14 abril 2006

Guiné 63/74 - DCCVII: Força, Zé, contra o tabaco marchar, marchar (5) (David Guimarães)

1. Texto do David Guimarães:

A ajuda para deixar de fumar (que coisa chata mesmo!): muita vontade mesmo e nunca por nunca mais pegar nele, no cigarro...

Não sei se serve - um dia alguém me tinha dito que o ti-no-nim (ambulância a tocar) dava uma preciosa ajuda ao abandono do tabaco... Foi mesmo assim que eu consegui: um dia fui parar ao hospital com 6,5 de hemoglobina... Nunca mais peguei no cigarro...

Mas que custa, custa, muito mesmo... Bem, nenhum médico me proibiu, eu é que achei giro deixar de fumar. Curado do hospital da maleita que me chegou, aí vou para casa... Ena, cigarro, não senhor, eu podia, eu queria e eu era forte...

Bem, não dormi uns dias, acordava em sobressaltos, enfim, aos dias 24 de cada mês dava-me cada crise de ansiedade ... Poça, e durou bastante tempo!!!

Vale a pena, a saúde nem sei se ganhei mais, mas uma coisa garanto: fiquei a respirar bem melhor mas só ao fim de um ano é que comecei a ver os resultados... Enrouquecemos, etc., etc., e depois tudo passa.... O cheirinho do cigarro que o meu filho fumava, ui, que me sabia tão bem... Mas não pequei mais e valeu a pena.... É que durante o processo de limpeza tens estes inconvenientes ...

Em religião, para quem acredita, há uma máxima de Cristo no perdão: "Vai e não voltes a pecar".

Eu digo para o Zé: "Vai e não voltes a fumar"... Bom conselho... de quem, como eu, que fumou até aos 47 anos, seguidinhos. E olha que logo bem cedo comecei: com 14 anos já tinha autorização expressa por escrito para fumar no colégio onde eu andava...

Se ajuda alguma coisa, valeu a pena; se não ajudou, paciência... Mas a história é simples, não fomos feitos com nenhuma chaminé na cabeça, para que havemos de fazer de nosso nariz e boca chaminés... à força ?

Um abraço Guimarães.


2. Novo texto do David Guimarães:

Mais uma ajuda, agora volto a ser operacional, vamos para a guerra... Uma das coisas que fiz, mal cheguei ao mato, foi saber onde estavam os cigarros... Muito bem, tomámos conta e haviam lá uns cigarritos ainda da CART [ 2413] que íamos render... Maravilha, dava para quem fumava... Cigarros Porto e Português Suave... Verdade mesmo: não estou a falar de futebol, falo dos cigarros que na altura encontrei no Xitole... picados já pela humidade (enfim, enfim, fumava-se tudo!)....

Rara excepção - mas sempre quando se ia dar um passeio pelo mato... de caçadeira G3, ração reforçada de combate tipo E... E, claro, sempre uns dois ou três macitos de cigarros no bolso... O cantil cheio de água, onde já se tinha metido uma patilha de halozone (creio que é assim que se escreve) e depois uma pastilha antigosto que ia tirar aquele gosto a cloro com que a água ficava, do desinfetante...

Uma preocupação de retirar daquela refeição - aquelas geleias... sim senhor, nunca levei... Não que nem gostasse mas o raio das formigas também gostavam e depois não me deixavam em paz...

Também o cigarro teve uma acção pedagócica de não agressão - eu sempre que ia passear á tabanca lá levava os cigarros no bolso para dar um à mulher do chefe de Tabanca, outro a outra e ainda mais um ao chefe...

- Manga de bom Furrié!
- Jamtum - (a pronúncia é esta, não sei se era assim escrito)...

E pronto, uma conversa e toca a colocar o crioulo em dia.... E Furrié manga de bom - isso interessava: enquanto bom, era bem recebido, mau eu nada ganharia... E era mesmo manga de bom: para me dizerem isso outra vez, mais cigarros se leva para eles.... Quem sabe se algum cigarro substituiu uma bala na minha cabeça no meio do mato... É que lá, eles deveriam me conhecer e bem... Deveriam não, conheciam mesmo, pois eram eles que pela noite viviam juntos de nós ...

Pronto, como posso eu dizer mal do cigarro? Mas vale a pena deixar de fumar, sim. E só sente quem já fumou, mas que custa deixar custa e, cuidado, é que depois para suprir a falta às vezes apetece beber mais um copo ou umas imperiais ou finos (conforme Sul ou Norte de Portugal...) Essa é a pura verdade....

Um abraço.

David Guimarães

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