados africanos do meu Grupo, em Bedanda, têm insistido para que os visite.

Depois desta pequena apresentação, passo então aos pontos que lhe queria transmitir.

Como estou aposentado do MNE [Ministério dos Negócios Estrangeiros], tenho agora mais algum tempo para me dedicar ao que gosto.

Assim, como "navego" muito na Net, procurando também assuntos relacionados com a Guiné, descobri o seu Blog, que está FENOMENAL e pelo qual gostaria de o felicitar, de que é pena esteja muito dirigido a zonas em que eu não estive e datas diferentes das minhas. Mas, à parte tudo isso, o que ali encontro, incluindo os links, me dá uma satisfação indescritível e me provoca uma tal nostalgia que se transforma em prazer masoquista.

Como verifiquei que apresenta algumas cartas topográficas da Guiné de uma colecção, de que o Engº Humberto Reis que verifiquei ter completa, de que eu apenas tenho 67 cartas, e que me acompanharam sempre, desde que embarquei para a Guiné, em 1966, pensei que talvez fosse interessante entre todos conseguirmos digitalizá-las e introduzir a totalidade da colecção no site. Não me importarei de despender o tempo necessário para tal, visto que, como disse atrás, estou aposentado.

Quanto a fotos, lamento desiludir, se por acaso pensou que eu poderia contribuir, mas nesta fase é-me de todo impossível, visto que as muitas que eu tirei quando por lá andei, acabaram por ficar em Angola, Henrique de Carvalho (hoje Saurimo), destruídas por terem sido apanhadas em fogo cruzado entre os militares da FNLA e do MPLA quando ambos os movimentos, em Setembro de 1974, procuravam ao controle de toda a área da Diamang, na Lunda. Foi um grande erro, de que procuro não me culpar, tê-las levado comigo, mas... "como o que não tem remédio..."

Tenho esperança de que durante o próximo ano de 2006 possa vir a conseguir algumas dos meus camaradas da CCAÇ 1621, que ao fim de todos estes anos consegui, depois de muitas tentativas vir a saber que sistematicamente se encontram em almoços de confraternização, que eu desconhecia (98% do pessoal era do Minho e Trás-os-Montes), e também durante o 10 de Junho, durante as cerimónias junto ao Monumento aos nossos mortos, em Pedrouços. Eu mesmo vou lá todos os anos, mas até hoje ainda não tinha encontrado nenhum dos estiveram comigo. Claro... mudam as feições... e os cabelos de cor.

Mas como estou a tentar contactar todos o que me seja possível, mesmo os da CCAÇ 6 que, sendo uma companhia de africanos (guarnição normal), apenas tinha alguns naturais da Metrópole, andando a fazer pesquisas, tanto no Arquivo Histórico Militar, como nas Unidades, pode ser que venha a conseguir algo que possa servir como achega para o Blogue-Fora-Nada ou para algum dos "sites" relacionados. Você decidirá.

Bem e para terminar esta já longa mensagem, vou apenas juntar duas fotos minhas, uma de 1968, tirada em Bissau, e outra mais recente como complemento à minha introdução/apresentação, inicial visto que também tive o prazer de o conhecer, através do seu site pessoal.

Com os melhores cumprimentos, ficarei a aguardar qualquer resposta que entenda, no seguimento do que acima lhe expus.

2. Caro (se me permite?!) Dr. Luis Graça.

Afinal, contrariando o que na mensagem anterior disse, parece que não tinha razão quanto a não haver nada acerca dos locais por onde passei. E tenho que dar a mão à palmatória.

São 2H30 [do dia 21 de Dezembro] e, como sempre, no silêncio da noite, por vezes acendem-se as luzinhas... metafóricamente falando. E não é que fui encontrar, através do Google, uma referência que me levou ao seu blogue com o endereço do Gabu onde vim a encontrar o meu amigo, que não vejo há muito tempo, mas que sei ter deixado a vida militar, por ter sido atingido pela deflagração de uma mina e ter ficado com deficiência auditiva, já como Capitão e a comandar a CCAÇ 6, em Bedanda, por alturas de 1973?

Pois mas a "graça" disto está no facto de em 1968 (talvez fins de 1967) quando eu estava em Bedanda, nos apareceu por lá, a fim de receber treino operacional e fazer o tirocínio da Academia Militar, o Gastão, ainda como Alferes. E nós milicianos a receber ordens dele... Já viram isto... Dum periquito... E esta hem?!

A curiosidade é que ele depois de 5 anos vai "cair" na mesma companhia, de guarnição normal, a comandá-la como Capitão. Não posso afirmar, mas certamente foi lá encontrar alguns dos fizeram a guerra com ele ainda como Alferes, porque eu, em 1968, fui encontrar alguns que ali se encontravam desde 1963, e com quem, reconheço aprendi muita coisa, embora tivesse sido lá colocado já com 8 meses de experiência de mato. Estou a lembrar-me do Elmano Francisco Sanó (Fodé), que depois de ter sido premiado com várias Cruzes de Guerra, Prémios Governador, e promoções por distinção a Cabo e a Furriel, entre outros, acabou por vir a falecer vitima de doença.
Bem, mas neste momento já me encontro a divagar. Talvez por ser tarde na noite. Disciplinando-me... Vou retirar-me!

Cumprimentos e até outra oportunidade.


Hugo Moura Ferreira

Guiné 63/74 - CCCXCV: CCAÇ 16121 (Cufar); CCAÇ 6 (Bedanda) (1966/68)

Hugo Moura Ferreira


1. Começo por me apresentar informando-o que também estive na Guiné (Cufar - CCAÇ 1621 e Bedanda - CCAÇ 6) como Alf Mil de Infantaria, entre Novembro de 1966 e Novembro de 1968.

Naturalmente que, como todos aqueles que por ali passaram (pelo menos grande parte deles), fiquei "apanhado" e tenho uma certa "paranóia" por aquelas terras e aquelas gentes. Digo mesmo que se é que existe vida para além da morte, certamente em outra encarnação terei sido africano e guineense, pois que, tendo vivido também alguns anos em Angola, as saudades daquele pequeno país são muito maiores.

Ainda não tive a oportunidade de voltar lá, mas acalento a esperança de nos anos mais próximos vir a concretizar essa ambição. Até porque alguns antigos soldados africanos do meu Grupo, em Bedanda, têm insistido para que os visite.

Depois desta pequena apresentação, passo então aos pontos que lhe queria transmitir.

Como estou aposentado do MNE [Ministério dos Negócios Estrangeiros], tenho agora mais algum tempo para me dedicar ao que gosto.

Assim, como "navego" muito na Net, procurando também assuntos relacionados com a Guiné, descobri o seu Blog, que está FENOMENAL e pelo qual gostaria de o felicitar, de que é pena esteja muito dirigido a zonas em que eu não estive e datas diferentes das minhas. Mas, à parte tudo isso, o que ali encontro, incluindo os links, me dá uma satisfação indescritível e me provoca uma tal nostalgia que se transforma em prazer masoquista.

Como verifiquei que apresenta algumas cartas topográficas da Guiné de uma colecção, de que o Engº Humberto Reis que verifiquei ter completa, de que eu apenas tenho 67 cartas, e que me acompanharam sempre, desde que embarquei para a Guiné, em 1966, pensei que talvez fosse interessante entre todos conseguirmos digitalizá-las e introduzir a totalidade da colecção no site. Não me importarei de despender o tempo necessário para tal, visto que, como disse atrás, estou aposentado.

Quanto a fotos, lamento desiludir, se por acaso pensou que eu poderia contribuir, mas nesta fase é-me de todo impossível, visto que as muitas que eu tirei quando por lá andei, acabaram por ficar em Angola, Henrique de Carvalho (hoje Saurimo), destruídas por terem sido apanhadas em fogo cruzado entre os militares da FNLA e do MPLA quando ambos os movimentos, em Setembro de 1974, procuravam ao controle de toda a área da Diamang, na Lunda. Foi um grande erro, de que procuro não me culpar, tê-las levado comigo, mas... "como o que não tem remédio..."

Tenho esperança de que durante o próximo ano de 2006 possa vir a conseguir algumas dos meus camaradas da CCAÇ 1621, que ao fim de todos estes anos consegui, depois de muitas tentativas vir a saber que sistematicamente se encontram em almoços de confraternização, que eu desconhecia (98% do pessoal era do Minho e Trás-os-Montes), e também durante o 10 de Junho, durante as cerimónias junto ao Monumento aos nossos mortos, em Pedrouços. Eu mesmo vou lá todos os anos, mas até hoje ainda não tinha encontrado nenhum dos estiveram comigo. Claro... mudam as feições... e os cabelos de cor.

Mas como estou a tentar contactar todos o que me seja possível, mesmo os da CCAÇ 6 que, sendo uma companhia de africanos (guarnição normal), apenas tinha alguns naturais da Metrópole, andando a fazer pesquisas, tanto no Arquivo Histórico Militar, como nas Unidades, pode ser que venha a conseguir algo que possa servir como achega para o Blogue-Fora-Nada ou para algum dos "sites" relacionados. Você decidirá.

Bem e para terminar esta já longa mensagem, vou apenas juntar duas fotos minhas, uma de 1968, tirada em Bissau, e outra mais recente como complemento à minha introdução/apresentação, inicial visto que também tive o prazer de o conhecer, através do seu site pessoal.

Com os melhores cumprimentos, ficarei a aguardar qualquer resposta que entenda, no seguimento do que acima lhe expus.

2. Caro (se me permite?!) Dr. Luis Graça.

Afinal, contrariando o que na mensagem anterior disse, parece que não tinha razão quanto a não haver nada acerca dos locais por onde passei. E tenho que dar a mão à palmatória.

São 2H30 [do dia 21 de Dezembro] e, como sempre, no silêncio da noite, por vezes acendem-se as luzinhas... metafóricamente falando. E não é que fui encontrar, através do Google, uma referência que me levou ao seu blogue com o endereço do Gabu onde vim a encontrar o meu amigo, que não vejo há muito tempo, mas que sei ter deixado a vida militar, por ter sido atingido pela deflagração de uma mina e ter ficado com deficiência auditiva, já como Capitão e a comandar a CCAÇ 6, em Bedanda, por alturas de 1973?

Pois mas a "graça" disto está no facto de em 1968 (talvez fins de 1967) quando eu estava em Bedanda, nos apareceu por lá, a fim de receber treino operacional e fazer o tirocínio da Academia Militar, o Gastão, ainda como Alferes. E nós milicianos a receber ordens dele... Já viram isto... Dum periquito... E esta hem?!

A curiosidade é que ele depois de 5 anos vai "cair" na mesma companhia, de guarnição normal, a comandá-la como Capitão. Não posso afirmar, mas certamente foi lá encontrar alguns dos fizeram a guerra com ele ainda como Alferes, porque eu, em 1968, fui encontrar alguns que ali se encontravam desde 1963, e com quem, reconheço aprendi muita coisa, embora tivesse sido lá colocado já com 8 meses de experiência de mato. Estou a lembrar-me do Elmano Francisco Sanó (Fodé), que depois de ter sido premiado com várias Cruzes de Guerra, Prémios Governador, e promoções por distinção a Cabo e a Furriel, entre outros, acabou por vir a falecer vitima de doença.
Bem, mas neste momento já me encontro a divagar. Talvez por ser tarde na noite. Disciplinando-me... Vou retirar-me!

Cumprimentos e até outra oportunidade.


