10 fevereiro 2006

Guiné 63/74 - DXVII: Cufar, a Bissalanca do Sul (Moura Ferreira)

Luís

Há um lapso no último post, Guiné 63/74 - DXVI: O Seni Candé da minha CCAÇ 6 (Moura Ferreira)... Trata-se da indicação relativa à localização de Cufar.

De facto, aquele a que me tenho sempre referido é Cufar Novo, a nordeste de Catió, mas que sempre foi conhecido apenas como Cufar (Há, de facto, outro, na região de Mansia).

Este aquatelamento foi ali iniciado em Fevereiro de 1965 pela CCAÇ 763, do Cap Costa Campos e dos Alferes Miguel e Avilez (de quem me lembro). Quase todos os dias recebia flagelações a partir da mata de Camaiupa, onde se manteve até Nov/66, quando foi substituída pela minha CCAÇ 1621.

Foi sempre, pelo menos durante os anos em que ali estive, a Base Aérea do Sul. Era uma alternativa a Bissalanca, quando se processavam grandes operações no Sul da Guiné. Havia ali sempre grande movimentação de aeronaves, incluindo Dakotas, Paraquedistas e Comandos.

No meu tempo tive ali como visita, que nunca esquecerei, a 3ª Companhia de Comandos, do Cap Alves Cardoso. Penso que foi a única a quem foi permitido pelo Ministro do Exército usar boina camuflada.

A pista de aviação tinha cerca de 800m, começava junto aos abrigos e terminava na mata.

Em determinada altura (finais de 66) recordo-me que um Fiat pilotado por um Sarg Ajudante Piloto, de que não me recordo o nome, mas de quem guardo a imagem da lividez do rosto e da testa perlada de gotas de suor frio, quando saiu do cockpit, ao parar o Caça, junto ao arame farpado, com o motor parado.

Foi-nos dito que aquela façanha de um Fiat, naquelas condições, baixar em uma pista daquela dimensão e de terra batida, não plana mas em lomba, apenas poderia ter sido efectuada por aquele militar.

Mas perguntarão por que carga de água teria ali baixado o Fiat? Eu explico. Nessa altura a Mata do Cantanhez era um Santuário do Turras, onde sabiamos haver todas as estruturas desde as de ensino, às médicas e outras (abrigos muito bem construídos e talvez antiaéreas). Por essa razão, era habitual e frequente, por vezes diariamente, efectuarem-se bombardeamentos aéreos nessa zona. Nós em Cufar ficávamos a ver o espetáculo do outro lado do Rio Cumbidjã, que como poderão verificar no mapa era absolutamente possível.

Ora numa dessas operações de bombardeamento aconteceu o motor do Fiat a que me referi, parou à vertical do Cantanhez. Aquele avião ao que me é dado saber parece que a cair é uma pedra, mas o tal Sarg. Ajudante, consegui trazê-lo, se assim se pode dizer, a planar até à pista, quando deveria regressar a Bissau. E fê-lo nos limites, pois ainda rapou as copas das árvores, no inicio da pista com o trem de aterragem.

Claro que para sair dali a aeronave teve que ser desmanchada e levado às peças para ser remontado em Bissau. Esta situação ainda permitiu que alguns de nós, incluindo eu, fossem desenfiados até à Capital fazer uma visitinha à 5ª Rep. para saber novidades.

No meio disto tudo ainda nos rimos e não só de alegria pelo desfecho da ocorrência, mas também pelo facto de como estávamos sem receber correio há muito tempo (seguramente 2 semanas, o que já era uma eternidade) quando o pessoal viu o Fiat a baixar todos correram ao seu encontro gritando de satisfação e para dar conhecimento aos mais distraídos de que Vem aí o correio

Espero ter esclarecido e ao mesmo tempo contribuído com uma estória para o nosso convívio.
Um abraço.

Hugo Moura Ferreira

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