17 março 2006

Guiné 63/74 - DCXXXVIII: O espírito de união dos operacionais: uma coluna de socorro à malta da CCAÇ 12



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Antiga Estrada Xime - Bambadinca > 1997 > A antiga Ponte do Rio Undunduma, vista da nova estrada Xime-Bambadinca.

Foto: © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor de Bambadinca)


Pergunta o João Tunes:

"E nunca vos aconteceu darem convosco, perante os sinais longínquos de um ataque a um aquartelamento próximo mas de outra companhia e outro batalhão, a encolherem os ombros e a dizerem "a malta de X... está a enfardar" (...metendo para dentro a frase-chave calada: "foda-se, antes eles que nós!")?

Comentário de L.G.:

Pois é, João, quantas vezes, à noite em Bambadinca, fumando um cigarro, descontraídos, ou de copo de uísque na mão, nas traseiras do aquartelamento sobranceiro à bolanha, não assistimos ao fogo de artifício, ao longe, tentando advinhar quem eram os desgraçados que estavam a levar porrada, o tipo de granadas que explodiam, os quilómetros que distavam do nosso relativo conforto!... Sem nada fazer ou poder fazer, é certo... Nessas noites tínhamos pelo menos a certeza de poder dormir numa cama com lençóis lavados, na nossa cama... Era dia (ou noite) de folgar as costas, de poupar o coirão...

Mas também é verdade que eramos capazes de pegar na trouxa e zarpar, em socorro de camaradas em perigo, mesmo à noite. Podíamnos contar alguns episódios: lembro-me, por exemplo, de um coluna de socorro a Nhabijões, justamente quando eu lá estava destacado e houve uma alerta de turra na tabanca! (reordenada)... Aqui vai um outro episódio, contado pelo Humberto Reis:

" [Foto da] Antiga Ponte do Rio Udunduma, captada da ponte nova, na estrada que liga Bambadinca ao Xime. Neste destacamento estava permanente um Grupo de Combate da CCAÇ 12, que vivia em buracos como as toupeiras (rodava todas as semanas). Ou melhor dizendo: eram três apartamentos subterrâneos tipo T Zero...

"Com este destacamento passou-se um episódio que diz bem do carácter que presidia à união de todos os operacionais (operacionais eram aqueles que iam para o mato e as sentiam assobiar e não os que viviam no bem bom, dentro dos arames farpados, e que nunca sentiram o medo de levar um tiro).

"Um domingo à noite estávamos a jantar na messe [, em Bambadinca], nesse dia calhou-me estar dentro do arame, e de repente começámos a ouvir rebentamentos para os lados da ponte. Pensámos que era o destacamento que estava a embrulhar e automaticamente nos levantámos (eu e mais alguns até estávamos vestidos à civil), fomos a correr aos respectivos quartos buscar as armas e quando chegámos à parada já lá estavam alguns Unimog com os respectivos condutores à espera (ninguém lhes tinha dito nada mas a ideia foi a mesma - é a malta da ponte a embrulhar, temos de os ir socorrer ).

"Até um dos morteiros 81 levámos e aí vai o Fur Mil Lopes, do Pelotão de Morteiros com uma esquadra - o Lopes, natural de Angola (tão bem organizada que era a nossa administração militar, que o colocaram na Guiné!).

"Felizmente, quando chegámos à ponte, verificámos que não era aí, mas sim dois Km mais à frente, na tabanca de Amedalai, pelo que seguimos até lá. [Amedalai ficava a caminho do Xime, antes da temível Ponta Coli]...

"Escusado será dizer que quando o IN notou que chegaram reforços desarmou a tenda, fez a mala e foi-se embora"...

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