Hugo Moura Ferreira

Guiné 63/74 - CCCXCIV: Al barka ou obrigado em mandinga (A. Marques Lopes)

Texto do A. Marques Lopes:

Caros camaradas:

Enviei ao Indami uma mensagem de Boas Festas, usando aquela que o Mário Dias nos mandou a nós. Ele respondeu-me como transcrevo em baixo. Mando-vos isto para realçar a maravilha que é podermos falar como amigos com gente daquela terra da Guiné. O Indami e a sua família são mandingas, mas ele não tem problemas em desejar Bom Natal.

O pai dele, Agostinho Indami, que fez 50 anos a 13 de Dezembro pp, foi, como já vos disse, governador do Oio de 2001 a 2004; antes da independência, muito jovem, portanto, esteve num curso na antiga União Soviética. Foi um quadro do PAIGC. É ele que quer contactar o tal furriel e o tal alferes que conheceu em Có, quando era muito jovem, e deseja receber em Farim qualquer ex-militar português.

Muitos de nós tivemos casos destes, gente que conhecemos e de quem fomos amigos e que se "passou para o outro lado", ou já era. Natural, nas circunstâncias, como é natural agora que haja esta amizade, pois penso que ninguém combateu com ódio fundo, mas sim por razões e condicionalismos impostos.

Indami:

«Heheee.. o teu crioulo de uma forma geral esta óptimo, mas tem algo do crioulo de caboverde: dgenti, no crioulo da Guiné, é djinti ..heheeee. Mas tá bom.

Mais uma coisa,em crioulo da Guiné, não é ,mas sim Bu, pois é plural. Hehee...gramática.

"Fiquei feliz por saber que você conseguiu falar com meu irmão,embora nao ter conseguido falar com meu pai. Você não está conseguindo falar comigo,porque neste momento não estou na minha cidade(São Paulo),estou de férias em Vitória-Espírito Santo. E como é um outro Estado o meu número está indisponível,porque estou sem crédito. So estará disponivel quando eu tiver crédito.


"Por último desejo a você e a sua família UM FELIZ NATAL E UM BOM ANO NOVO.

"AL BARKA - Obrigado em língua Mandinga"

Guiné 63/74 - CCCXCIV: Al barka ou obrigado em mandinga (A. Marques Lopes)

Texto do A. Marques Lopes:

Caros camaradas:

Enviei ao Indami uma mensagem de Boas Festas, usando aquela que o Mário Dias nos mandou a nós. Ele respondeu-me como transcrevo em baixo. Mando-vos isto para realçar a maravilha que é podermos falar como amigos com gente daquela terra da Guiné. O Indami e a sua família são mandingas, mas ele não tem problemas em desejar Bom Natal.

O pai dele, Agostinho Indami, que fez 50 anos a 13 de Dezembro pp, foi, como já vos disse, governador do Oio de 2001 a 2004; antes da independência, muito jovem, portanto, esteve num curso na antiga União Soviética. Foi um quadro do PAIGC. É ele que quer contactar o tal furriel e o tal alferes que conheceu em Có, quando era muito jovem, e deseja receber em Farim qualquer ex-militar português.

Muitos de nós tivemos casos destes, gente que conhecemos e de quem fomos amigos e que se "passou para o outro lado", ou já era. Natural, nas circunstâncias, como é natural agora que haja esta amizade, pois penso que ninguém combateu com ódio fundo, mas sim por razões e condicionalismos impostos.

Indami:

«Heheee.. o teu crioulo de uma forma geral esta óptimo, mas tem algo do crioulo de caboverde: dgenti, no crioulo da Guiné, é djinti ..heheeee. Mas tá bom.

Mais uma coisa,em crioulo da Guiné, não é ,mas sim Bu, pois é plural. Hehee...gramática.

"Fiquei feliz por saber que você conseguiu falar com meu irmão,embora nao ter conseguido falar com meu pai. Você não está conseguindo falar comigo,porque neste momento não estou na minha cidade(São Paulo),estou de férias em Vitória-Espírito Santo. E como é um outro Estado o meu número está indisponível,porque estou sem crédito. So estará disponivel quando eu tiver crédito.


"Por último desejo a você e a sua família UM FELIZ NATAL E UM BOM ANO NOVO.

"AL BARKA - Obrigado em língua Mandinga"

21 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CCCXCIII: Bendito Cabral, entre as mandingas de Fá e as balantas de Bissaque


Guiné > Fá Mandinga > c. 1970 > Jorge Cabral entre as bajudas mandingas...

© Jorge Cabral (2005)


Luís,

Muito obrigado! Através do blogue, recordo. E sinto. Vejo os rostos dos camaradas, oiço os sorrisos das crianças, e até, calcula, consigo admirar de novo os belos seios das bajudas.

Peço permissão para pertencer à Tertúlia, oferecendo o pícaro de alguns episódios que vivi.

Porque estamos no Natal, recordas o teu de 69 e um ataque a Bissaque (1). Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho.

Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50.

Embora existisse uma estrada para Bissaque, o Marinho conduziu-nos por uma interminável bolanha, após a qual lá chegámos, obviamente muito depois do "inimigo" ter retirado. O ataque referido nos documentos oficiais, não passou de uma breve flagelação. Fui eu que relatei a ocorrência, e porque quem conta um conto... acrescentei- lhe alguns pormenores, (essa da intervenção de brancos deve ter sido ficção cabraliana), para assustar o Comandante de Bambadinca.

Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a Tabanca, numa acção sócio-erótica, a qual consistia numa "esfregação" mamária às belíssimas bajudas. Habituado às bajudas mandingas, verifiquei experimentalmente a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito étnico-mamário.

Afim de me redimir, em Janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 35 "corpinhos" (soutiens) no armazém Fama, sito à Calçada do García, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses. Coincidência?

Premonição? Lembro a perplexidade do empregado do armazém, quando lhe pedi os 35 soutiens de todos os tamanhos e cores.

Regressado à Guiné, em plena Tabanca de Fá Mandinga, organizei a festa do corpinho, para a alegria das bajudas, que envergaram o seu primeiro soutien.

Tivesse esta história acontecido nos dias de hoje, e certamente sentiria dificuldades no aeroporto, até porque os soutiens constituíam a minha única bagagem. Armas secretas? Indícios de terrorismo? Não sei mesmo, se não teria ido parar a Guantanamo.

Junto algumas fotografias, nas quais me podem apreciar com o meu fardamento habitual, ostentando os roncos contra o mau-olhado, e outras para compararem os respectivos seios, além da minha cara agora (2).

Caro companheiro, para ti e também para todos os que partilharam alegrias e tristezas na querida Guiné, os meus Votos de Festas Felizes.

Jorge Cabral (ex-alferes miliciano, comandante do Pel Caç Nat 53, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)

____________

Nota de L.G.

(1)"Nas duas semanas anteriores, o IN tinha desencadeado várias acções de intimidação contra as populações de Canxicame, Nhabijão Bedinca e Bissaque, a última das quais levada a efeito por um grupo enquadrado por brancos que retirou para a região de Bucol, cambando o RGeba [atravesando o Rio Geba de canoa, para norte]" (Excertos da História da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71]. Vd. post de 18 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXVII: O meu Natal de 1969 em Bambadincazinha (Luís Graça)

(2) Comentário do Humberto Reis sobre este "outro Cabral":

Jorginho:

Desculpem os outros Tertulianos, mas entre mim e o Dr. Jorge Cabral existe uma certa cumplicidade. Por coincidência ele é o advogado a quem eu recorro quando preciso de qualquer coisa das leis e, que me lembre, até hoje, paguei de honorários "manga de patacão", 2 ou 3 imperiais. É assim o Jorge Cabral para os amigos. Alguns dão a camisa mas com ele, se for preciso, levam tb. cuecas, meias, etc.

Agora dirigido-me a ti, meu malandro. Estava a ver que não entravas nesta Tertúlia de "periquitos" e "velhinhos" dos Guiné-Bissau. Tu, que até já voltaste, mais que uma vez, a Bissau (imperdoável ainda não teres visitado Fá Mandinga) colaborar com as autoridades locais para a implementação da nova Universidade, mal parecia não entrares nisto.

Já te tinha dito que até tinhas aqui os mapas a 1/50000 para descobrires o trilho para a morança da bajuda. Agora é só navegares.

UM BOM NATAL PARA TI E 2006 COM "MANGA" DE TUDO BOM.
Para todos os desejos de UMAS FESTAS FELIZES
Humberto Reis

PS - Depois das Festas vamos ter mais mapas da Guiné para arregalar os olhos. Não podem ser todos de uma só vez mas devagarinho vamos lá.

Guiné 63/74 - CCCXCIII: Bendito Cabral, entre as mandingas de Fá e as balantas de Bissaque


Guiné > Fá Mandinga > c. 1970 > Jorge Cabral entre as bajudas mandingas...

© Jorge Cabral (2005)


Luís,

Muito obrigado! Através do blogue, recordo. E sinto. Vejo os rostos dos camaradas, oiço os sorrisos das crianças, e até, calcula, consigo admirar de novo os belos seios das bajudas.

Peço permissão para pertencer à Tertúlia, oferecendo o pícaro de alguns episódios que vivi.

Porque estamos no Natal, recordas o teu de 69 e um ataque a Bissaque (1). Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho.

Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50.

Embora existisse uma estrada para Bissaque, o Marinho conduziu-nos por uma interminável bolanha, após a qual lá chegámos, obviamente muito depois do "inimigo" ter retirado. O ataque referido nos documentos oficiais, não passou de uma breve flagelação. Fui eu que relatei a ocorrência, e porque quem conta um conto... acrescentei- lhe alguns pormenores, (essa da intervenção de brancos deve ter sido ficção cabraliana), para assustar o Comandante de Bambadinca.

Bissaque era uma aprazível aldeia balanta. Logo nessa noite, à volta de uma fogueira, reparei na beleza das raparigas, tendo passado a frequentar semanalmente a Tabanca, numa acção sócio-erótica, a qual consistia numa "esfregação" mamária às belíssimas bajudas. Habituado às bajudas mandingas, verifiquei experimentalmente a superioridade dos seios balantas, tendo, e disso me penitencio, contribuído para um conflito étnico-mamário.

Afim de me redimir, em Janeiro de 1970, de férias em Lisboa, comprei 35 "corpinhos" (soutiens) no armazém Fama, sito à Calçada do García, junto ao Rossio, onde agora se reúnem os guineenses. Coincidência?

Premonição? Lembro a perplexidade do empregado do armazém, quando lhe pedi os 35 soutiens de todos os tamanhos e cores.

Regressado à Guiné, em plena Tabanca de Fá Mandinga, organizei a festa do corpinho, para a alegria das bajudas, que envergaram o seu primeiro soutien.

Tivesse esta história acontecido nos dias de hoje, e certamente sentiria dificuldades no aeroporto, até porque os soutiens constituíam a minha única bagagem. Armas secretas? Indícios de terrorismo? Não sei mesmo, se não teria ido parar a Guantanamo.

Junto algumas fotografias, nas quais me podem apreciar com o meu fardamento habitual, ostentando os roncos contra o mau-olhado, e outras para compararem os respectivos seios, além da minha cara agora (2).

Caro companheiro, para ti e também para todos os que partilharam alegrias e tristezas na querida Guiné, os meus Votos de Festas Felizes.

Jorge Cabral (ex-alferes miliciano, comandante do Pel Caç Nat 53, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)

____________

Nota de L.G.

