21 março 2006

Guiné 63/74 - DCXLVI: Para compreender o conflito de Casamança (Jorge Neto)

Guiné-Bissau > "A população da zona fronteiriça de S. Domingos, norte da Guiné-Bissau, está a fugir da região. Os confrontos que ocorreram na madrugada e manhã de hoje [17 de Março de 2006] entre os rebeldes separatistas do sul do Senegal (MFDC) e as forças guineenses estão a fazer aumentar a apreensão no norte do país" (JN)...

Mais uma vez, a população guineense - as mulheres, as crianças, os velhos, os mais pobres e os mais indefesos - têm de fugir das suas casas, por causa das rivalidades dos senhores da guerra... Infelizmente, na origem deste conflito estão causas remotas ou condições antecedentes a que os governos portugueses e franceses da época colonial, que (re)desenharam regiões inteiras a régua e esquadro, não serão alheios (LG)...

Com a devida vénia: Fonte: Africanidades, blogue do nosso amigo Jorge Neto, membro da nossa tertúlia:

17.3.06 > Conflito de Casamança


Os confrontos entre forças guineenses e rebeldes de Casamança são cíclicos. Acontecem sempre que o Exército da Guiné tem a dirigi-lo alguém hostil à guerrilha, como acontece neste momento. Tagmé Na Wai, chefe de Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau tem um passado de lutas com o movimento rebelde.

Mas nem sempre foram hostis as relações entre as autoridades guineenses e a guerrilha. A Guiné já foi um dos principais fornecedores de armamento ao Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MFDC). Diversos relatórios de política internacional asseguram que foi o tráfico de armamento de Bissau para a região do sul do Senegal que despoletou a guerra civil que opôs Nino Vieira a Ansumane Mané.

A guerrilha casamancence reclama, no essencial, a independência do território; um pedaço de terra do tamanho do Alentejo, encravado entre a Gâmbia e a Guiné-Bissau.

O movimento surgiu em 1982 pela mão de um ex-padre católico. Os diversos acordos de paz assinados desde há 24 anos não conseguiram colocar fim ao conflito mais antigo da África Ocidental e um dos mais antigos de toda a África.

Na sua actuação, os rebeldes servem-se da permeabilidade da fronteira da Guiné com o Senegal. Os guerrilheiros usam este facto e o isolamento da região, para fugir às autoridades dos dois países. Por detrás da disputa do território de Casamança há questões económicas: a costa marítima possui importantes reservas petrolíferas. Mas há também questões culturais: os casamancences não se assumem como senegaleses porque desde logo falam outras línguas, o djola, língua étnica, e o crioulo, herança da passagem portuguesa por ali até finais do século 19.

Jorge Neto

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