17 março 2006

Guiné 63/74 - DCXXXIX: Estórias cabralianas (7): Alfero poi catota noba

Guiné-Bissau > 2005 > Bajuda no banho. © José Teixeira (2006)


Simplesmente genial: este camarada, se não existisse, tinha que ser inventado, para compôr ou completar o nosso ramalhete, a nossa caserna, a nossa tertúlia, o grupo (cada vez maior e cada vez mais fantástico) dos amigos e camaradas da Guiné que se reune, virtualmente, todos os dias, sob o espírito, aberto, sadio, maroto, provocador, lúcido, irreverente, desconcertante, descomplexado ... deste Blogue-fora-nada...

Este homem é o Cabral, o Jorge, o nosso Jorge Cabral, ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, que esteve destacado, há muitas luas, nos idos tempos de 1969/71, em Fá Mandinga e depois em Missirá... Na Província portuguesíssima da Guiné, longe do Vietname... Hoje, República da Guiné-Bissau, país independente, de língua oficial portuguesa...

Dele já aqui eu disse (e penso que é o maior elogio que posso fazer dele, na qualidade de seu velho amigo e de fã das suas estórias), que, para além de oficial miliciano, era homem grande, pai, patrão, chefe de tabanca, conselheiro, amigo do PAIGC, poeta, antropólogo, feiticeiro, cherno, mauro, médico, sexólogo, advogado e não sei que mais, um verdadeiro Lawrence da Guiné, que os pares de Bambadinca chegaram a recear (uns, os amigos) ou a desejar (outros, os seus inimigos) a sua total cafrealização... Inimigos é uma força de expressão: em boa verdade, nunca lhe conheci nenhum...

O Jorge mandou-me outra (a sétima) das suas estórias malandras (sic) com o recado (expresso) de "animar as hostes". Ficamos a conhecer outro dos seus múltiplos (e insuspeitados) talentos: desta vez, consertador de catotas... Obrigado, Jorge!


Cabral, Salvador das Bajudas Desfloradas

Finda a comissão, calculem (!), fui louvado. O Despacho do Exmo. Comandante do CAOP Dois referia, entre outros elogios, a minha “habilidade para lidar com a tropa africana e populações”, a qual me havia “granjeado grande prestígio”.

Esquecido, porém, foi o essencial – evitei a dezenas de Bajudas o repúdio matrimonial e a consequente devolução do preço. Essa tão meritória actividade, sim, teria merecido, não um simples louvor, mas uma medalha…

Entre Fulas, Mandingas e Beafadas, as mulheres eram compradas, alcançando-se verbas elevadas. Cheguei a arbitrar casamentos, cujo dote atingiu os trinta contos! Claro que era exigida a virgindade, que às vezes havia desaparecido… Era então que o Alfero odjo grosso era procurado para remediar o que parecia irremediável.

Quanto ao teste pré-matrimonial, a cargo das mulheres grandes, que utilizavam um ovo(!), a questão resolvia-se, com alguns pesos.

O mais difícil era a prova do sangue no lençol, que devia ser exibido no dia seguinte à cerimónia. Equacionado o problema, adoptei uma solução que sabia já ter sido usada entre outras gentes com sucesso. Comprei em Bafatá pequenas esponjas, as quais embebidas em sangue de galinha, e metidas no local apropriado deram um resultadão.

Não houve mais Bajuda que não casasse em total e absoluta virgindade e confesso que me dava um certo gozo assistir às manifestações de júbilo dos viris maridos, no dia seguinte aos casamentos, no meio da algazarra da Tabanca.

Espalhada a minha fama, acorreram noivas de todo o lado. Ponderei mesmo montar um gabinete especializado, tendo chegado a escrever um folheto publicitário a informar que Alfero poi catota noba, dam trezbintim.

© Jorge Cabral (2006)

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