(1)"Nas duas semanas anteriores, o IN tinha desencadeado várias acções de intimidação contra as populações de Canxicame, Nhabijão Bedinca e Bissaque, a última das quais levada a efeito por um grupo enquadrado por brancos que retirou para a região de Bucol, cambando o RGeba [atravesando o Rio Geba de canoa, para norte]" (Excertos da História da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71]. Vd. post de 18 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXVII: O meu Natal de 1969 em Bambadincazinha (Luís Graça)

(2) Comentário do Humberto Reis sobre este "outro Cabral":

Jorginho:

Desculpem os outros Tertulianos, mas entre mim e o Dr. Jorge Cabral existe uma certa cumplicidade. Por coincidência ele é o advogado a quem eu recorro quando preciso de qualquer coisa das leis e, que me lembre, até hoje, paguei de honorários "manga de patacão", 2 ou 3 imperiais. É assim o Jorge Cabral para os amigos. Alguns dão a camisa mas com ele, se for preciso, levam tb. cuecas, meias, etc.

Agora dirigido-me a ti, meu malandro. Estava a ver que não entravas nesta Tertúlia de "periquitos" e "velhinhos" dos Guiné-Bissau. Tu, que até já voltaste, mais que uma vez, a Bissau (imperdoável ainda não teres visitado Fá Mandinga) colaborar com as autoridades locais para a implementação da nova Universidade, mal parecia não entrares nisto.

Já te tinha dito que até tinhas aqui os mapas a 1/50000 para descobrires o trilho para a morança da bajuda. Agora é só navegares.

UM BOM NATAL PARA TI E 2006 COM "MANGA" DE TUDO BOM.
Para todos os desejos de UMAS FESTAS FELIZES
Humberto Reis

PS - Depois das Festas vamos ter mais mapas da Guiné para arregalar os olhos. Não podem ser todos de uma só vez mas devagarinho vamos lá.

Guiné 63/74 - CCCXCII: Fotos com história: Mansoa, 9 de Setembro de 1974

© Eduardo Ribeiro (2005)


Boa noite camaradas bloguistas,

Queria transmitir-vos que a foto publicada no nosso blogue, onde se vê um guerrilheiro/militar do PAIGC a içar a primeira bandeira da Guiné-Bissau, em Mansoa, em 9 de setembro de 1974, se encontra entre as 30 selecionadas para ganhar um concurso de fotografia, com o título: FOTOS COM HISTÓRIA - GUERRA, do Canal História, aqui na Internet.

Foi-me enviado um mail desse site, que diz o seguinte:

"Enhorabuena!!! Tu foto ha sido seleccionado como una de las 30 mejores Fotos con Historia. A partir de ahora, puedes encontrarla en la sección especial de nuestra web reservada a los finalistas donde podrás votar para que se convierta en una de las tres ganadoras. No te lo pienses, entra y vota. Puedes conseguir uno de los fantasticos premios que tenemos preparados. Mucha Suerte!!!"

Para ganhar o concurso é preciso que o pessoal vote em força.

Se acharem interessante visitem o tal concurso onde tem diversas fotos da Guiné, de camaradas nossos e já agora aproveitem para votar... eheheheheheheh.

Resta-me desejar Boa Noite a todos,
O PIRA DE MANSOA,
Eduardo Ribeiro

_____

Legenda, em espanhol, que acompanha a foto agora em concurso:

"Foto del ondear oficial de la 1ª bandera de Guinea-Bissau MANSÔA, 9 de septiembre de 1974.

"Con la revolución del 25 de Abril de 1974, se dio por terminada aquella que fue designada como Guerra de Ultramar, que Portugal trababa en África, en los tres conocidos frentes: Angola, Guinea y Mozambique.

"El 9 de septiembre de 1974, con la independencia de Guinea-Bissau, fue entregado el territorio al P.A.I.G.C., en una ceremonia oficial que tuvo lugar en el cuartel de Mansôa.

"Estuvieron presentes en esa ceremonia; la CCS del batallón 4612/74 comandada por el Mayor Ramos de Campos, el CMDT del mismo batallón – Cor. António C. Varino -, un grupo de combate, un grupo de pioneros, Maria Cabral (viuda de Amilcar Cabral) y el hijo, así como el comisario político - Manual Ndinga del P.A.I.G.C., y, por el C.E.M.E. del C.T.I.G. - el Ten. Cor. Fonseca Cabrinha.

"En la ceremonia estuvieron presentes también miles de nativos locales, de diversas etnias: papel, balantas, fulas, futa-fulas, mandingas, manjacos, etc., y decenas de periodistas de todo el mundo. La bandera portuguesa fue arriada por mí, en ese momento Furriel Miliciano de Operaciones Especiales - Eduardo José Magalhães Ribeiro.

"La primera bandera de Guinea-Bissau fue ondeada por un guerrillero/militar del P.A.I.G.C. De esta ceremonia tengo en mi casa 38 fotografías, pero existe una película de este acontecimiento histórico inserto en la serie televisiva: Século XX Português, de la SICnotícias – en el Episodio sobre la “Descolonización”, acompañado de una breve entrevista, que allí di, sobre los hechos vividos entonces".

Fonte: Fotos con Historia >

El ondear de la primera bandera de Guinea-Bissau
Mansôa/Guinea
9 de septiembre de 1974
Eduardo Ribeiro
Porto,
Categoría: Guerra

Guiné 63/74 - CCCXCII: Fotos com história: Mansoa, 9 de Setembro de 1974

© Eduardo Ribeiro (2005)


Boa noite camaradas bloguistas,

Queria transmitir-vos que a foto publicada no nosso blogue, onde se vê um guerrilheiro/militar do PAIGC a içar a primeira bandeira da Guiné-Bissau, em Mansoa, em 9 de setembro de 1974, se encontra entre as 30 selecionadas para ganhar um concurso de fotografia, com o título: FOTOS COM HISTÓRIA - GUERRA, do Canal História, aqui na Internet.

Foi-me enviado um mail desse site, que diz o seguinte:

"Enhorabuena!!! Tu foto ha sido seleccionado como una de las 30 mejores Fotos con Historia. A partir de ahora, puedes encontrarla en la sección especial de nuestra web reservada a los finalistas donde podrás votar para que se convierta en una de las tres ganadoras. No te lo pienses, entra y vota. Puedes conseguir uno de los fantasticos premios que tenemos preparados. Mucha Suerte!!!"

Para ganhar o concurso é preciso que o pessoal vote em força.

Se acharem interessante visitem o tal concurso onde tem diversas fotos da Guiné, de camaradas nossos e já agora aproveitem para votar... eheheheheheheh.

Resta-me desejar Boa Noite a todos,
O PIRA DE MANSOA,
Eduardo Ribeiro

_____

Legenda, em espanhol, que acompanha a foto agora em concurso:

"Foto del ondear oficial de la 1ª bandera de Guinea-Bissau MANSÔA, 9 de septiembre de 1974.

"Con la revolución del 25 de Abril de 1974, se dio por terminada aquella que fue designada como Guerra de Ultramar, que Portugal trababa en África, en los tres conocidos frentes: Angola, Guinea y Mozambique.

"El 9 de septiembre de 1974, con la independencia de Guinea-Bissau, fue entregado el territorio al P.A.I.G.C., en una ceremonia oficial que tuvo lugar en el cuartel de Mansôa.

"Estuvieron presentes en esa ceremonia; la CCS del batallón 4612/74 comandada por el Mayor Ramos de Campos, el CMDT del mismo batallón – Cor. António C. Varino -, un grupo de combate, un grupo de pioneros, Maria Cabral (viuda de Amilcar Cabral) y el hijo, así como el comisario político - Manual Ndinga del P.A.I.G.C., y, por el C.E.M.E. del C.T.I.G. - el Ten. Cor. Fonseca Cabrinha.

"En la ceremonia estuvieron presentes también miles de nativos locales, de diversas etnias: papel, balantas, fulas, futa-fulas, mandingas, manjacos, etc., y decenas de periodistas de todo el mundo. La bandera portuguesa fue arriada por mí, en ese momento Furriel Miliciano de Operaciones Especiales - Eduardo José Magalhães Ribeiro.

"La primera bandera de Guinea-Bissau fue ondeada por un guerrillero/militar del P.A.I.G.C. De esta ceremonia tengo en mi casa 38 fotografías, pero existe una película de este acontecimiento histórico inserto en la serie televisiva: Século XX Português, de la SICnotícias – en el Episodio sobre la “Descolonización”, acompañado de una breve entrevista, que allí di, sobre los hechos vividos entonces".

Fonte: Fotos con Historia >

El ondear de la primera bandera de Guinea-Bissau
Mansôa/Guinea
9 de septiembre de 1974
Eduardo Ribeiro
Porto,
Categoría: Guerra

20 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CCCXCI: Antologia (34): Mensagem de Natal de Amílcar Cabral (1966)


Guiné > 1966 > Mensagem de Natal de Amílcar Cabral, "encontrada num acampanhamento guerrilheiro durante um golpe de mão".

Fonte: Monteiro, R.; Farinha, L. - Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: Círculo de Leitores/Publicações D. Quixote. 1990. 116 (Com a devida vénia).

Selecção de Jorge Santos (2005). Transcrição da mensagem, dactilografada em papel timbrado de Le Secrétaire Génerale, PAIGC, Unidade e Luta:

"Mensagem

"Caro companheiro,

"Nesta quadra do ano, em que as famílias comemoram a sua existência e se renovam nos corações dos homens as esperanças numa vida melhor, tenho o prazer de vos dirigir saudações fraternais e combativas, em nome da direcção do nosso Partido e do nosso Povo.

"Somos a mesma família, porque enfrentamos juntos os mesmos sacrifícios, ao serviço duma existência digna para todas as famílias. Somos os mesmos homens, porque fecundamos as mesmas esperaças que, pela acção concreta, queremos transformar numa realidade nova - uma vida de liberdade, de paz e de progresso para todos os homens.

"A nossa marcha comum, num acto de solidariedade consciente e revolucionária , vale mais do que todas as palavras.

"Saúde e bom trabalho, companheiro!

"Fraternalmente, Amílcar Cabral. Dezembro 1966"

______

(*) Aproveito para infornar que o primeiro autor desta publicação, de grande valor documental, é o nosso amigo e camarada Renato Monteiro, ex-furriel miliciano da CART 2479 / CART 11, que esteve comigo em Contuboel em de Junho a meados de Julho de 1969. Reencontrámo-nos, ao fim de 36 anos, através deste blogue.

Guiné 63/74 - CCCXCI: Antologia (34): Mensagem de Natal de Amílcar Cabral (1966)


Guiné > 1966 > Mensagem de Natal de Amílcar Cabral, "encontrada num acampanhamento guerrilheiro durante um golpe de mão".

Fonte: Monteiro, R.; Farinha, L. - Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: Círculo de Leitores/Publicações D. Quixote. 1990. 116 (Com a devida vénia).

Selecção de Jorge Santos (2005). Transcrição da mensagem, dactilografada em papel timbrado de Le Secrétaire Génerale, PAIGC, Unidade e Luta:

"Mensagem

"Caro companheiro,

"Nesta quadra do ano, em que as famílias comemoram a sua existência e se renovam nos corações dos homens as esperanças numa vida melhor, tenho o prazer de vos dirigir saudações fraternais e combativas, em nome da direcção do nosso Partido e do nosso Povo.

"Somos a mesma família, porque enfrentamos juntos os mesmos sacrifícios, ao serviço duma existência digna para todas as famílias. Somos os mesmos homens, porque fecundamos as mesmas esperaças que, pela acção concreta, queremos transformar numa realidade nova - uma vida de liberdade, de paz e de progresso para todos os homens.

"A nossa marcha comum, num acto de solidariedade consciente e revolucionária , vale mais do que todas as palavras.

"Saúde e bom trabalho, companheiro!

"Fraternalmente, Amílcar Cabral. Dezembro 1966"

______

(*) Aproveito para infornar que o primeiro autor desta publicação, de grande valor documental, é o nosso amigo e camarada Renato Monteiro, ex-furriel miliciano da CART 2479 / CART 11, que esteve comigo em Contuboel em de Junho a meados de Julho de 1969. Reencontrámo-nos, ao fim de 36 anos, através deste blogue.

19 dezembro 2005

Guiné 63/74 - CCCXC: CCAÇ 2636 (Bafatá, 1970/71) (6): Mimos do PAIGC em Mansomine


Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > O João Varanda, junto à sede do BCAÇ 2856, "frente à casa da Dona Rosa Libanesa"...

Acrescente-se que o "café das libanesas" era, juntamente com o Restaurante "A Transmontana", um dos sítios mais populares na nossa época (CCAÇ 12, 1969/71), constituindo um verdadeiro porto de abrigo para quem vinha do mato...

© João Varanda (2005)

"À porta do célebre café das libanesas, filhas da D. Rosa. Sou amigo pessoal do filho, ex-ten. cor. paraquedista, que mora cá, em Poirtugal, em Linda A Velha, e também amigo de infância de um dos genros dela que mora aqui em Lisboa, e com o qual, por acaso, já tenho tido relações profissionais".


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 1996 >

O Humberto Reis, "à porta do célebre café das libanesas, filhas da D. Rosa". Acrescenta o autor: "Sou amigo pessoal do filho, ex-tenente coronel paraquedista, que mora cá, em Portugal, em Linda A Velha, e também amigo de infância de um dos genros dela que mora aqui em Lisboa, e com o qual, por acaso, já tenho tido relações profissionais".

© Humberto Reis (2005)

Texto do João Varanda (ex- furriel miliciano, CCAÇ 2636, Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70; Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71).


SECTOR DO CAOP - 2


A CCAÇ 2636 através da nota nº. 1107 de 2 de Abril de 1970 do Comando de Agrupamento Leste foi transferida para o Sector de Bafatá, ficando agregados, para efeitos administrativos, alojamento e alimentação, dois grupos de combate e os especialistas ao BCAÇ 2856. Os outros dois grupos de combate, para o mesmo efeito, ficaram agregados ao EREC [Esquadrão de Reconhecimento] 2640.

A CCAÇ 2636 ficou de intervenção ao Agrupamento Leste (que engloba 5 sectores), tendo dois grupos de combate, sido destacados para os destacamentos fronteiriços de Ualicunda e Sare Uale em 9 e 17 de Março de 1970, respectivamente. Os outros dois grupos de combate estacionados em Bafatá continuariam na actividade operacional, ora entrando em operações ora montando emboscadas.

Manteve-se assim o carácter permanente operacional. Assim, e no cumprimento da missão a que ficamos vinculados, iniciamos a actividade operacional com horário de vinte e quatro sob vinte e quatro horas.


OPERAÇÃO FAREJA MELHOR > 19-21 de Março de 1970


Tratou-se de um simples treino operacional, a fim de adaptar os grupos de combate àquelas andanças, contudo, também nos avisaram, que deveríamos ir atentos, pois que na Guiné, até dentro do quartel se corria perigo. Ainda que esse quartel se situasse em Bafatá.

Era fim de tarde, cerca das 19.30 horas, quando partimos de Bafatá para Fá Mandinga (sede leste da 1ª. Companhia dos Comandos Africanos ), localidade a cerca de cinquenta quilómetros de Bafatá.

O transporte foi feito em viaturas auto (Berliets) e cada uma levou vinte e quatro homens armados e equipados. O trajecto fez-se depressa. Não demoramos duas horas. Uma vez chegados, iniciamos a marcha em direcção ao local do “objectivo”, um simples patrulhamento com montagem de emboscada.

Seguimos por uma picada abandonada. Havia muito tempo que as viaturas do exército tinham deixado de a utilizar por causa das minas. No entanto, nós caminhamos por ela, sujeitando-nos a levar com uma mina pela frente. Felizmente não existiam, o que foi uma sorte, já que, de noite, não havia a mínima possibilidade de as detectar.

- Para treino operacional, é muito arriscado! - dizia o cabo António Alves de Medeiros (Machinho), um camarada que possuía já uma certa prática de guerra.
– O que vale é não irmos na frente! - retorqui eu – E segundo creio não será tanto o azar que iremos pôr os pés fora do local, onde os outros já pisaram!

A noite estava muito escura e nós progredimos agarrados uns aos outros para não nos perdermos. Um pequeno descuido e a coluna partir-se-ia e depois não haveria outro remédio senão esperar que o novo dia nascesse para nos voltarmos a encontrar. O sono começava a atormentar-me.

Caminhávamos há várias horas, ora avançando, ora parando. As esperas eram demasiado curtas para nos sentarmos, enquanto as progressões não passavam, por vezes, de mais de uma centena de metros, seguidos de nova paragem. Esta maneira de avançar era muito mais cansativa do que a progressão contínua e chegava a ser irritante.

Trás! … Bato com a cabeça nas costas do furriel Paiva e acordo. Vinha a dormir de pé. Nunca me passara pela mente que tal fosse possível. Agora, contudo, tinha tirado a prova. Mais uma que tenho para contar quando chegar à Metrópole, um episódio em que, muito possivelmente, ninguém vai acreditar. Se … chegar!

(...) A primeira fase da operação foi o patrulhamento à península sul com cambança em Temato – Manssomine – Sissau. Sem vestígios de passagem há quatro ou cinco dias de dezenas de elementos que se dirigiam a Noroeste. Nossas tropas pernoitaram emboscadas na região cota 17 bolanha de Dembel Jule. Amanheceu, com centenas de macacos – cães, fazendo uma algazarra tremenda e caminhando pela copa das árvores em saltos gigantescos. Nunca tinha visto macacos daquela raça.

Eram bichos enormes. Alguns quase do tamanho de homens e com os caninos desenvolvidos, semelhantes aos dos cães. Não pareciam nada felizes com aquela intromissão nos seus domínios, o que levou alguém do grupo a comentar ironicamente:
- Bolas, nem os macacos gostam de nós! …

Saímos da picada para um caminho de pé-posto, trilho muito batido. Via-se perfeitamente que passavam por ali, dezenas de pessoas por dia. Fiquei apreensivo porque, à partida nos tinham, dito que aquela zona era desabitada. E preocupado, indaguei do alferes Martins Ferreira.

– Ouça, meu alferes! O que pensa destes sinais? Serão da população, ou dos turras?
– Olha pá, tanto podem ser da população que a carta assinala lá mais para a frente, de guerrilheiros armados, ou ainda das duas coisas ao mesmo tempo. Aqui na Guiné não se sabe bem quem é guerrilheiro, nem quem não é, portanto o que tens a fazer é ires preparado para tudo. – E acrescentou:
- O seguro morreu de velho, não achas! … O kápa!
– Entendido.

A caminhada continuou em silêncio ainda por mais de meia hora até que o Comandante da Companhia, capitão Manuel Medina e Matos, mandou fazer alto e sair do trilho.

Íamos montar a enboscada a Dembel Jule. Afastámo-nos cerca de vinte metros da picada, ficando paralelos a esta. Fizemos uma zona de morte de mais de trezentos metros que reforçámos com um dispositivo de armadilhas eléctricas à base de granadas de mão, defensivas, e minas M 7. Estas eram accionadas por um “explosor”, logo que alguém se aproximava da nossa posição. Findo este trabalho que não levou mais de alguns minutos, recolhemos à mata e ficamos a aguardando.

(...) O calor começara a fazer-se sentir, já estávamos a 20 de Março / 70, segundo dia da operação e às 10.00 horas era quase insuportável, mesmo debaixo das árvores, o que, aliado ao cansaço produziu os seus efeitos. A tarde, mais de dois terços dos grupos de encontravam-se a dormir.

De repente em Dembel Jule, no fim do trilho avistámos três elementos inimigos, dois armados não reagiram fugiram em direcção ao rio, um no cimo de uma palmeira (Chefe de tabanca de Manssomine), controlada pelo PAIGC, foi capturado enquanto extraía vinho de palma.

A captura deste elemento só por si deu-nos saldo positivo desta operação, embora ficassemos paralisados pela surpresa, ao mesmo tempo completamente amedontrados.

Sem perder tempo continuamos a operação, patrulhando vários trilhos na região sul de Dembel Jule, na mata marginal direcção norte até cota 13 para 19, sem vestígios foi onde decidimos fazer uma refeição de ração de combate, para depois pernoitarmos.

Na manhã de 21 de Março de 1970 acordámos cedo, ao som de “costureirinhas” (PPSH) num matraquear infernal. Os projécteis cortavam ramos de árvore por cima das nossas cabeças ou ricocheteavam, levantando terra, ali mesmo na frente dos nossos olhos.

Nunca nos víramos num assado daqueles, era a hora da vingança do PAIGC. Todavia reagimos rápido e corri para detrás de um baga – baga que por sorte, se erguia ali perto. O suor escorria-me pela cara e sentia como que um aperto na garganta e no peito, à altura do coração.

A fogachada não parava e nem sequer diminuía de intensidade. Apontei a minha espingarda G - 3 para o local de onde me pareciam vir os disparos e carreguei no gatilho. A arma saltou-se nas mãos como se tivesse vida própria e três segundos depois, tinha esvaziado o carregador. O primeiro da guerra do leste, numa guerra em que eu ainda pensava ser a minha. Foram trinta e cinco minutos, debaixo de fogo ininterrupto, em que nenhum de nós conseguiu levantar a cabeça.

Do lado dos guerrilheiros do PAIGC chegava-nos uma algazarra tremenda. Chamavam-nos nomes e alguns nada abonatórios. Entre eles, havia alguém que, em bom português, nos insultava:
- Vão para a vossa terra, filhos da puta!...Enquanto andam aqui na guerra, as vossas mulheres, andam em Lisboa a fornicar com quem lhes apetece! …

Do nosso lado o Comandante da Companhia, sem sair detrás do enorme baga – baga, incitava ao ataque:
- Para a frente! Nós somos os melhores!...Agarrem-nos à mão, agarrem-nos à mão! Pago uma grade de cervejas a quem me trouxer um!

A resposta não se fez esperar. Alguém de entre nós gritou:
- Apanha-o tu, meu herói de merda!... De heróis mortos está o inferno cheio! … O capitão ficou pior que uma barata, mas, ao tentar indagar quem fora o engraçadinho, chocou com uma muralha de rostos fechados. Estávamos todos de acordo com o nosso camarada.

O fogo guerrilheiro acabou. De um momento para o outro, nem mais um tiro, e a mata voltou a mergulhar no mais absoluto silêncio. Parecia que nada se havia passado. Entretanto na Companhia, ia um verdadeiro pandemónio. Era difícil entender como nos deixamos surpreender daquele modo, estando emboscados, portanto com todas as vantagens do nosso lado. Fora um erro gravíssimo e, ao mesmo tempo estúpido, que nos custou caro e nos podia ter custado muito pior.

No chão, dois feridos bastantes graves, contorciam-se com dores e gemiam baixinho enquanto um enfermeiro lhes prestava os primeiros socorros.

Um com um tiro nas costas que só por milagre não lerpou. A bala atingira-o de raspão, passando-lhe por debaixo das costelas sem lhe atingir os pulmões, e saindo pelo ombro abrindo um enorme buraco.

O outro levara um tiro na mão direita e ficou com alguns dedos esfacelados. Ficaria deficiente para o resto da vida. A recuperação dos feridos tornara-se impossível de helicóptero, seria difícil aterrar no meio da mata, extremamente cerrada. Só restava uma solução. Regressar a Fá Mandinga com os feridos e de lá enviá-los de ambulância para o Hospital de Bafatá. Mas ao iniciar a marcha, novos problemas surgiram.

Faltava a secção do furriel Monteiro e os seus homens evaporaram-se sem deixar rasto.
Ficamos trespassados pela surpresa. Os nossos pensamentos eram unânimes naquele momento: - O furriel Monteiro deixara-se certamente apanhar pelos turras, com todos os seus homens. Que grande bronca! Como é que fora possível?

Ninguém se lembrava de o ter visto durante o combate, portanto devia ter sido aprisionado logo no início. Mas sendo assim, porque é que nem sequer gritara? …Entretanto o furriel Monteiro encontrava-se perdido na mata, com meia dúzia de homens. Não foram apanhados.

Fugiram simplesmente ao ouvir os primeiros tiros, abandonando o pelotão e levando atrás de si todos os homens sob o seu comando, pois estes ao ver o chefe cavar, não pensaram duas vezes e piraram-se com ele. O Comandante da Companhia estava resolvido a partir. Não podíamos ficar ali eternamente à espera, com dois feridos perdendo sangue, que enfraqueciam de momento a momento. Até Fá Mandinga eram mais de vinte quilómetros que teríamos de fazer a passo de tartaruga. O furriel Monteiro, conseguira estabelecer contacto rádio connosco. Ao ouvir a sua voz, através do emissor T.H.C. – 736, um suspiro de alivio.

Faltava agora que ele se juntasse a nós o que, numa situação de escuridão como aquela e sem qualquer ponto de referência, era pelo menos muito difícil.

Optámos pela maneira que nos pareceu mais fácil: disparámos espaçadamente alguns tiros para o ar, a fim de se poder orientar para a nossa posição.

Demorou mais de uma hora a chegar e com ele trazia outra vítima: O cabo Lagoa que, com o susto, perdera completamente a fala, que só passados mais de quatro meses recuperou. Esta fuga de um graduado da Companhia, logo na primeira operação na zona leste, deixou-nos muito desanimados e levou alguns de nós a pensar se, com homens assim, algum dia ganharíamos a guerra. Com a Companhia completa, iniciamos finalmente a marcha no regresso à bolanha de Sissau, cambança de Manssomine. Marcha penosa e lenta, pois um dos feridos teve de ser transportado às costas durante quase todo o caminho.

Demos por terminada a operação quando chegamos a Fá Mandinga cerca das 14.30 horas, completamente arrasados de nervos e cansaço, evacuando de seguida, os feridos para o Hospital de Bafatá.

Esta operação veio demonstrar-nos que os guerrilheiros do Movimento de Libertação , o PAIGC, não eram nada do que nos tinham feito acreditar na Metrópole, durante a instrução. Que não se borravam de medo a fugir dos Combatentes do Exército Português, mas que muito pelo contrário, nos atacavam e nos venciam com a maior das facilidades.

A Op Fareja Melhor serviu para compreender, que naquela guerra, nós iríamos ser mais patos do que caçadores.

Nota: Para a história da CCAÇ 2636 esta operação mereceu os seguintes comentários do Exmº. Comandante Interino do Batalhão de Caçadores 2856.:

“ Considera-se que a operação foi bem executada e conduzida. Oo Comandante da força executante, Capitão Miliciano de Infantaria Manuel Medina e Matos, evidenciou desde a fase de preparação excepcional interesse e entusiasmo pela operação e conduziu-a com nítido espírito de missão revelando larga experiência de comando de tropas em operações”.

Guiné 63/74 - CCCXC: CCAÇ 2636 (Bafatá, 1970/71) (6): Mimos do PAIGC em Mansomine


Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > O João Varanda, junto à sede do BCAÇ 2856, "frente à casa da Dona Rosa Libanesa"...

Acrescente-se que o "café das libanesas" era, juntamente com o Restaurante "A Transmontana", um dos sítios mais populares na nossa época (CCAÇ 12, 1969/71), constituindo um verdadeiro porto de abrigo para quem vinha do mato...

© João Varanda (2005)

"À porta do célebre café das libanesas, filhas da D. Rosa. Sou amigo pessoal do filho, ex-ten. cor. paraquedista, que mora cá, em Poirtugal, em Linda A Velha, e também amigo de infância de um dos genros dela que mora aqui em Lisboa, e com o qual, por acaso, já tenho tido relações profissionais".


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 1996 >

O Humberto Reis, "à porta do célebre café das libanesas, filhas da D. Rosa". Acrescenta o autor: "Sou amigo pessoal do filho, ex-tenente coronel paraquedista, que mora cá, em Portugal, em Linda A Velha, e também amigo de infância de um dos genros dela que mora aqui em Lisboa, e com o qual, por acaso, já tenho tido relações profissionais".

© Humberto Reis (2005)

Texto do João Varanda (ex- furriel miliciano, CCAÇ 2636, Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70; Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71).


SECTOR DO CAOP - 2


A CCAÇ 2636 através da nota nº. 1107 de 2 de Abril de 1970 do Comando de Agrupamento Leste foi transferida para o Sector de Bafatá, ficando agregados, para efeitos administrativos, alojamento e alimentação, dois grupos de combate e os especialistas ao BCAÇ 2856. Os outros dois grupos de combate, para o mesmo efeito, ficaram agregados ao EREC [Esquadrão de Reconhecimento] 2640.

A CCAÇ 2636 ficou de intervenção ao Agrupamento Leste (que engloba 5 sectores), tendo dois grupos de combate, sido destacados para os destacamentos fronteiriços de Ualicunda e Sare Uale em 9 e 17 de Março de 1970, respectivamente. Os outros dois grupos de combate estacionados em Bafatá continuariam na actividade operacional, ora entrando em operações ora montando emboscadas.

Manteve-se assim o carácter permanente operacional. Assim, e no cumprimento da missão a que ficamos vinculados, iniciamos a actividade operacional com horário de vinte e quatro sob vinte e quatro horas.


OPERAÇÃO FAREJA MELHOR > 19-21 de Março de 1970


Tratou-se de um simples treino operacional, a fim de adaptar os grupos de combate àquelas andanças, contudo, também nos avisaram, que deveríamos ir atentos, pois que na Guiné, até dentro do quartel se corria perigo. Ainda que esse quartel se situasse em Bafatá.

Era fim de tarde, cerca das 19.30 horas, quando partimos de Bafatá para Fá Mandinga (sede leste da 1ª. Companhia dos Comandos Africanos ), localidade a cerca de cinquenta quilómetros de Bafatá.

O transporte foi feito em viaturas auto (Berliets) e cada uma levou vinte e quatro homens armados e equipados. O trajecto fez-se depressa. Não demoramos duas horas. Uma vez chegados, iniciamos a marcha em direcção ao local do “objectivo”, um simples patrulhamento com montagem de emboscada.

Seguimos por uma picada abandonada. Havia muito tempo que as viaturas do exército tinham deixado de a utilizar por causa das minas. No entanto, nós caminhamos por ela, sujeitando-nos a levar com uma mina pela frente. Felizmente não existiam, o que foi uma sorte, já que, de noite, não havia a mínima possibilidade de as detectar.

- Para treino operacional, é muito arriscado! - dizia o cabo António Alves de Medeiros (Machinho), um camarada que possuía já uma certa prática de guerra.
– O que vale é não irmos na frente! - retorqui eu – E segundo creio não será tanto o azar que iremos pôr os pés fora do local, onde os outros já pisaram!

A noite estava muito escura e nós progredimos agarrados uns aos outros para não nos perdermos. Um pequeno descuido e a coluna partir-se-ia e depois não haveria outro remédio senão esperar que o novo dia nascesse para nos voltarmos a encontrar. O sono começava a atormentar-me.

Caminhávamos há várias horas, ora avançando, ora parando. As esperas eram demasiado curtas para nos sentarmos, enquanto as progressões não passavam, por vezes, de mais de uma centena de metros, seguidos de nova paragem. Esta maneira de avançar era muito mais cansativa do que a progressão contínua e chegava a ser irritante.

Trás! … Bato com a cabeça nas costas do furriel Paiva e acordo. Vinha a dormir de pé. Nunca me passara pela mente que tal fosse possível. Agora, contudo, tinha tirado a prova. Mais uma que tenho para contar quando chegar à Metrópole, um episódio em que, muito possivelmente, ninguém vai acreditar. Se … chegar!

(...) A primeira fase da operação foi o patrulhamento à península sul com cambança em Temato – Manssomine – Sissau. Sem vestígios de passagem há quatro ou cinco dias de dezenas de elementos que se dirigiam a Noroeste. Nossas tropas pernoitaram emboscadas na região cota 17 bolanha de Dembel Jule. Amanheceu, com centenas de macacos – cães, fazendo uma algazarra tremenda e caminhando pela copa das árvores em saltos gigantescos. Nunca tinha visto macacos daquela raça.

Eram bichos enormes. Alguns quase do tamanho de homens e com os caninos desenvolvidos, semelhantes aos dos cães. Não pareciam nada felizes com aquela intromissão nos seus domínios, o que levou alguém do grupo a comentar ironicamente:
- Bolas, nem os macacos gostam de nós! …

Saímos da picada para um caminho de pé-posto, trilho muito batido. Via-se perfeitamente que passavam por ali, dezenas de pessoas por dia. Fiquei apreensivo porque, à partida nos tinham, dito que aquela zona era desabitada. E preocupado, indaguei do alferes Martins Ferreira.

– Ouça, meu alferes! O que pensa destes sinais? Serão da população, ou dos turras?
– Olha pá, tanto podem ser da população que a carta assinala lá mais para a frente, de guerrilheiros armados, ou ainda das duas coisas ao mesmo tempo. Aqui na Guiné não se sabe bem quem é guerrilheiro, nem quem não é, portanto o que tens a fazer é ires preparado para tudo. – E acrescentou:
- O seguro morreu de velho, não achas! … O kápa!
– Entendido.

A caminhada continuou em silêncio ainda por mais de meia hora até que o Comandante da Companhia, capitão Manuel Medina e Matos, mandou fazer alto e sair do trilho.

Íamos montar a enboscada a Dembel Jule. Afastámo-nos cerca de vinte metros da picada, ficando paralelos a esta. Fizemos uma zona de morte de mais de trezentos metros que reforçámos com um dispositivo de armadilhas eléctricas à base de granadas de mão, defensivas, e minas M 7. Estas eram accionadas por um “explosor”, logo que alguém se aproximava da nossa posição. Findo este trabalho que não levou mais de alguns minutos, recolhemos à mata e ficamos a aguardando.

(...) O calor começara a fazer-se sentir, já estávamos a 20 de Março / 70, segundo dia da operação e às 10.00 horas era quase insuportável, mesmo debaixo das árvores, o que, aliado ao cansaço produziu os seus efeitos. A tarde, mais de dois terços dos grupos de encontravam-se a dormir.

De repente em Dembel Jule, no fim do trilho avistámos três elementos inimigos, dois armados não reagiram fugiram em direcção ao rio, um no cimo de uma palmeira (Chefe de tabanca de Manssomine), controlada pelo PAIGC, foi capturado enquanto extraía vinho de palma.

A captura deste elemento só por si deu-nos saldo positivo desta operação, embora ficassemos paralisados pela surpresa, ao mesmo tempo completamente amedontrados.

Sem perder tempo continuamos a operação, patrulhando vários trilhos na região sul de Dembel Jule, na mata marginal direcção norte até cota 13 para 19, sem vestígios foi onde decidimos fazer uma refeição de ração de combate, para depois pernoitarmos.

Na manhã de 21 de Março de 1970 acordámos cedo, ao som de “costureirinhas” (PPSH) num matraquear infernal. Os projécteis cortavam ramos de árvore por cima das nossas cabeças ou ricocheteavam, levantando terra, ali mesmo na frente dos nossos olhos.

Nunca nos víramos num assado daqueles, era a hora da vingança do PAIGC. Todavia reagimos rápido e corri para detrás de um baga – baga que por sorte, se erguia ali perto. O suor escorria-me pela cara e sentia como que um aperto na garganta e no peito, à altura do coração.

A fogachada não parava e nem sequer diminuía de intensidade. Apontei a minha espingarda G - 3 para o local de onde me pareciam vir os disparos e carreguei no gatilho. A arma saltou-se nas mãos como se tivesse vida própria e três segundos depois, tinha esvaziado o carregador. O primeiro da guerra do leste, numa guerra em que eu ainda pensava ser a minha. Foram trinta e cinco minutos, debaixo de fogo ininterrupto, em que nenhum de nós conseguiu levantar a cabeça.

Do lado dos guerrilheiros do PAIGC chegava-nos uma algazarra tremenda. Chamavam-nos nomes e alguns nada abonatórios. Entre eles, havia alguém que, em bom português, nos insultava:
- Vão para a vossa terra, filhos da puta!...Enquanto andam aqui na guerra, as vossas mulheres, andam em Lisboa a fornicar com quem lhes apetece! …

Do nosso lado o Comandante da Companhia, sem sair detrás do enorme baga – baga, incitava ao ataque:
- Para a frente! Nós somos os melhores!...Agarrem-nos à mão, agarrem-nos à mão! Pago uma grade de cervejas a quem me trouxer um!

A resposta não se fez esperar. Alguém de entre nós gritou:
- Apanha-o tu, meu herói de merda!... De heróis mortos está o inferno cheio! … O capitão ficou pior que uma barata, mas, ao tentar indagar quem fora o engraçadinho, chocou com uma muralha de rostos fechados. Estávamos todos de acordo com o nosso camarada.

O fogo guerrilheiro acabou. De um momento para o outro, nem mais um tiro, e a mata voltou a mergulhar no mais absoluto silêncio. Parecia que nada se havia passado. Entretanto na Companhia, ia um verdadeiro pandemónio. Era difícil entender como nos deixamos surpreender daquele modo, estando emboscados, portanto com todas as vantagens do nosso lado. Fora um erro gravíssimo e, ao mesmo tempo estúpido, que nos custou caro e nos podia ter custado muito pior.

No chão, dois feridos bastantes graves, contorciam-se com dores e gemiam baixinho enquanto um enfermeiro lhes prestava os primeiros socorros.

Um com um tiro nas costas que só por milagre não lerpou. A bala atingira-o de raspão, passando-lhe por debaixo das costelas sem lhe atingir os pulmões, e saindo pelo ombro abrindo um enorme buraco.

O outro levara um tiro na mão direita e ficou com alguns dedos esfacelados. Ficaria deficiente para o resto da vida. A recuperação dos feridos tornara-se impossível de helicóptero, seria difícil aterrar no meio da mata, extremamente cerrada. Só restava uma solução. Regressar a Fá Mandinga com os feridos e de lá enviá-los de ambulância para o Hospital de Bafatá. Mas ao iniciar a marcha, novos problemas surgiram.

Faltava a secção do furriel Monteiro e os seus homens evaporaram-se sem deixar rasto.
Ficamos trespassados pela surpresa. Os nossos pensamentos eram unânimes naquele momento: - O furriel Monteiro deixara-se certamente apanhar pelos turras, com todos os seus homens. Que grande bronca! Como é que fora possível?

Ninguém se lembrava de o ter visto durante o combate, portanto devia ter sido aprisionado logo no início. Mas sendo assim, porque é que nem sequer gritara? …Entretanto o furriel Monteiro encontrava-se perdido na mata, com meia dúzia de homens. Não foram apanhados.

Fugiram simplesmente ao ouvir os primeiros tiros, abandonando o pelotão e levando atrás de si todos os homens sob o seu comando, pois estes ao ver o chefe cavar, não pensaram duas vezes e piraram-se com ele. O Comandante da Companhia estava resolvido a partir. Não podíamos ficar ali eternamente à espera, com dois feridos perdendo sangue, que enfraqueciam de momento a momento. Até Fá Mandinga eram mais de vinte quilómetros que teríamos de fazer a passo de tartaruga. O furriel Monteiro, conseguira estabelecer contacto rádio connosco. Ao ouvir a sua voz, através do emissor T.H.C. – 736, um suspiro de alivio.

Faltava agora que ele se juntasse a nós o que, numa situação de escuridão como aquela e sem qualquer ponto de referência, era pelo menos muito difícil.

Optámos pela maneira que nos pareceu mais fácil: disparámos espaçadamente alguns tiros para o ar, a fim de se poder orientar para a nossa posição.

Demorou mais de uma hora a chegar e com ele trazia outra vítima: O cabo Lagoa que, com o susto, perdera completamente a fala, que só passados mais de quatro meses recuperou. Esta fuga de um graduado da Companhia, logo na primeira operação na zona leste, deixou-nos muito desanimados e levou alguns de nós a pensar se, com homens assim, algum dia ganharíamos a guerra. Com a Companhia completa, iniciamos finalmente a marcha no regresso à bolanha de Sissau, cambança de Manssomine. Marcha penosa e lenta, pois um dos feridos teve de ser transportado às costas durante quase todo o caminho.

Demos por terminada a operação quando chegamos a Fá Mandinga cerca das 14.30 horas, completamente arrasados de nervos e cansaço, evacuando de seguida, os feridos para o Hospital de Bafatá.

Esta operação veio demonstrar-nos que os guerrilheiros do Movimento de Libertação , o PAIGC, não eram nada do que nos tinham feito acreditar na Metrópole, durante a instrução. Que não se borravam de medo a fugir dos Combatentes do Exército Português, mas que muito pelo contrário, nos atacavam e nos venciam com a maior das facilidades.

A Op Fareja Melhor serviu para compreender, que naquela guerra, nós iríamos ser mais patos do que caçadores.

Nota: Para a história da CCAÇ 2636 esta operação mereceu os seguintes comentários do Exmº. Comandante Interino do Batalhão de Caçadores 2856.:

“ Considera-se que a operação foi bem executada e conduzida. Oo Comandante da força executante, Capitão Miliciano de Infantaria Manuel Medina e Matos, evidenciou desde a fase de preparação excepcional interesse e entusiasmo pela operação e conduziu-a com nítido espírito de missão revelando larga experiência de comando de tropas em operações”.

Guiné 63/74 - CCCLXXXIX: CCAÇ 2636 (Có, 1969/70) (5): Gastando o primeiro par de botas e as letras do alfabeto

Texto João Varanda (ex-furriel


Os primeiros quatros meses de actividade operacional da CCAÇ 2636 (Có, 1969/70)


No Sector do CAOP - 1

A Companhia chegou a Có em 4 de Novembro de 1969, tendo no dia seguinte participado na protecção aos trabalhos em curso na estrada Có-Pelundo, ao lado da CCAÇ 2584, já com alguma experiência.

A protecção aos trabalhos de estrada (intitulada Operação Via Livre), para além do desgaste físico, exigia às tropas empenhadas longas progressões a pé, quilómetros de picagem. Teve contudo um aspecto altamente positivo: a familiarização com a mata e com a técnica de pesquisa de engenhos explosivos, pelo processo da picagem.

Viu-se, assim, a Companhia empenhada nos trabalhos de estrada sob um horário rigoroso: saída às 5,00 horas da manh, chegada por volta das 14,00 horas com reflexos inevitáveis no regime alimentar pela quase sobreposição das suas refeições básicas diárias.

Passado algum tempo a Companhia com alguma experiência de mato, entrou na actividade propriamente dita (Operações de contra – penetração)


Em 1969


Operação Via Livre – Início em 5 de Novembro de 1969 – Duração 1 dia.

Finalidade - Evitar que o IN fizesse investidas contra os trabalhadores e consequentemente atrasar os trabalhos de estrada.

Devido ao adiantado dos trabalhos e para protecção das máquinas de Engenharia esta CCAÇ, conforme a progressão dos trabalhos, embarracou em Tel e mais tarde em Dimpel.

Esta Operação foi constituída pelas seguintes acções:


Valongo - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có - Bula, região Ponta Valentim – Plama. Início às 5,30 horas da manhã do dia 5 de Novembro de 1969. Resultado: Sem contacto


Velhice - Idem, região Plama. Início 5,30 horas da manhã do dia 6 de Novembro de 1969. Resultado: Sem contacto


Vigarizar - Protecção trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região Plataforma. Início 5,30 horas da manhã do dia 7 de Novembro de 1969.
Resultado: Sem contacto


Vírgula - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Bula, região Plama – Bieio . Início 5,30 horas da manhã do dia 8 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto


Vintém - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có - Pelundo região 4,5 km a Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 9 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Vantagem - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, cruzamento estrada velha com estrada nova. Início 2,00 horas da manhã do dia 11 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Viscoso - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 0,5 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas do dia 11 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Vitrola - Idem, região 5,600 km. Oeste de Có. Início 5,30 do dia 12 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto


Vitrina - idem, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 12 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto

Valéria - Idem, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 13 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Valete - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem no cruzamento da estrada velha com estrada nova. Início 2,00 horas da manhã do dia 13 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto


Virgem - Patrulha e emboscada nas tabancas: Bedasse – Bejimate – Cassama – Cantintanha e Utanque. Início 2,00 da manhã do dia 13 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto


Varsóvia - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem região de Tel, região cerca de 2,00 km. Sudoeste de Catora. Início 2,00 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto

Valente - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto

Viena - Patrulha e emboscada na região cerca de 3,00 km. Nordeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vácuo - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem na região a cerca de 11,00 km. Oeste de Có. Início 2,00 horas da manhã do dia 15 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Vacina – Protecção dos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 8,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 15 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vagão - Segurança afastada região de Tel a cerca de 1,5 km. A Sudoeste de Catora. Início 2,00 horas da manhã do dia 16 de Novembro de 1969.
Resultado: Sem contato

Vagabundo - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 16 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Valgio - Patrulha nocturna na região a cerca de 2,00 km. Nordeste de Có. Início 19,30 horas da noite do dia 16 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Valioso - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem região cerca de 10,00 km. Oeste de Có. Início 2,00 horas da manhã do dia 17 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Valido - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 17 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vicente - Protecção descontínua cerca de 4,00 km. Nordeste de Catora, região de Tel. Início 3,00 horas da manhã do dia 18 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto.

Violino - Protecção aos trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo e picada pedreira de Tel, região cerca de 8,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 18 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vocação - Patrulha e emboscada região Calonque. Início 5.30 horas da manhã 30 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vitreo - Patrulha e emboscada região cerca de 4,00 km. Norte de Catora (Quedanga). Início 5,30 horas do dia 1 de Dezembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vitelo - Patrulha e emboscada região Quete e Dulequene. Início 5,30 horas da manhã do dia 2 de dezembro de 1969. Resultado: sem contacto

... A rotina da actividade operacional lá continuou ao longo do mês de Dezembro, sem contacto nem vestígios do IN:

Vitelo (2), Verruga (3), Vagoneta (4), Vagem (4), Vapor (9), Varal (11), Varandas (12), Via Livre 25 (13), Vareira (14) , Varina (20), Varredoura (24)...

E em 1970, a CCAÇ continuou o seu suplício de Sísifo, com mais patrulhas e emboscadas, em acções sempre designadas, obsessivamente, por termos começados por V:


Vaselina - Patrulha e emboscada região de Tel. Início 6,00 horas do dia 1 de Janeiro de 1970.
Resultado: sem contacto.

Vassalagem- Patrulha e emboscada região de Tel. Início 6.00 horas da manhã do dia 3 de Janeiro de 1970. Resultado: sem contacto.

Vaticano - Patrulha região Pelundo 4B8. Início 5,30 horas do dia 4 de Janeiro de 1970.
Resultado: sem contacto


Intercalada com a protecção da estrada, viu-se a CCAÇ 2636 empenhada em operações de contra penetração:

Operação Dália Velha

– Realizada em 9, 10 e 11 de Janeiro de 1970.

Comandante Capitão Miliciano de Infantaria: Manuel Medina e Matos.

Finalidade: Bater toda a Península de Quedanga – Pieme, procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos IN na região.

Evolução da Acção: A força iniciou a progressão para o ponto de referência 309, inflectiu para o ponto 306, iniciando uma batida para Norte (área de Quedanga) onde emboscou os trilhos que dão acesso à mesma.

A força caminhou para o ponto de referência 307, onde se encontrou um acampamento IN, já destruído pelas NT na região de Pelundo 5F – 6 – 63 junto à bolanha. Depois de ter pernoitado no referido ponto, a força caminhou para o ponto de referência 309, deste para o 308 onde detectou um acampamento IN, com 13 palhotas e abandonado no máximo há 3 dias, na região Pelundo 5 – G5 – 65.

Iniciada a busca foram encontrados diversos documentos, utensílios vários e 125 cartuchos de 9 m/m escondidos nos ramos das palmeiras. Depois da busca feita, a força iniciou a progressão para o ponto de referência 311 e daí para a base em Dimpel em fim de missão sem contacto.

Depois da operação realizada esta mereceu as seguintes considerações feitas pelo Exmº. Comandante das Forças Territoriais de Có:

"A operação foi bem dirigida, cumprindo-se o planeamento anteriormente estabelecido".
Também mereceu as seguintes considerações do Exmº. Comandante do CAOP 1:

"Não se oferecem comentários ao planeamento e à execução da operação. O Comandante da força conduziu a acção com determinação e tenacidade cumprindo o planeamento e explorando os indícios detectados".


Mas as acções continuaram em Janeiro de 1970: Veículo (13), Verbo (19), Velhaco (20), Velhinha (20), Veneno (24), Venera (26), Venida (27), Verbena (30)... E em Fevereiro: Verdugo (4), Vermute (10), Verniz (11), Vertical (14), Vertigem (19), Vegetal (21), Vespa (21)...

Entretanto, parece que se esgotou a letra V e recorreu-se à úlima do alfabeto, o Z:

Zelar - Protecção aos trabalhos de reparação de bolanha em Ponta Luís Cabral. Início 7,00 horas da manhã do dia 25 de Fevereiro de 1970.

Apenas na acção Velhaco (Patrulha com emboscada na região da Peconha – Bacar, com início pelas 4,30 horas da manhã do dia 20 de Janeiro de 1970) houve um contacto ligeiro com o inimigo: em sinal de registo da nossa passagem, o IN saudou-nos com uma rajada de costureirinha... Agradecemos e ripostamos com umas boas morteiradas de morteiro 60.

Operação Incrível Almadense

Realizada em 22, 23 e 24 de Janeiro de 1970.

Comandante – Manuel Medina e Matos – Capitão Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península de Quedanga – Pieme, procurando detectar e anular quaisquer elementos inimigos que se revelem e destruir todos os meios de vida.
Evolução da Acção: A força iniciou a progressão em 22 de Janeiro de 1970 às 4,00 horas da manhã em direcção ao ponto de referência 306. Eram 11,00 horas quando foi detectado o acampamento inimigo assaltado pelas NT. na operação “Cesário Verde” (C.Caç. 2584). Foi passada uma rápida busca durante a qual foram detectados 5 buracos cobertos onde estavam enterrados elementos inimigos. Mais tarde a força emboscou o trilho Quedanga – Pieme. No dia seguinte caminhou para os pontos de referência 307,308, e 309 e daí para a base de Có em fim de missão sem contacto.

Após esta operação a mesma mereceu as seguintes considerações do Comandante das forças territoriais de Có:

“Operação bem dirigida “. Notou-se a preocupação de reconhecer antigos acampamentos, na procura de novos indícios de presença do inimigo.

Nota: Esta operação deu-nos um gozo especial, já que eramos periquitos atrevidos, pois no ponto 307 onde encontramos um acampamento inimigo já destruído pelas nossas tropas na região de Pelundo 5F-6-63 junto à bolanha, foi local e serviu para pernoitarmos (sinal de desprezo pelas tropas do PAIGC), mas deu para perceber que o grupo inimigo era reduzido uma vez que este se encontrava entre quatro palmeiras e coberto por tarrafo e parte do nosso grupo de combate pernoitou fora daquele palco.

Operação Nunca Falha

Realizada em 30 e 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro de 1970.

Comandante: Manuel Medina e Matos, Capitão Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos inimigos na região.

Evolução da acção: A força saiu de Có para o ponto de referência 337 e daí para o ponto de referência 336 (Peconha). Desta ponto (Peconha) a força saiu para o ponto 335 indo emboscar próximo à bolanha no ponto 333. Levantada a emboscada e depois de contornada a bolanha a força atingiu o ponto 331 indo pernoitar a 1 km. a Norte de Bacar. No dia seguinte a força seguiu para Bacar onde emboscou os trilhos Bacar – Peconha, Bacar – Beloi – Có e a cambança para Dulaquete.

Pelas 15,00 horas a força seguiu para Igate depois de Beloi onde emboscou. No dia seguinte pelas 6,00 da manhã a força seguiu para Có em fim de missão sem contacto.
Depois da operação realizada esta mereceu as seguintes considerações feitas pelo Exmº. Comandante das Forças Terrestes de Có:

"A operação foi bem conduzida cumprindo-se o planeamento anteriormente realizado, tendo o Comandante da CCAÇ 2636 demonstrado mais uma vez determinação e tenacidade no cumprimento da missão".


Operação Melhor Êxito

Realizada em 15, 16 e 17 de Fevereiro de 1970.

Comandante: Luís Mendes Alferes Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha.

Evolução da acção: A força saiu de Có e dirigiu-se para o ponto de referência 329, seguiu para Bacar onde emboscou os trilhos Bacar – Peconha e Bacar – Beloi – Có.

Seguiu depois para Igate onde emboscou o trilho Igate – Peconha, no dia seguinte dirigiu-se para os pontos de referência 336,335 e 334 onde emboscou a cambança para Ponta Matar. Levantada a emboscada a força deslocou-se para Sul e em Beloi emboscou o trilho Có – Beloi – Bacar. No dia seguinte dirigiu-se para Có em fim de missão sem contacto.

Resultado: sem contacto


Operação Ovo Grande

Realizada em 25, 26 e 27 de Fevereiro de 1970.

Comandante Manuel Medina e Matos – Cap. Milº. de Infª.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha, procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos Inimigos na região.

Evolução da acção: A força saiu de Có para o ponto de referência 333 onde emboscou a cambança para Ponta Matar. Depois de levantada a emboscada, a força circundou o Norte da Península, seguiu para o Sul de Bacar onde montou nova emboscada junto à bifurcação dos carreiros que vêm da Peconha e Beloi., pelas 19.00 horas a força seguiu para Igate onde pernoitou. No dia seguinte a força deslocou-se para a cambança da Peconha onde montou nova emboscada. Levantada a mesma a força progrediu até à Bolanha e contornou a Península até ao ponto de referência 329. Pelas 19.30 horas a força emboscou o carreiro Có – Beloi – Bacar e no dia seguinte pelas 6.00 horas a força dirigiu-se para o Aquartelamento de Có em fim de missão sem contacto.

A actuação da Companhia de Caçadores 2636 no Sector da AOP – 1 mereceu a seguinte citação elogiosa do Exmº. Comandante do BCAÇ 2884 transcrita na Ordem de Serviço nº. 51 de 2 de Março do BCAÇ 2884:

“Que muito me apraz distinguir todo o pessoal da C.Caç. 2636, pela disciplina, preparação militar, espírito de sacrifício e dedicação demonstrada em todas as missões, serviços e actividade operacional intensa em que foi empenhada durante a sua permanência temporária de 4 meses na zona de Có.

"Constituída por um conjunto de graduados briosos comandados por um Capitão do Quadro de Complemento, desembaraçado, muito dedicado, leal, perfeitamente enquadrado e compenetrado da missão que superiormente lhe fora determinada, a C. Caç. 2636, pelo seu aprumo militar, valor cívico e moral e muito há a esperar em novas missões em que for encarregada”. A presente citação foi considerada como sendo dada pelo CAOP – 1 na sua Ordem de Serviço nº. 8 de 21 de Março de 1970.

Assim foram passados quatro meses, onde por terra fomos a tudo quanto era sítio. Sem conta os kms. percorridos. Gastámos o primeiro par de botas, e no dia 2 Abril de 1970 partimos para nova aventura: o Sector Leste – Bafatá esperava por nós.

Guiné 63/74 - CCCLXXXIX: CCAÇ 2636 (Có, 1969/70) (5): Gastando o primeiro par de botas e as letras do alfabeto

Texto João Varanda (ex-furriel


Os primeiros quatros meses de actividade operacional da CCAÇ 2636 (Có, 1969/70)


No Sector do CAOP - 1

A Companhia chegou a Có em 4 de Novembro de 1969, tendo no dia seguinte participado na protecção aos trabalhos em curso na estrada Có-Pelundo, ao lado da CCAÇ 2584, já com alguma experiência.

A protecção aos trabalhos de estrada (intitulada Operação Via Livre), para além do desgaste físico, exigia às tropas empenhadas longas progressões a pé, quilómetros de picagem. Teve contudo um aspecto altamente positivo: a familiarização com a mata e com a técnica de pesquisa de engenhos explosivos, pelo processo da picagem.

Viu-se, assim, a Companhia empenhada nos trabalhos de estrada sob um horário rigoroso: saída às 5,00 horas da manh, chegada por volta das 14,00 horas com reflexos inevitáveis no regime alimentar pela quase sobreposição das suas refeições básicas diárias.

Passado algum tempo a Companhia com alguma experiência de mato, entrou na actividade propriamente dita (Operações de contra – penetração)


Em 1969


Operação Via Livre – Início em 5 de Novembro de 1969 – Duração 1 dia.

Finalidade - Evitar que o IN fizesse investidas contra os trabalhadores e consequentemente atrasar os trabalhos de estrada.

Devido ao adiantado dos trabalhos e para protecção das máquinas de Engenharia esta CCAÇ, conforme a progressão dos trabalhos, embarracou em Tel e mais tarde em Dimpel.

Esta Operação foi constituída pelas seguintes acções:


Valongo - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có - Bula, região Ponta Valentim – Plama. Início às 5,30 horas da manhã do dia 5 de Novembro de 1969. Resultado: Sem contacto


Velhice - Idem, região Plama. Início 5,30 horas da manhã do dia 6 de Novembro de 1969. Resultado: Sem contacto


Vigarizar - Protecção trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região Plataforma. Início 5,30 horas da manhã do dia 7 de Novembro de 1969.
Resultado: Sem contacto


Vírgula - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Bula, região Plama – Bieio . Início 5,30 horas da manhã do dia 8 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto


Vintém - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có - Pelundo região 4,5 km a Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 9 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Vantagem - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, cruzamento estrada velha com estrada nova. Início 2,00 horas da manhã do dia 11 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Viscoso - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 0,5 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas do dia 11 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Vitrola - Idem, região 5,600 km. Oeste de Có. Início 5,30 do dia 12 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto


Vitrina - idem, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 12 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto

Valéria - Idem, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 13 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Valete - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem no cruzamento da estrada velha com estrada nova. Início 2,00 horas da manhã do dia 13 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto


Virgem - Patrulha e emboscada nas tabancas: Bedasse – Bejimate – Cassama – Cantintanha e Utanque. Início 2,00 da manhã do dia 13 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto


Varsóvia - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem região de Tel, região cerca de 2,00 km. Sudoeste de Catora. Início 2,00 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto

Valente - Protecção aos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto

Viena - Patrulha e emboscada na região cerca de 3,00 km. Nordeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 14 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vácuo - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem na região a cerca de 11,00 km. Oeste de Có. Início 2,00 horas da manhã do dia 15 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Vacina – Protecção dos trabalhos de capinagem na estrada Có – Pelundo, região cerca de 8,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 15 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vagão - Segurança afastada região de Tel a cerca de 1,5 km. A Sudoeste de Catora. Início 2,00 horas da manhã do dia 16 de Novembro de 1969.
Resultado: Sem contato

Vagabundo - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 16 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Valgio - Patrulha nocturna na região a cerca de 2,00 km. Nordeste de Có. Início 19,30 horas da noite do dia 16 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Valioso - Segurança afastada aos trabalhos de capinagem região cerca de 10,00 km. Oeste de Có. Início 2,00 horas da manhã do dia 17 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.


Valido - Protecção trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo região cerca de 6,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 17 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vicente - Protecção descontínua cerca de 4,00 km. Nordeste de Catora, região de Tel. Início 3,00 horas da manhã do dia 18 de Novembro de 1969.
Resultado: sem contacto.

Violino - Protecção aos trabalhos de capinagem estrada Có – Pelundo e picada pedreira de Tel, região cerca de 8,00 km. Oeste de Có. Início 5,30 horas da manhã do dia 18 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vocação - Patrulha e emboscada região Calonque. Início 5.30 horas da manhã 30 de Novembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vitreo - Patrulha e emboscada região cerca de 4,00 km. Norte de Catora (Quedanga). Início 5,30 horas do dia 1 de Dezembro de 1969. Resultado: sem contacto.

Vitelo - Patrulha e emboscada região Quete e Dulequene. Início 5,30 horas da manhã do dia 2 de dezembro de 1969. Resultado: sem contacto

... A rotina da actividade operacional lá continuou ao longo do mês de Dezembro, sem contacto nem vestígios do IN:

Vitelo (2), Verruga (3), Vagoneta (4), Vagem (4), Vapor (9), Varal (11), Varandas (12), Via Livre 25 (13), Vareira (14) , Varina (20), Varredoura (24)...

E em 1970, a CCAÇ continuou o seu suplício de Sísifo, com mais patrulhas e emboscadas, em acções sempre designadas, obsessivamente, por termos começados por V:


Vaselina - Patrulha e emboscada região de Tel. Início 6,00 horas do dia 1 de Janeiro de 1970.
Resultado: sem contacto.

Vassalagem- Patrulha e emboscada região de Tel. Início 6.00 horas da manhã do dia 3 de Janeiro de 1970. Resultado: sem contacto.

Vaticano - Patrulha região Pelundo 4B8. Início 5,30 horas do dia 4 de Janeiro de 1970.
Resultado: sem contacto


Intercalada com a protecção da estrada, viu-se a CCAÇ 2636 empenhada em operações de contra penetração:

Operação Dália Velha

– Realizada em 9, 10 e 11 de Janeiro de 1970.

Comandante Capitão Miliciano de Infantaria: Manuel Medina e Matos.

Finalidade: Bater toda a Península de Quedanga – Pieme, procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos IN na região.

Evolução da Acção: A força iniciou a progressão para o ponto de referência 309, inflectiu para o ponto 306, iniciando uma batida para Norte (área de Quedanga) onde emboscou os trilhos que dão acesso à mesma.

A força caminhou para o ponto de referência 307, onde se encontrou um acampamento IN, já destruído pelas NT na região de Pelundo 5F – 6 – 63 junto à bolanha. Depois de ter pernoitado no referido ponto, a força caminhou para o ponto de referência 309, deste para o 308 onde detectou um acampamento IN, com 13 palhotas e abandonado no máximo há 3 dias, na região Pelundo 5 – G5 – 65.

Iniciada a busca foram encontrados diversos documentos, utensílios vários e 125 cartuchos de 9 m/m escondidos nos ramos das palmeiras. Depois da busca feita, a força iniciou a progressão para o ponto de referência 311 e daí para a base em Dimpel em fim de missão sem contacto.

Depois da operação realizada esta mereceu as seguintes considerações feitas pelo Exmº. Comandante das Forças Territoriais de Có:

"A operação foi bem dirigida, cumprindo-se o planeamento anteriormente estabelecido".
Também mereceu as seguintes considerações do Exmº. Comandante do CAOP 1:

"Não se oferecem comentários ao planeamento e à execução da operação. O Comandante da força conduziu a acção com determinação e tenacidade cumprindo o planeamento e explorando os indícios detectados".


Mas as acções continuaram em Janeiro de 1970: Veículo (13), Verbo (19), Velhaco (20), Velhinha (20), Veneno (24), Venera (26), Venida (27), Verbena (30)... E em Fevereiro: Verdugo (4), Vermute (10), Verniz (11), Vertical (14), Vertigem (19), Vegetal (21), Vespa (21)...

Entretanto, parece que se esgotou a letra V e recorreu-se à úlima do alfabeto, o Z:

Zelar - Protecção aos trabalhos de reparação de bolanha em Ponta Luís Cabral. Início 7,00 horas da manhã do dia 25 de Fevereiro de 1970.

Apenas na acção Velhaco (Patrulha com emboscada na região da Peconha – Bacar, com início pelas 4,30 horas da manhã do dia 20 de Janeiro de 1970) houve um contacto ligeiro com o inimigo: em sinal de registo da nossa passagem, o IN saudou-nos com uma rajada de costureirinha... Agradecemos e ripostamos com umas boas morteiradas de morteiro 60.

Operação Incrível Almadense

Realizada em 22, 23 e 24 de Janeiro de 1970.

Comandante – Manuel Medina e Matos – Capitão Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península de Quedanga – Pieme, procurando detectar e anular quaisquer elementos inimigos que se revelem e destruir todos os meios de vida.
Evolução da Acção: A força iniciou a progressão em 22 de Janeiro de 1970 às 4,00 horas da manhã em direcção ao ponto de referência 306. Eram 11,00 horas quando foi detectado o acampamento inimigo assaltado pelas NT. na operação “Cesário Verde” (C.Caç. 2584). Foi passada uma rápida busca durante a qual foram detectados 5 buracos cobertos onde estavam enterrados elementos inimigos. Mais tarde a força emboscou o trilho Quedanga – Pieme. No dia seguinte caminhou para os pontos de referência 307,308, e 309 e daí para a base de Có em fim de missão sem contacto.

Após esta operação a mesma mereceu as seguintes considerações do Comandante das forças territoriais de Có:

“Operação bem dirigida “. Notou-se a preocupação de reconhecer antigos acampamentos, na procura de novos indícios de presença do inimigo.

Nota: Esta operação deu-nos um gozo especial, já que eramos periquitos atrevidos, pois no ponto 307 onde encontramos um acampamento inimigo já destruído pelas nossas tropas na região de Pelundo 5F-6-63 junto à bolanha, foi local e serviu para pernoitarmos (sinal de desprezo pelas tropas do PAIGC), mas deu para perceber que o grupo inimigo era reduzido uma vez que este se encontrava entre quatro palmeiras e coberto por tarrafo e parte do nosso grupo de combate pernoitou fora daquele palco.

Operação Nunca Falha

Realizada em 30 e 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro de 1970.

Comandante: Manuel Medina e Matos, Capitão Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos inimigos na região.

Evolução da acção: A força saiu de Có para o ponto de referência 337 e daí para o ponto de referência 336 (Peconha). Desta ponto (Peconha) a força saiu para o ponto 335 indo emboscar próximo à bolanha no ponto 333. Levantada a emboscada e depois de contornada a bolanha a força atingiu o ponto 331 indo pernoitar a 1 km. a Norte de Bacar. No dia seguinte a força seguiu para Bacar onde emboscou os trilhos Bacar – Peconha, Bacar – Beloi – Có e a cambança para Dulaquete.

Pelas 15,00 horas a força seguiu para Igate depois de Beloi onde emboscou. No dia seguinte pelas 6,00 da manhã a força seguiu para Có em fim de missão sem contacto.
Depois da operação realizada esta mereceu as seguintes considerações feitas pelo Exmº. Comandante das Forças Terrestes de Có:

"A operação foi bem conduzida cumprindo-se o planeamento anteriormente realizado, tendo o Comandante da CCAÇ 2636 demonstrado mais uma vez determinação e tenacidade no cumprimento da missão".


Operação Melhor Êxito

Realizada em 15, 16 e 17 de Fevereiro de 1970.

Comandante: Luís Mendes Alferes Miliciano de Infantaria.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha.

Evolução da acção: A força saiu de Có e dirigiu-se para o ponto de referência 329, seguiu para Bacar onde emboscou os trilhos Bacar – Peconha e Bacar – Beloi – Có.

Seguiu depois para Igate onde emboscou o trilho Igate – Peconha, no dia seguinte dirigiu-se para os pontos de referência 336,335 e 334 onde emboscou a cambança para Ponta Matar. Levantada a emboscada a força deslocou-se para Sul e em Beloi emboscou o trilho Có – Beloi – Bacar. No dia seguinte dirigiu-se para Có em fim de missão sem contacto.

Resultado: sem contacto


Operação Ovo Grande

Realizada em 25, 26 e 27 de Fevereiro de 1970.

Comandante Manuel Medina e Matos – Cap. Milº. de Infª.

Finalidade: Bater toda a Península da Peconha, procurando detectar e aniquilar quaisquer elementos Inimigos na região.

Evolução da acção: A força saiu de Có para o ponto de referência 333 onde emboscou a cambança para Ponta Matar. Depois de levantada a emboscada, a força circundou o Norte da Península, seguiu para o Sul de Bacar onde montou nova emboscada junto à bifurcação dos carreiros que vêm da Peconha e Beloi., pelas 19.00 horas a força seguiu para Igate onde pernoitou. No dia seguinte a força deslocou-se para a cambança da Peconha onde montou nova emboscada. Levantada a mesma a força progrediu até à Bolanha e contornou a Península até ao ponto de referência 329. Pelas 19.30 horas a força emboscou o carreiro Có – Beloi – Bacar e no dia seguinte pelas 6.00 horas a força dirigiu-se para o Aquartelamento de Có em fim de missão sem contacto.

A actuação da Companhia de Caçadores 2636 no Sector da AOP – 1 mereceu a seguinte citação elogiosa do Exmº. Comandante do BCAÇ 2884 transcrita na Ordem de Serviço nº. 51 de 2 de Março do BCAÇ 2884:

“Que muito me apraz distinguir todo o pessoal da C.Caç. 2636, pela disciplina, preparação militar, espírito de sacrifício e dedicação demonstrada em todas as missões, serviços e actividade operacional intensa em que foi empenhada durante a sua permanência temporária de 4 meses na zona de Có.

"Constituída por um conjunto de graduados briosos comandados por um Capitão do Quadro de Complemento, desembaraçado, muito dedicado, leal, perfeitamente enquadrado e compenetrado da missão que superiormente lhe fora determinada, a C. Caç. 2636, pelo seu aprumo militar, valor cívico e moral e muito há a esperar em novas missões em que for encarregada”. A presente citação foi considerada como sendo dada pelo CAOP – 1 na sua Ordem de Serviço nº. 8 de 21 de Março de 1970.

Assim foram passados quatro meses, onde por terra fomos a tudo quanto era sítio. Sem conta os kms. percorridos. Gastámos o primeiro par de botas, e no dia 2 Abril de 1970 partimos para nova aventura: o Sector Leste – Bafatá esperava por nós.